aTo FaLhO
"A livre criação muitas vezes não está onde se supõe: adquire força ao se infiltrar nos interstícios das proibições, das exigências, dos imperataivos exteriores, para neutralizá-los" (Jorge Coli)
quinta-feira, fevereiro 28, 2019
Você tem certeza? Simplesmente deixará partir? Sei que você sabe o segredo. Não se trata só de atração ou de paixão ou até mesmo do mais cobiçado dos sentimentos. Não é só a mim que você renuncia, é a nós. Transcendemos espaço e tempo. Idealmente, estivemos sempre aqui, povoando os sonhos dos enamorados. Estamos no fim da jornada. Superamos a angústia, a tristeza, o descaso. Enganamos a morte.
Somos o amor que falta ao mundo. Ao nos abandonar, estará abandonando toda a humanidade. Tem certeza?
24/02/2019
sexta-feira, janeiro 18, 2019
Pueril
Criança diz: "posso fazer carinho no cachorro?". Adulto não fala carinho. Pede para passar a mão.
Criança faz perguntas existenciais. Se o interlocutor não for sensível à altura, que se recolha em seu silencio. A crianca cria suas proprias respostas, ressignifica sua experiência. Talvez encontre alguem que ainda vê beleza num grão de areia.
Criança não tem amarras. Seu pensamento , é livre. Atem-se ao momento, sem esforço. O futuro é brincar.
Mas sua paz é roubada quando ela entra na escola. O mundo, antes experenciado como um todo, é fracionado em disciplinas e a curiosidade amputada pela necessidade de acertar. O dever de casa macula o ludico e a crianca se depara com preocupacões outrora inexistentes. Sua singularidade é olvidada, dado que o professor, atrelado às demandas institucionais, fica impossibilitado de identifica-la e acolhe-la.
Aprender para vida se dá na interação com o mundo que nos cerca. A sala de aula enquadra, limita. Lá, o ensino volta-se para o bom desempenho nos processos seletivos, ainda que falte uma década para sua realização.
É de Rousseau a máxima "A infância é o sono da razão". Despertamos cedo demais.
Criança faz perguntas existenciais. Se o interlocutor não for sensível à altura, que se recolha em seu silencio. A crianca cria suas proprias respostas, ressignifica sua experiência. Talvez encontre alguem que ainda vê beleza num grão de areia.
Criança não tem amarras. Seu pensamento , é livre. Atem-se ao momento, sem esforço. O futuro é brincar.
Mas sua paz é roubada quando ela entra na escola. O mundo, antes experenciado como um todo, é fracionado em disciplinas e a curiosidade amputada pela necessidade de acertar. O dever de casa macula o ludico e a crianca se depara com preocupacões outrora inexistentes. Sua singularidade é olvidada, dado que o professor, atrelado às demandas institucionais, fica impossibilitado de identifica-la e acolhe-la.
Aprender para vida se dá na interação com o mundo que nos cerca. A sala de aula enquadra, limita. Lá, o ensino volta-se para o bom desempenho nos processos seletivos, ainda que falte uma década para sua realização.
É de Rousseau a máxima "A infância é o sono da razão". Despertamos cedo demais.
quinta-feira, janeiro 17, 2019
Prudência
Precisamos aguardar os eleitores do Bozo se darem conta da imbecilidade cometida. Se forem provocados, permanecerão passionais e irredutíveis.
Narcisicos, dificilmente reconhecerão o próprio erro, a responsabilidade pelo desmonte do pais. Mas podem admitir que foram enganados, ludibriados, vitimas do fascismo e da pos-verdade
A hora há de chegar. Enquanto isso, resistimos e aprimoramos nossa tolerância, critica e conhecimento.
Quando chegar o momento, acolheremos os "dissidentes" e o "Mito" não passará de um devaneio indigesto.
Que os dias de treva nos tornem mais humanos.
Narcisicos, dificilmente reconhecerão o próprio erro, a responsabilidade pelo desmonte do pais. Mas podem admitir que foram enganados, ludibriados, vitimas do fascismo e da pos-verdade
A hora há de chegar. Enquanto isso, resistimos e aprimoramos nossa tolerância, critica e conhecimento.
Quando chegar o momento, acolheremos os "dissidentes" e o "Mito" não passará de um devaneio indigesto.
Que os dias de treva nos tornem mais humanos.
sábado, janeiro 12, 2019
terça-feira, dezembro 25, 2018
Eu a amo! (reloaded)
Foi numa noite fria de 2013, o país fervilhava com as Manifestações de junho, quando nos encontramos pela primeira vez. Uma conversa despretensiosa, mas olhares profundos. Um novo encontro. Bate-papo e intenções mal disfarçadas. Despedida com um suave tocar de lábios, gostinho de quero mais. Desejo realizado.
Lençóis, carinhos, admiração! Vontade de estar perto o tempo todo. Sentimo-nos felizes, confiantes, destemidas. Cantamos em uníssono “Por Você” no show do Frejat, entre beijos e dança. Logo fomos morar juntas. Aprendi a fazer filé de frango e me aperfeiçoei no lavar a louça. Saíamos do trabalho correndo para os braços uma da outra. Abraço amante, abraço amigo. Ela falava da minha voz, que a fazia tremer! Eu falava do amor dela, que me fazia mais forte!
E hoje quando ela vem ao meu encontro, vem com o mesmo abraço de outrora, com o sorriso largo, olhos verdes brilhantes e muitos “Eu te amo!”. E eu a recebo com todo meu amor e felicidade de poder olha-la bem de perto, tocá-la e transbordá-la de beijos, permeados de afeto, cumplicidade e intimidade.
Nosso amor se revela cada vez mais caloroso, cada vez mais visceral. “Amor de uma vida inteira!” - declaramos.
Momentos marcantes de uma história de amor
O primeiro beijo, um selinho tímido sob uma árvore após muita conversa no bar. Nossa primeira noite juntas e o dia que revelamos nossos segredos mais íntimos.
Nossas viagens. A primeira foi para Capitólio. A Érika me fez enfrentar meus medos ao fazer a trilha que levava a uma cachoeira maravilhosa. O céu da pousada... Depois Florianópolis, a primeira vez que andei de avião, as praias de uma beleza única, a balada que só tocava música latina e estava lotada de argentinos, A inesquecível viagem para o Rio de Janeiro, a cerveja na Urca, o Morro de Santa Teresa, a escada do Severó na Lapa; o show do Arnaldo Antunes no Circo Voador. A minha primeira viagem internacional, o bairro de San Telmo na Argentina e o Fun Fun no Uruguai. Os uruguaios são muito muito acolhedores e adoram brasileiros! A vinicola, a Casa Pueblo com seu ritual no por-do-sol, a graciosidade de Colonia do Sacramento e seu entardecer repleto de cores. Preciosidades do Uruguai.
Quando a Erika foi chamada para trabalhar em Santos fiquei abalada. Fomos para Barretos e eu estava chorando porque ficaria sem ela E minha mãe, já com a saude debilitada, deslocou-se da sala até os fundos para conversar conosco. Então ela chorou e e nós também. Minha mãe transbordava amor.
Um dia eu estava bem entristecida e sentindo-me desamparada e minha sogra, D.Lenise, aproximou-se e disse que eu era como uma filha para ela.Senti-me querida e aconchegada. É imenso todo carinho, preocupação e proteção que ela sempre dispensou a nós.
A naturalidade e a alegria demonstrada pelo meu pai quando recebeu a noticia do do casamento, Com aquele humor que lhe é peculiar, perguntou se adotariamos o Romeo.
Somos muito felizes pela nossas famílias que não só nos aceitaram como também apoioaram o nosso amor.
A mudança para São Vicente. Cenário deslumbrante, mar e montanhas adentrando o apartamento.
A felicidade do Romeo na praia desde a primeira vez que pisou na areia com a patinha operada. Correu feito coelho e pulou ondinhas. E toda vez que lá ele passeia, vivencia como se fosse a primeira vez.
O pedido de casamento em Camburizinho. Emoção!
E o que estamos vivendo agora, organizando nosso casamento. Mal posso acreditar no que está por vir. É um sonho que eu já havia guardado.
Nossas viagens. A primeira foi para Capitólio. A Érika me fez enfrentar meus medos ao fazer a trilha que levava a uma cachoeira maravilhosa. O céu da pousada... Depois Florianópolis, a primeira vez que andei de avião, as praias de uma beleza única, a balada que só tocava música latina e estava lotada de argentinos, A inesquecível viagem para o Rio de Janeiro, a cerveja na Urca, o Morro de Santa Teresa, a escada do Severó na Lapa; o show do Arnaldo Antunes no Circo Voador. A minha primeira viagem internacional, o bairro de San Telmo na Argentina e o Fun Fun no Uruguai. Os uruguaios são muito muito acolhedores e adoram brasileiros! A vinicola, a Casa Pueblo com seu ritual no por-do-sol, a graciosidade de Colonia do Sacramento e seu entardecer repleto de cores. Preciosidades do Uruguai.
Quando a Erika foi chamada para trabalhar em Santos fiquei abalada. Fomos para Barretos e eu estava chorando porque ficaria sem ela E minha mãe, já com a saude debilitada, deslocou-se da sala até os fundos para conversar conosco. Então ela chorou e e nós também. Minha mãe transbordava amor.
Um dia eu estava bem entristecida e sentindo-me desamparada e minha sogra, D.Lenise, aproximou-se e disse que eu era como uma filha para ela.Senti-me querida e aconchegada. É imenso todo carinho, preocupação e proteção que ela sempre dispensou a nós.
A naturalidade e a alegria demonstrada pelo meu pai quando recebeu a noticia do do casamento, Com aquele humor que lhe é peculiar, perguntou se adotariamos o Romeo.
Somos muito felizes pela nossas famílias que não só nos aceitaram como também apoioaram o nosso amor.
A mudança para São Vicente. Cenário deslumbrante, mar e montanhas adentrando o apartamento.
A felicidade do Romeo na praia desde a primeira vez que pisou na areia com a patinha operada. Correu feito coelho e pulou ondinhas. E toda vez que lá ele passeia, vivencia como se fosse a primeira vez.
O pedido de casamento em Camburizinho. Emoção!
E o que estamos vivendo agora, organizando nosso casamento. Mal posso acreditar no que está por vir. É um sonho que eu já havia guardado.
21/12/2018, o dia que não terminou
Raiava o sol. Chegamos à praia. Abraços. A nossa playlist. A tenda como a Érika sonhara. Beleza de palpitar o coração . As fotos no arco. D. Lenise chegou. Vamos casar. É você que tem... Mãos dadas. Eu, Erika e a canção. A Érika me perguntando se estavamos rápidas demais. Ny celebrando. Doce, terna. Nossa história. Xingu com as alianças. Juras de amor. Os olhos da Érika sorriem. Incomparavelment linda! O presente ressignificando o passado. Olhos nos, olhos, cantando em unissono desejaria todo o dia a mesma mulher. Não há tempo. Plena, plenas. Como é gigante o meu amor por você. Agradecimentos. A emoção transborda! Solta o som de 16 toneladas. Balançam sem parar. E eu sou a menina dela...O pôr do sol e a lua cheia. Céu azul. Capoeira na areia. Ciranda. E a jangada sairá pro mar. Sobreviverei, sobreviveremos. A dança, o ápice, o êxtase. Subitamente, olha o sopro do dragão (Iansa?). Todos por um. Um propósito: não voaras. Cessa-se a música. A força irrefreável. Fica a melodia do vento, do chicotear das lâmpadas e do despedaçar dos vidros. Leva-se todo mal desejar. Celebramos a festa, o encanto da Cinderela das Mil e Uma Noites, o amor que ousou dizer o nome.
domingo, outubro 21, 2018
Bolso é o símbolo da intolerância, do descaso. É a mentira deslavada, é tudo que aprendi a não ser. É o cinismo. É a morte da ética, ê a negação do amor ao próximo. É o fake encarnado. É o Trump terceirizado. É o medo. É o pesadelo mais sórdido. É o avesso do avesso. É o horror, o Jason que ataca o livre amar. A voz dissimulada. É o nada, é o nada, é o nada.
segunda-feira, outubro 15, 2018
"Houve um 15 de outubro que trouxe mais amor para o mundo" (Emanuel L'Apiccirella)
Hoje é aniversário de minha mãe, que também era professora. Admirada e amada por seus alunos, fez da vida, escola, de suas ações, ensinamentos. Não é porque se trata de minha mãe, ela era especial, quem a conheceu sabe bem disso. Não por acaso, o Centro do idoso levaseu nome. Sempre acolheu as minorias, seu respeito ao próximo era incondicional. Não ficava do meu lado, quando eu, crianca, brigava com uma amiga. Aconselhava a reconciliação, louvava a amizade. Amava seus filhos por igual, mas sem desconsiderar a singularidade de cada um. Amava o ser humano! Cuidou do sogro, dos meus avós, da vizinha. Sempre com serenidade, sem queixas. Aliás, lembro-me de ouvir minha mãe reclamar da vida apenas depois que a doença a impediu de exercer seu altruísmo, sua liberdade. Era divertida. Achava graça de a chamarem de Tia do Racha. Dirigia como ninguém. Gostava quando eu dizia que ia tatuar "Mãe, amor eterno".(sinto não ter feito). Era católica, mas sua bondade, sua compreensão foram além. Despediu-se de mim com dois piscar de olhos. Ela não foi embora, apenas está do outro lado do caminho.
#Maeamoreterno #Amorqueeununcaviigualquenuncamaisverei
#Teamoparasempre
❤💙💚💛💜💓💗💕❤💙💚💛💜💓💕❤
#Maeamoreterno #Amorqueeununcaviigualquenuncamaisverei
#Teamoparasempre
❤💙💚💛💜💓💗💕❤💙💚💛💜💓💕❤
sexta-feira, junho 08, 2018
O passeio
Outono, não se vê quiosque algum. Romeo corre livremente
pela praia sem aquela gana de restos de alimentos, que pessoas bem educadas
“esquecem”. Vejo-o correndo e imagino
se ele sente ou não falta do Ponte G e de banhistas em geral.
se ele sente ou não falta do Ponte G e de banhistas em geral.
Caminho, meninos jogando futebol na praia e sinto a
inominável inveja. Gostaria de ter jogado quando era mais nova e penso que será
que existem mulheres com mais de 40 jogando futebol nas praias de São Vicente?
Sinto-me velha. Mas pelo menos jogo sinuca.
O mar desliza, parece que estou numa praia do litoral norte.
Romeo quer voltar para casa. Anda em direção ao calçadão, mas o chamo e ele
volta correndo de bem com a vida. Repete isso umas 4 vezes.
Romeo foi feito para mim, é o que há de perfeito em minha vida. E dizem que nada é perfeito. Não que eu não goste de imperfeições, é o charme do cotidiano...
sexta-feira, agosto 28, 2015
Eu a amo!
Foi na esquina de um boteco. Uma conversa despretensiosa,
mas olhares profundos. Foi rápido, mas suficiente para um novo encontro. Agora
só nós. Bate-papo e intenções mal
disfarçadas. Despedida com um suave tocar de lábios, com gostinho de quero mais. Desejo realizado.

Hoje moramos distante uma da outra. Mas o tempo todo estamos
unidas no coração. Sinto muita falta de sua presença, porém quando ouço sua voz
ao telefone ou quando a vejo em tempo real no Skype, cheia de carinho e admiração,
tranquiliza meu peito e me fortalece. E
quando ela vem ao meu encontro, vem com o mesmo abraço de outrora, com o sorriso
largo, olhos verdes brilhantes e muitos “Eu te
amo!”. E eu a recebo com todo meu amor e felicidade de
poder olhar para ela bem de perto, tocá-la e transbordá-la de beijos... Amanhã,
após cinco dias de saudade, viveremos este momento e outros, permeados de cumplicidade,
intimidade e afeto.
Nosso amor se revela cada vez mais caloroso e
compreensivo. “Amor da minha vida!” - declaramos.
quarta-feira, junho 03, 2015
Desejo, Crime e Reparação

Trabalhando há 7 anos com adolescentes em conflito com a lei, considero verdadeira a afirmação acima.
A maioria das infrações cometidas entre os adolescentes da Fundação CASA vem do desejo de ter um tênis Nike, o game e o celular de última geração, o boné John John. Desejam o mesmo que um adolescente de classe média e/ou alta.
Na coluna posterior, Contardo diz: "(...)os bens que desejamos são indiferentes; o que importa é o reconhecimento que esperamos receber graças a eles." Fato. Os adolescentes (e também os adultos) medem seu valor por aquilo que têm, pois através do que ostentam almejam ser reconhecidos pela sociedade, ou seja, envaidecem-se através do olhar do outro (entre os adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação, há aqueles que pedem para a mãe trazer fotos do seu tênis ou de sua moto para mostrar para os colegas).
Na mesma coluna, Contardo afirma ""é provável que a cobiça e a vaidade cresçam com o "ter". Ou seja, é bem possível que a tentação do crime seja maior para quem tem mais do que para quem tem menos."" (vide os crimes de colarinho branco)
No entanto, encontramos tanto nas prisões como na Fundação CASA, uma grande maioria de sujeitos das classes menos favorecidas. Contardo atribui isso ao fato dos mais ricos terem melhores advogados. Considero meia verdade tal justificativa.
Um adolescente da classe A pode comprar o tênis do momento, viajar, ostentar roupas de grife etc.
E o o adolescente pobre? Ele também quer satisfazer seu desejo, quer ser notado, admirado. Crimes praticados em nome da ostentação são normalmente considerados torpes.
No entanto, imagine se de repente o adolescente de classe mais abastada não pudesse mais consumir seus objetos de desejo. Imagine se lhe fosse tirado o reconhecimento social.Podemos argumentar que o importante é o que somos, mas, infelizmente, na atual sociedade, somos o que temos.
Antes que alguém me condene, não estou justificando as infrações dos adolescentes e sim tentando compreendê-las. O filósofo Mário Cortella, no Saia Justa (GNT) frisou que justificar é tornar justo. Não, não acho justo um assalto, mas conhecer as contingências envolvidas, permite tratar o adolescente com humanidade.
No referido programa, Mário Cortella afirma ainda que somos livres para escolher. Mas nem sempre nossas escolhas resultam em ações (moral) que vão ao encontro de nossos princípios e valores (ética).
Os adolescentes infratores geralmente sabem que estão agindo contra lei, mas nem sempre consideram-se errados. A ética deles destoam, em parte, das normas socialmente aceitas.(tendo como norte a ética de organizações criminosas como PCC e CV, assaltam aqueles que julgam ricos, condenam o estupro e a delação - "caguetar", não cometem furtos ou roubos na comunidade, poupam crianças e idosos entre outras. Há deslizes que geralmente são punidos pelo próprio grupo - muitas vezes de forma violenta.) Curiosamente, na gíria destes adolescentes, seguir sua ética é "correr pelo certo".
Assim não podemos olhar para os nossos princípios e valores e simplesmente transferi-los estes adolescentes.( Lembrei-me de Betinho: "Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes,
e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado.")
Sou terminantemente contra a redução da maioridade penal. Latrocínios, homicídios? Penso que deve ser analisados caso a caso, mas de qualquer forma, considero que não deve ser encarcerado com os adultos.Pois é possível recuperar estes adolescentes. É preciso amor, acolhimento, comprometimento para sensibilizar o adolescente com relação a sua vítima. É preciso levá-lo a se dar conta da violência de seu ato. É preciso convencê-lo que o estudo pode garantir uma vida profissional que lhe possibilitará a satisfação de seu desejo; é preciso convencê-lo que o trabalho, mesmo rendendo bem menos que o tráfico de drogas, trará satisfação pessoal e social. É preciso levá-lo a vislumbrar um cotidiano em que não haja mais necessidade de correr da polícia, ainda que continue sendo revistado por causa de sua roupa e tatuagens. É preciso que ele encontre um ambiente que possa desenvolver habilidades, talento.
Os centros que executam as medidas socioeducativas tem muito a melhorar, mas vem gerando bons resultados. Há beleza naquele adolescente orgulhoso
de ter aprendido cozinhar ou fazer um rap que discorre sobre seus planos de deixar o crime ou vencer uma competição esportiva. Há beleza quando 542 internos da Fundação CASA estão no final da Olimpiada Brasileira de Matemática da Escola Pública (fato ocorrido em setembro de 2014). Há beleza quando abandonam a carcaça do crime e se revelam meninos. .
Os centros que executam as medidas socioeducativas tem muito a melhorar, mas vem gerando bons resultados. Há beleza naquele adolescente orgulhoso
de ter aprendido cozinhar ou fazer um rap que discorre sobre seus planos de deixar o crime ou vencer uma competição esportiva. Há beleza quando 542 internos da Fundação CASA estão no final da Olimpiada Brasileira de Matemática da Escola Pública (fato ocorrido em setembro de 2014). Há beleza quando abandonam a carcaça do crime e se revelam meninos. .
terça-feira, junho 02, 2015
Pinceladas

Desolador é encontrar na minha timeline manifestações racistas, homofóbicas e todo tipo de preconceito. Como disse meu irmão Emanuel, "os reaças" perderam a vergonha de se expressar.
A polícia militar, que teoricamente teria o papel de garantir a segurança, de proteger o cidadão, anda descendo o chumbo. Manifestações democráticas são combatidas como se estivéssemos em guerra; negros são presos arbitrariamente, revelando o preconceito que os brasileiros insistem em afirmar que não existe.
O país anda em crise: a economia vai mal. Culpam o Executivo, mesmo sabendo que há toda uma conjuntura por trás. Ainda sim, dói ler sobre cortes na Educação e Saúde. A grande massa de eleitores de Dilma pode ser a maior prejudicada. Enquanto isso, temos uma Câmara dos Deputados caracterizada pelo conservadorismo (ou seria, fascismo?). Temos anti-gays, anti-cotas, anti-reforma política democrática e defensores da redução da maioridade penal. Querem garantir o poder e o enriquecimento. Triste , afinal o legislativo representa o povo.
Mas encontro conforto entre meus amigos mais chegados. Não estou sozinha. Além disso, há figuras públicas como Gabriel Priolli, Luis Nassif, Luiz Eduardo Soares, Jean Wyllys, Randolfe Rodrigues, Marcelo Freixo, Eduardo Suplyci que através de idéias e/ou ações revelam ética ao defender os direitos humanos, a democracia e a transparência na política.
The answer my friend is blowing in the wind
Declaro-me contra a redução da maioridade penal e vou mais além: defendo a privação de liberdade apenas para os crimes hediondos. Que o ECA seja cumprido e que os juízes se atentem às medidas mais brandas para o adolescente em conflito com a lei: advertência, liberdade assistida e semiliberdade.
Além disso, defendo a desmilitarização da polícia, pois são treinados como se estivessem no exército. Polícia é feita para proteger, garantir a segurança e não tratar o povo como inimigo.
Que o conceito de família formada por homossexuais seja garantido na constituição! O casamento gay já é uma realidade, a adoção de crianças por casais homo idem, inclusive constar no registro de nascimento o nome de ambos os pais ou mães.
Desejo também que as cotas nas universidades se ampliem. Defendo cotas para estudantes de escola pública, além das cotas para negros e índios. A universidade pública tem que ser acessível para todos e digo por experiência própria que o Ensino Superior público, ao garantir pesquisa e extensão, além da formação multidisciplinar, proporciona ao estudante o desenvolvimento do pensamento crítico e atuação na comunidade.
Percebo que muitos vêem com resistência a Lei que proíbe os pais de castigarem fisicamente seus filhos, inclusive as palmadas. Penso que é covardia bater numa criança e que uma palmada pode se transformar num soco. Muitos defendem que apanharam quando criança e que não se sentem prejudicados, que não lhe fizeram mal. Discordo, pois não sabem como seriam hoje se não tivessem sofrido tal forma de agressão e às vezes não relacionam o que viveram na infância com seu comportamento adulto. Mas não vou me estender nesta questão por ora, pois demandaria outra postagem.
Vislumbro que incêndios criminosos como os que vêm ocorrendo nas favelas de São Paulo sejam punidos e cessem. Espero que o programa "Braços Abertos" do prefeito Haddad persevere e que sirva de exemplo para as políticas anti-drogas no país inteiro (para quem não sabe, tal programa garante emprego para os frequentadores da Cracolândia, usuários de crack e outras drogas, o que vem gerando ressocialização e diminuição da criminalidade - confira: http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/5240)
Espero que os índios tenham garantido sua terra, sua cultura. Assim como os sem-terra. Basta de assassinatos.
Enfim, quero humanidade! Que predicados como solidariedade, altruísmo, empatia façam parte do cotidiano e deixem de ser raridade!
:
Não diga nunca: isto é natural
Para que nada possa ser imutável (Bertold Brecht)
sexta-feira, março 23, 2012
A fábula de "O Homem do Futuro"
Despretensioso, "O Homem do Futuro" veio me dizer que os acontecimentos não tem "e se". Embalado por uma vibrante versão de "Tempo Perdido" da Legião Urbana, fala-nos sobre a impossibilidade de mudar o passado (ou seria de controlar o futuro?). O "e se" é falível, pois a mudança de um detalhe, geraria a transformação dos processos que desencadeiam um fato. Assim, sofremos em vão quando nos torturamos com a possibilidade de ter tomado uma atitude divergente, culpabilizando-nos por isso. Como canta Renato Russo, "não temos mais o tempo que passou" e, emenda, "mas temos muito tempo, temos todo tempo do mundo". Sim, a partir do presente, podemos fazer diferente, escolher o que foi desperdiçado no passado ou apenas deixar acontecer. O que importa é o sentimento de liberdade ao se dar conta que você provavelmente não poderia ter modificado um acontecimento, pois se assim fosse, este já não seria o mesmo. É quase como dizer "estava escrito", mas tendo todo o tempo do mundo pela frente para ser o autor da própria história.
quarta-feira, janeiro 18, 2012
Romeo e um pouco mais sobre meu 2011
Sozinha, bem, ouvindo Jazz e bebericando...
Começo falando de Romeo, que chegou já no meio do ano. Antes disso, nada de muito importante parece ter acontecido (pelo menos, nada que me venha à memória neste instante...).
Era fim de minhas férias. Estava em Barretos... A gatinha Talita tinha retorno no veterinário. Fui levá-la com minha mãe. Logo que adentrei me deparei com um cãozinho pretíssimo engaiolado para adoção. Lembrou-me meu saudoso Prince. Brinquei com ele e foi amor à primeira vista!
Dia seguinte ele já estava comigo na casa de meus pais. O filhote de aproximadamente 3 meses (o veterinário não sabia ao certo) corria eufórico desesperadamente! Imaginei que fosse efeito rebote da privação de liberdade...
Não sabia como chamá-lo. Consultei nomes com os familares, pesquisei no google Nenhum me deixava satisfeita! Até que mexendo no meu criado-mudo encontrei o DVD Romeo & Juliette. Era isto, Romeo! Os olhinhos mais meigos que já vi!
Confesso que hesitei em trazê-lo para Rio Preto. Mas havia aquela força irrefreável de tê-lo comigo. Ele me conquistara e me lançou o desafio de cuidá-lo, já que nunca até então tinha tido um cão sob minha inteira responsabilidade.
Romeo nunca deixou de ser desperadamente eufórico, estragou inúmeros objetos, mas nenhum tem o valor do que ele me traz. Ele é carinhoso, carente, ativo e às vezes se traquiliza com uma boa música (como agora)... Os pelos da cara cresceram, tem um topete a la Neymar. Ele salta incrivelmente alto. Gosta de subir nos móveis como um gato. E continua com aqueles olhinhos...
Passeio com ele todas as manhãs antes de trabalhar: seu entusiasmo me motiva, sua alegria me contagia. É meu companheiro, não me deixa desanimar, pois por mais que eu esteja exausta ou irritada ou triste, ele está me esperando para alimentá-lo, para jogar a bolinha, para dançar ou simplesmente acariciá-lo. Romeo trouxe-me vida!
Outro acontecimento do ano foi minha mudança de apartamento. Confesso que me atormentou o ano todo a espera. Tinha temor da hora de mudar, do cansaço. Mas enfim passou e fui acolhida por alguém que tem me mostrado o que é amizade e sei que jamais poderei retribuir a altura...
Tenho que comemorar sobretudo a saúde de minha mãe e agradecer, ainda que com minha fé torta, a proteção a ela dada. Mesmo o Romeo, devo à minha mãe, já que foi ela quem convenceu meu pai a permitir levá-lo para casa.
Sou relutante quanto aos meus sentimentos, pois são muito volúveis aos meus estados de humor. No entanto, parece que estou saindo da mesmice, conseguindo lidar com meus afetos de forma saudável e como gente grande.
Quero continuar crescendo. Posso ficar triste, posso chorar, mas que isto não me faça magoar aqueles que amo e me envergonhar de mim mesma. Vida plena em 2012.
[Escrito em 17-12-2011]
quarta-feira, maio 11, 2011
Meus dias sem internet
Nunca assisti muito à televisão. Acostumei-me a ler e ver apenas o que me interessa. Sou avessa a imposições.
E a minha inacessibilidade se deu justamente num período em que o twitter está fervendo pela morte (?) de Bin Laden. Gostaria de ver as diversas opiniões daqueles que sigo e também compartilhar o que penso.
E não estou acessando meu orkut e colocando as fotos de quando meu amigo Calunga esteve aqui em Rio Preto para tomar cerveja importada até esquecer quem ele era. Não posso fuçar na vida dos outros (sim, faço e gosto). Não sei mais quem faz aniversário e nem avisar aqueles que não estavam se lembrando de cumprimentar um amigo.
Estou aqui fazendo o prático da vida. No momento, escutando o disco novo dos Strokes.
Também estou sem fogão e por isso tomo café da manhã todos os dias na minha amiga Lolô (mas ela nunca teve banda larga). Depois trabalho. Lá só posso acessar e-mail e tenho que ser rápida.
Bem, já são 6 dias sem internet e até agora não tive sintomas graves de abstinência. Mas fica nítido o papel da rede na minha rotina, pois era justamente o momento desta, de expandir minha vivência, de encontrar semelhantes e vasculhar novidades musicais.
Sinto-me numa bolha. Sinto-me limitada.
Até poderia ir até uma lan-house, mas jamais seria a mesma coisa de chegar em casa, ligar o pc, acender um cigarro e me deixar levar.
Não espero ansiosamente meu moden da Telefônica porque sei que poderá demorar mais umas das semanas. No próximo fim de semana, em Barretos, estarei de volta à net, ainda que por apenas 3 dias.
No entanto, o tempo da net é sempre o agora. Já sei que perdi o time. Mas não quero ser dramática, o mundo sempre traz surpresas e talvez, como disse meu amigo Luiz Augusto, tenha morrido apenas uma lenda americana...
[Escrito em 04/05/11]
segunda-feira, março 07, 2011
Nostalgia

Vendo um documentário sobre o carnaval, sinto nostalgia. É mais que saudade: tem tristeza ar...
Eu havia me esquecido da premissa de que no carnaval tudo é permitido. No meu carnaval tudo foi permitido somente quando criança. Sonhava e fazia. Não havia transgressão. Era natural.
Mais tarde, haviam os horários, a vontade de experimentar, os desafios. A necessidade de querer mais. Mas não era tudo permitido. E agradeço que assim tenha sido. Beijos e frustrações. Danças, cigarro, cerveja e lança-perfume. Tinha sempre que voltar.
Depois, vieram os carnavais em meio à natureza. Desejos contidos. Premissas do que ainda estava por despertar...
Já não me recordo mais da última vez que estive em sintonia com o carnaval, deixe-me levar. Hoje, não queria estar em nenhum lugar. Talvez no passado, a girar.
sábado, janeiro 22, 2011
Quero
Demora para doer e quando dói e tão intenso que dá vontade de não existir.
Não era para sim. Não pensei que seria. Não queria mais sentir isso que nem ao menos sei nomear. Angústia talvez. Angústia de me sentir impotente. Impotente diante de meus próprios sentimentos, dos meus desejos, de minha necessidade de precisar. Quero estar só. Quero estar bem. Não quero precisar. Quero ser livre.
Não quero magoar, também não quero me sentir carente. Não quero saber que sem mim é indiferente. Quero esquecer.
Quero voltar a voar sozinha. Quero criar. Quero gargalhadas. Quero chorar pelo que vale a pena. Quero minhas quatro paredes. Quero sentir o vento e quero me alegrar com um sorriso de bom dia. Não quero esperar.
Quero dizer o que penso. Não quero agradar. Quero que gostem de mim com toda minha contravenção. Não preciso, não preciso...
Quero minha força, meus olhos, meu gosto.
sábado, setembro 25, 2010
Crack

Parece que estamos diante do filme de terror "A Volta dos Mortos-Vivos": nas reportagens de TV ou nas ruas, os "nóias" (gíria das ruas para usuário de crack) são sujos, magros, sem dentes e sem caráter...
O que ainda leva alguém a experimentar o crack? Que o crack é prazeroso é fato Mas mesmo quem não tem acesso à informação, aquele que já está nas ruas, conhece a devastação progressiva da droga. Como não pensar nas consequências ao dar o primeiro trago?
Vejo o desespero, seja o desespero pela falta de comida, dinheiro, perpectivas de emprego ou o desespero existencial, como motivador do uso do crack Penso também que alguns acreditam ter o controle de sua vontade e experimentam para saber qual é o barato: o problema é que poucos usam apenas uma vez e o crack vicia rapidamente. É como um tiro no escuro e quem acredita não ter muito a perder, resolve arriscar.
Poderia dizer também que por trás da busca pelo crack há um desejo de morte. No entanto seria simplista. Muitos que usam a droga o fazem por não suportar o cotidiano, ou seja, não é que desejam não viver, apenas querem outra vida e conseguem por alguns breves minutos. Se inconscientemente anseiam a morte, não sei dizer. Mas acredito que nós todos queremos satisfações imediatas, só que por diversos zaões somos capazes de algumas vezes adiá-las (digo "algumas vezes" porque muitos de nós já fizemos loucuras por não tolerarmos esperar).
A verdade é que me causa tristeza ver um jovem entregue ao crack. Como prevenir? Embora haja usuários de classe média-alta, a maioria é das classes menos favorecidas: pessoas que já tinham pouco e agora não tem nem dignidade, não tem alma, são como zumbis. A resposta é aquela de sempre:educação, saúde, diversão e arte! Pois só assim teremos pessoas com autoestima suficiente e razões para acreditar que a vida vai melhorar.
E como tratar os dependentes? Muitas vezes a internação não tem sucesso, muitos reincidem no uso após meses reclusos. Penso que é preciso qualificar o tratamento ambulatorial de usuários.Li recentemente sobre um tratamento experimental onde usuários de crack fumam maconha para abrandar a fissura, aliado com psicoterapia, e obtiveram êxito no abandono do vício de crack e, progressivamente, também da maconha. No entanto, a universidade onde tal experimento foi realizado tem encontrado resistência governamental porque a maconha é ilegal. Sempre fui contra a legalização da maconha, no entanto, não podemos nos dar ao luxo de radicalismos diante da epidemia do crack. Apenas quem não tem discernimento sobre as diferenças entre as drogas e seus danos, não concordaria em substituir o vício do crack pelo da maconha. É um caminho.
segunda-feira, abril 19, 2010
Mãezinha - só uma!
Quando criança, copiei do livro didático uma poesia para minha mãe. Não me lembro se era Dia das Mães ou se era um dia qualquer quando entreguei a ela. Lembro-me que ela guardou. Não sei a minha idade ao certo, estava no primário, estudava na E.E.P.G. Coronel Almeida Pinto...Hoje, pensando naquela que é meu maior exemplo de humildade e amor, resolvi procurar o texto da infância na web. E encontrei:
Mãezinha - só uma
Tantas estrelas, no céu, brilhando,
tantas conchinhas brincando com o mar,
tantos carneiros no campo pulando
e passarinhos voando a cantar.
Tantas abelhas fazendo zum-zum,
Tantas estrelas, no céu, brilhando,
tantas conchinhas brincando com o mar,
tantos carneiros no campo pulando
e passarinhos voando a cantar.
Tantas abelhas fazendo zum-zum,
e borboletas azuis a voar,
tantas gotinhas de orvalho na grama,
mãezinha - só uma eu tenho para amar.
(George Cooper)
tantas gotinhas de orvalho na grama,
mãezinha - só uma eu tenho para amar.
(George Cooper)
sexta-feira, março 19, 2010
Ele tinha todo o tempo do mundo
Estou abalada. "Vida louca, vida breve...". Era como se fosse alguém que eu conhecia há muito tempo. Um luto repentino. Ele era jovem. Ele só tinha 18 anos. Sei pouco sobre sua vida. Mas lembro-me de seu sorriso acanhado. E sei que era querido pelos amigos. Ele era divertido e, como um de seus amigos, envolto em lágrimas, definiu "era um moleque da hora". Era o "Colômbia". Sua imagem não me sai do pensamento: ele sentado no chão, no atendimento em grupo; ele na aula de street dance.
Imagino seus últimos momentos: ele sofreu longe da mãe. Penso e isso dói! Mas havia um homem bom ao seu lado, que o acolheu, que segurou sua mão como se fosse seu filho. É um consolo saber que havia um rosto conhecido para confortá-lo.
Durante todo o dia, era como se o trânsito não fizesse barulho. Era como se as pessoas falassem e não emitissem som. Havia um silêncio enorme dentro de mim. `
Sinto por sua vida precocemente interrompida. Sinto por aquela mãe que batalhava para estar com o filho. Ela não pôde dizer adeus...
Acabo por aqui, meu sentimento não se deixa mais ser dito.
Descanse em paz, Elton!
domingo, março 07, 2010
Angústia de fumante
Naquela época, não era proibida publicidade televisiva na TV e a restrição no horário de vinculação estava apenas começando. Nas novelas, os personagens fumavam à vontade. Lembro-me da personagem de Fernanda, de Christiane Torloni, em "Cara & Coroa", tragando charmosamente... Eu e minha amiga tentávamos imitá-la.
Olhando para trás, penso que comecei a fumar por contravenção. Eu fazia tudo certo até aquele momento. Era aluna dedicada e tímida. Mas ao mesmo tempo não me identificava com os hábitos, gostos e valores da turma escolar. Precisava extravasar. Mas não fazia o tipo revoltada. Tudo estava bem escondido. Eu não queria ser comum. Fumar era uma forma de dizer que eu não era o que aparentava ser.
Não me lembro quando adotei o Marlboro vermelho. Lembro-me que no primeiro ano de fumante, estava no maior evento da cidade do Peão e meu pai quase me flagrou fumando. Era Marlboro vermelho.
15 anos depois, ainda fumante, sofro. Não por não conseguir deixar o vício, pois até o momento não tentei. Sofro com a Lei Anti-fumo, sofro com a discriminação. Não posso mais tomar uma cerveja e tragar. E só quem fuma sabe como é chatíssimo deixar a mesa e a conversa e se dirigir a calçada. Só quem fuma sabe que o cigarro assim fumado não satisfaz.
Só quem fuma entende o incômodo de se ouvir conselhos cotidianos sobre os males do maldito e profecias de morte. E se isto nos irrita, precisamos nos controlar, uma vez que sempre falam para o que consideram nosso próprio bem.
Sei que sou dependente( e como sou!) Não pela quantidade fumada, mas pelo lugar que o cigarro ocupa na minha vida. Pelos hábitos vinculados ao vício: como chegar do trabalho, deitar na cama e acender um Marlboro ou como escrever fazendo o mesmo.
E também, infelizmente, como sinto-me desmotivada a sentar numa mesa de bar com os amigos ou frequentar outros ambientes em que igualmente terei que me excluir para fumar.
Compreendo o direito dos não fumantes de não aspirar a fumaça venenosa. Já fui deste grupo e não gostava nada quando parentes fumavam no meu quarto de criança!
Mas se hoje a publicidade de cigarro é proibida na TV é porque é reconhecida sua influência. Hoje sabem como o fumante passivo é prejudicado e por isso fizeram uma lei radical.
Há 20 anos, embora se conhecesse os males do cigarro, a discriminação contra os fumantes era irrisória. E Ayrton Senna corria com o uniforme do Marlboro. Se alguém se incomodasse com um fumante no restaurante, que se retirasse.
Se eu pudesse voltar no tempo, não teria jamais experimentado um cigarro. Gostaria de ser como os outros, como os não fumantes. Pretendo parar de fumar, mas ainda não me sinto pronta para a batalha. Enquanto isso, fumo com o prazer e a dor que só os fumantes compreendem.
sábado, novembro 21, 2009

Tem dias que me espanto com condutas que se travestem de precupação alheia para exaltar um pseudo bom caratismo, uma vez que visam apenas o bem de quem as empregam.
Sim, já agi com segundas intenções. E muitas vezes sou egoísta. Encaro isto, atualmente, questão de sobrevivência.
Mas não engulo quem veste a máscara de bom cidadão, usa retórica ardilosa para trapacear, não se expõe e, no final, beneficia-se não só com vantagens pessoais como também com o apreço e estima do público.
O que também não suporto são aqueles que se auto-intitulam detentores de um saber superior e são incapazes de ouvir uma opinião divergente. Menosprezam a vivência popular e descartam qulaquer argumento que não condiz com seu constructo de mundo.
Inúmeras vezes me peguei pensando [arrogantemente, talvez]: "Dizem saber tanto, mas ignoram a diversidade da vida humana. Isto sim é um não-saber."
Posso estar equivocada, pois é este o tipo de pessoa que é bem visto pelos outros, que convence a maioria e que é admirada. Seu saber inalcançável não deixa possibilidade de diálogo: somos tão insignificantes que podemos somente escutá-lo. O que aprendemos? O quão profunda é nossa inferioridade.
Mas talvez meu universo de contato esteja demansiadamente reduzido.
Talvez fazer especulações sobre o caráter do outro não traga nada de frutífero a mim.. Talvez um dia eu não importe mais com o apreço alheio e me contente com a satisfação intrínseca. Ou talvez eu mude e encare com normalidade o ineditismo da virtude.
Só direi "talvez", pois depois de assistir "Dúvida", temo proclamar com convicção qualquer afirmação.
segunda-feira, junho 15, 2009
Miragem
Sentia medo. Estava frio. Queriam saber porque eu estava ali. Diziam palavras que para mim não fazia sentido algum. Eu não sabia se me queriam bem ou se me afrontavam. Temendo o pior, permaneci em silêncio.
Era minha primeira noite. Eu havia chegado no fim da tarde. Não me lembro das primeiras horas. Sei que disseram que eu ficaria bem desde que não desapontasse. Acho que eu sentia fome.
Disseram-me que eu estava ali por ter infringido a sociedade. Eu não sabia o que isto significava...
Nasci na rua. Aos 6 anos, deram-me um saco para cheirar. Gostei. Eu ria e não sentia fome. Pedia dinheiro no farol, mas logo aprendi que era mais fácil roubar. Aos 10 anos, já era um grande batedor de carteiras. Nunca usei arma: o pastor da praça disse que quem mata vai para o inferno...
A polícia me pegou furtando de uma velhinha na Sé. Levaram-me para um lugar junto a outros meninos parecidos comigo. Lá não tinha estrelas na hora de dormir. Mas lá eu comecei a ir à escola e a comer todos os dias. Levaram-me ao cinema (foi a primeira que fui e no início confesso que me assustei muito: o filme era ‘Velozes e Furiosos” e achei que os carros viriam para cima de mim...). Aprendi tocar bateria. Fiz amigos. Descobri o que é preocupação.
Alguns recebiam visitas das mães. Eu não tinha mãe. Mas eu até achava melhor não ter mãe do que ter e não receber visita dela.
Conheci outro mundo. Eu aprendi (não sem dificuldade) a ler e, enquanto os meninos ficavam com seus parentes, eu devorava livros. No começo, entendia pouco. Era como um papagaio mudo. Mas a professora de português me ajudou e, aos poucos, diversas realidades abriram-se para mim.
Quando sai de lá, após alguns meses, tive vontade de voltar para as ruas. Mas a ONG havia arrumado um local para eu morar e matricularam-me no supletivo. Resolvi acreditar e pensar em algum futuro...
Hoje tenho 23 anos e estudo letras no período noturno. Trabalho como garçom num restaurante durante o dia, ofício que aprendi naquele lugar que fiquei por ter infringido a sociedade.
Dizem que sou minoria. Espero um dia não ser. Espero existir.
Sentia medo. Estava frio. Queriam saber porque eu estava ali. Diziam palavras que para mim não fazia sentido algum. Eu não sabia se me queriam bem ou se me afrontavam. Temendo o pior, permaneci em silêncio.
Era minha primeira noite. Eu havia chegado no fim da tarde. Não me lembro das primeiras horas. Sei que disseram que eu ficaria bem desde que não desapontasse. Acho que eu sentia fome.
Disseram-me que eu estava ali por ter infringido a sociedade. Eu não sabia o que isto significava...
Nasci na rua. Aos 6 anos, deram-me um saco para cheirar. Gostei. Eu ria e não sentia fome. Pedia dinheiro no farol, mas logo aprendi que era mais fácil roubar. Aos 10 anos, já era um grande batedor de carteiras. Nunca usei arma: o pastor da praça disse que quem mata vai para o inferno...
A polícia me pegou furtando de uma velhinha na Sé. Levaram-me para um lugar junto a outros meninos parecidos comigo. Lá não tinha estrelas na hora de dormir. Mas lá eu comecei a ir à escola e a comer todos os dias. Levaram-me ao cinema (foi a primeira que fui e no início confesso que me assustei muito: o filme era ‘Velozes e Furiosos” e achei que os carros viriam para cima de mim...). Aprendi tocar bateria. Fiz amigos. Descobri o que é preocupação.
Alguns recebiam visitas das mães. Eu não tinha mãe. Mas eu até achava melhor não ter mãe do que ter e não receber visita dela.
Conheci outro mundo. Eu aprendi (não sem dificuldade) a ler e, enquanto os meninos ficavam com seus parentes, eu devorava livros. No começo, entendia pouco. Era como um papagaio mudo. Mas a professora de português me ajudou e, aos poucos, diversas realidades abriram-se para mim.
Quando sai de lá, após alguns meses, tive vontade de voltar para as ruas. Mas a ONG havia arrumado um local para eu morar e matricularam-me no supletivo. Resolvi acreditar e pensar em algum futuro...
Hoje tenho 23 anos e estudo letras no período noturno. Trabalho como garçom num restaurante durante o dia, ofício que aprendi naquele lugar que fiquei por ter infringido a sociedade.
Dizem que sou minoria. Espero um dia não ser. Espero existir.
quarta-feira, dezembro 24, 2008

Permitindo-me ser humana
Dia de Natal. Dia de celebrar o nascimento daquele que pregou compaixão, igualdade, bondade, justiça, amor. O coração fica mais leve, generoso, vontade de fazer apenas o bem, de fazer jus a esta data. Lembranças boas. Lembranças da infância, de tantos sonhos... Desejo de ser humana!
Então me entristeço. Lembro-me que no momento que estarei diante de uma mesa farta, trocando presente, acalorada pela família, outros estarão numa situação desumana. Vítimas da fome, vítimas da violência, vítimas da guerra. Vítimas da ganância, vítimas da fraqueza, vítimas do descaso.
Desculpem-me, mas meu coração não pode ignorar os idosos abandonados esperando pelo fim, as crianças que se entorpecem para esquecer que um dia sonharam, adolescentes sem perspectivas cometendo atrocidades, mulheres que mutilam sua dignidade em busca de um segundo de carinho...
Não posso esquecer dos meninos e meninas que passarão esta data longe da família por terem infringido a lei. Certamente, estão respondendo pelos seus atos. Mas não consigo deixar de pensar que enquanto muitos adolescentes estão passeando no shopping com sua família, outros estão privados de liberdade e nunca tiveram a oportunidade de fazer o mesmo.
Abro um parêntese me para fazer entender: não estou propondo uma relação direta entre homicídios, latrocínios, roubos e a falta de recurso sócio-econômico. Estou falando da morte da esperança, do uso de drogas devido à falta de perspectivas de realizar um sonho. Todo adolescente, independente da classe social, tem dificuldade de planejar o futuro. Vivem no imediato. É preciso muita orientação, muito amor familiar para não se perder. É preciso acreditar que realmente vale a pena estudar, trabalhar. É preciso ter um modelo a seguir. Tudo isto está ausente na vida da maioria dos meninos e meninas autores de ato infracional...
Mas se por um lado me entristeço ao me lembrar que para muitos o Natal não passa de um dia como outro qualquer, um dia de muita luta e às vezes de muito sofrimento, sinto-me bem comigo mesma ao perceber que me importo com o outro e que, no meu cotidiano, posso ajudar na reconstrução de sonhos.
É Natal! Tempo de nascer... Tempo de mudar!
Dia de Natal. Dia de celebrar o nascimento daquele que pregou compaixão, igualdade, bondade, justiça, amor. O coração fica mais leve, generoso, vontade de fazer apenas o bem, de fazer jus a esta data. Lembranças boas. Lembranças da infância, de tantos sonhos... Desejo de ser humana!
Então me entristeço. Lembro-me que no momento que estarei diante de uma mesa farta, trocando presente, acalorada pela família, outros estarão numa situação desumana. Vítimas da fome, vítimas da violência, vítimas da guerra. Vítimas da ganância, vítimas da fraqueza, vítimas do descaso.
Desculpem-me, mas meu coração não pode ignorar os idosos abandonados esperando pelo fim, as crianças que se entorpecem para esquecer que um dia sonharam, adolescentes sem perspectivas cometendo atrocidades, mulheres que mutilam sua dignidade em busca de um segundo de carinho...
Não posso esquecer dos meninos e meninas que passarão esta data longe da família por terem infringido a lei. Certamente, estão respondendo pelos seus atos. Mas não consigo deixar de pensar que enquanto muitos adolescentes estão passeando no shopping com sua família, outros estão privados de liberdade e nunca tiveram a oportunidade de fazer o mesmo.
Abro um parêntese me para fazer entender: não estou propondo uma relação direta entre homicídios, latrocínios, roubos e a falta de recurso sócio-econômico. Estou falando da morte da esperança, do uso de drogas devido à falta de perspectivas de realizar um sonho. Todo adolescente, independente da classe social, tem dificuldade de planejar o futuro. Vivem no imediato. É preciso muita orientação, muito amor familiar para não se perder. É preciso acreditar que realmente vale a pena estudar, trabalhar. É preciso ter um modelo a seguir. Tudo isto está ausente na vida da maioria dos meninos e meninas autores de ato infracional...
Mas se por um lado me entristeço ao me lembrar que para muitos o Natal não passa de um dia como outro qualquer, um dia de muita luta e às vezes de muito sofrimento, sinto-me bem comigo mesma ao perceber que me importo com o outro e que, no meu cotidiano, posso ajudar na reconstrução de sonhos.
É Natal! Tempo de nascer... Tempo de mudar!
sexta-feira, dezembro 12, 2008

Meias palavras
Eu gostaria de poder contar. Contar o que me aflige, o que perturba, o que me angustia. Mas seria tomar o veneno tal como Sócrates. E seria doloroso demais...
É preciso entrar no jogo para sobreviver. No jogo dos que já estão calejados pelo cotidiano abrupto.
Não há heróis...
Por que almejamos a justiça, a honra, a integridade se, ao acordamos, a realidade do dia a dia nos mostra o contrário? De onde vem este desejo? De onde vêm nossos ideais? Quando tivemos contato com o “paraíso” para ansiarmos tanto por ele?
Mal comecei dar a cara para bater e levei uma pancada. É preciso silêncio. Aprender com Sócrates e viver como Galileu: negar, mas não abandonar a busca pelo conhecimento.
Vou entrar na “roda-viva” e tentar suavizar a melodia.
É preciso entrar no jogo para sobreviver. No jogo dos que já estão calejados pelo cotidiano abrupto.
Não há heróis...
Por que almejamos a justiça, a honra, a integridade se, ao acordamos, a realidade do dia a dia nos mostra o contrário? De onde vem este desejo? De onde vêm nossos ideais? Quando tivemos contato com o “paraíso” para ansiarmos tanto por ele?
Mal comecei dar a cara para bater e levei uma pancada. É preciso silêncio. Aprender com Sócrates e viver como Galileu: negar, mas não abandonar a busca pelo conhecimento.
Vou entrar na “roda-viva” e tentar suavizar a melodia.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Por muito tempo procurei algo fora de mim para me sentir inteira. Achei que fosse natural o estado de incompletude, da busca de auto-estima através da afirmação do outro. Meu bem-estar não dependia só de mim e, por mais que eu soubesse que isto me fazia vulnerável, não conseguia que de outro modo fosse.
Hoje percebo que todas as vezes que me relacionei amorosamente depositei no outro a responsabilidade por minha felicidade. E mesmo sabendo que um relacionamento depende de ambas as partes, tenho consciência que o peso que atribui às pessoas as quais amei, contribuiu para o esgotamento das relações. Sempre havia uma falta, mas eu não compreendia que o outro jamais iria satisfazê-la...
Diversas vezes li e escutei que é preciso amar a si mesmo para amar outra pessoa. Isto me parecia simples. Eu achava que me amava e também pensava que a forma que amei fosse a única possível. Eu me recusava a admitir que eu amava de forma romântica, querendo do outro aquilo que eu não encontrava em mim mesma. Demorei, mas finalmente pude sentir um enorme contentamento pela pessoa que me tornei e só então compreendi os equívocos que cometi.
Sinto-me, hoje, inteira. Meu espelho olha-me diferente de outrora. Tenho fontes de satisfação que dependem, sobretudo, das minhas ações. Meu bem estar não está atrelado a alguém em especial e, da mesma forma, as minhas angústias não estão. Isto não quer dizer que eu não sofra, que acontecimentos exteriores a mim não me afetam, mas sim que, atualmente, a responsabilidade por minha felicidade cabe bem mais a mim do que a qualquer outra pessoa. Sinto-me livre!
Consequentemente, estou perdendo meu medo de amar, medo de sofrer como antes. Todas as ocasiões em que rompi um relacionamento, senti como se eu perdesse parte de mim mesma. E talvez, de fato, assim fosse. Enfrentei lutos. Hoje penso que sou capaz de amar de modo saudável, que superei o amor romântico, pois encontrei meu oposto em mim mesma.
Mas só o tempo confirmará se realmente aprendi a amar. Deixarei o amor chegar.
terça-feira, setembro 16, 2008

Recentemente, tive em minhas mãos um texto de Leonardo Boff, contendo o seguinte trecho “cada um (...) compreende e interpreta a partir do mundo que habita”. Desde então venho pensando constantemente nesta idéia e seus desdobramentos.
Se toda vez que fôssemos julgar a atitude alheia, atentássemos para o fato de que nossa observação carrega toda nossa vivência pessoal, certamente seríamos, no mínimo, ponderados. No entanto, geralmente consideramos nossas crenças, verdade absoluta, obstruindo assim a possibilidade de uma relação empática com o outro.
Abro aqui um parêntese para me arriscar no campo da fenomenologia, aprofundando a idéia inicial: não conhecemos o mundo em si, ou seja, o que sabemos sobre o mundo é o resultado de nossa experiência subjetiva. Em outras palavras, não temos acesso à realidade objetiva: percebemos o que foi apreendido por nossa consciência. Desta forma, poder-se-ia argumentar ser impossível compreender o outro, no entanto a intersubjetividade acontece, existem experiências universais, pois se assim não fosse qualquer relacionamento humano seria inconcebível.
Quando tomamos ciência de que nossa apreciação dos acontecimentos é realizada através de nosso histórico biopsicossocial, damos o primeiro passo para ter acesso à subjetividade alheia. Pois, se conhecemos o que nos leva a pensar e agir de determinada maneira, podemos distinguir e considerar a realidade do outro.
Acrescenta-se ainda que só transformamos nossa própria realidade se nos permitirmos novas experiências. Entretanto, de nada vale acumular conteúdos se estes não provocam mudanças naqueles já existentes.
Quanto mais deixamos a história do outro infiltrar na nossa, mais ampliamos nossa subjetividade. E, consequentemente, efetivamos a intersubjetividade: o mundo que cada um de nós habita torna-se maior e mais áreas de intersecção são desenhadas.
domingo, agosto 24, 2008

O conviver exige certa mutilação do Eu...Não se pode SER inteiramente. Dizer o que se pensa não é dito. Há filtros. E quem não segue as normas, marginaliza-se. Já tentou falar na lata? Quantas vezes se deu bem? Durante a embriaguez é permitido. Mas já falou no jantar? Podemos opinar sim, mas assertivamente. Com polidez. A verdade é aceita com humor. Piadas. As piadas são o não dito. Ser engraçado até que é bom...Porém chega o momento em que é preciso dizer seriamente. Cuidado. Diga mas não se exponha. Fale meias verdades. Tenha precaução se não quer ser “mal visto” e tornar-se uma persona non grata. A "inquisição" existirá enquanto o mundo existir. Ninguém quer escutar o que não consegue dizer para si mesmo. Cuidado! Não se torne o escolhido: aquele que dirá pelos outros, mas também pagará por todos . Não seja tolo! Não queira ser diferente. Ser igual é fácil, é cômodo, é aceito. Não dói. Não sentirá êxtase, mas também passará longe de angústias. Não é assim que devemos ser? Sensatos, equilibrados, pontuais, eficientes, agradáveis? Leia. Mas nada que te deixe para baixo, nada que te faça pensar na mediocridade do cotidiano. Festeje. Mas esconda-se quando sair da norma. Beije seu parceiro com discrição em ocasiões sociais. Não desperte desejos, inveja, ciúme. Controle-se. Sorria. Fale mal depois. Insira-se no circo. “Tim, tim!”
quarta-feira, julho 09, 2008

Um dia achei que finalmente havia conhecido a sensação de ser livre: quando tinha 18 anos fui morar em São Paulo, deixei a casa dos meus pais. Mas precisei morar com minha tia e não senti o gostinho, por completo, do que eu supunha ser a liberdade. Enquanto ainda lá estava, viajei à São Carlos para prestigiar o Lual da Universidade Federal (UFSCar), tendo Arnaldo Antunes como maior atração. Fiquei deslumbrada: ali estava a liberdade que tanto almejava.
Não demorou muito para que eu deixasse São Paulo e voltasse para Barretos com o objetivo de estudar para passar no vestibular da UFSCar. E consegui. Agora era tudo como eu sonhara: eu morava numa república, era dona de mim! Eu era livre o suficiente para chegar em casa a hora que eu quisesse, para escolher minhas companhias e festas. Mas sem limite, acabei indo longe demais, demais a ponto de ferir a mim mesma e detestar a personagem que eu havia criado. Foi difícil perceber que a liberdade que vivi era ilusória: vi-me presa a uma imagem irreconhecível – havia um abismo entre o que o outro esperava de mim e o que eu desejava ser. Sofri demasiadamente para me reinventar. Fui crescendo...
Aos poucos, dei-me conta que para sentir-me livre não precisava estar longe de meus pais. E ficava maravilhada cada vez que eu notava que aquilo que existe de mais belo em mim aprendi com eles. Mas ainda sentia um vazio que foi preenchido quando comecei amar intensamente pela primeira vez. Senti o sopro da liberdade. E pensava que desta vez seria eterna. Não durou esta sensação, pois não tardou para que eu me prendesse a este amor e o aprisionasse junto a mim...
Apaixonei-me novamente e achei que desta vez seria diferente, pois me vi livre para descobrir a mim mesma. Só que mais uma vez, coloquei-me numa cela. Eu queria me encontrar através do outro, julguei ser isso possível. Eu achava que o outro pudesse me conceder a felicidade. Eu não estava livre: eu dependia dele e dei a ele a responsabilidade sobre minha vida. Foram dias conflitantes. Eu temia me achar comigo mesma. Mas eu não podia mais me enganar e me vi sozinha.
Felizmente, a vida nos reserva surpresas. Fui agraciada com a possibilidade de me realizar, de colocar em prática anos de estudo e experiências vividas. E é nesta situação que estou hoje. Sinto uma liberdade genuína e a descrevo como sendo aquela que somente eu posso me conceder e independe da apreciação alheia.
Eu vi os olhos e o sorriso da liberdade. E não foi em mim. Eu vi num outro. E era deste outro que eu gostaria de ter escrito. Mas eu nunca sei aonde vou chegar diante da tela em branco. Deixo-me levar. No entanto, não poderia deixar de mencionar aqueles olhos, pois, se eu não tivesse tido o privilégio de contemplá-los, estas linhas não existiriam.
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