
Paródia da vida contemporânea
Aparentemente, Click é um filme cômico despretensioso. Quando resolvi assisti-lo não imaginei a riqueza de seu conteúdo.Não vou contar detalhadamente seu enredo, mas apenas o que for necessário para que a reflexão suscitada em mim seja compreendida.
Michael é um arquiteto, casado e com dois filhos pequenos. Dedica-se sobretudo ao trabalho e sua maior ambição é tornar-se sócio da empresa para a qual trabalha. Mas sua esposa e filhos estão cansados de sua falta de tempo. Num dia de stress, Michael conhece um homem misterioso que lhe presenteia com um controle remoto que lhe permite, entre muitas outras funções, acelerar o tempo, sem que ele precise passar por acontecimentos que julga desagradáveis, como brigas com a esposa.Para ser nomeado sócio da empresa, ele acelera um ano de sua vida. Porém, Michael não havia se dado conta que, após o controle acelerar o que havia sido selecionado por ele durante este tempo, sempre se comportaria desta forma. A partir daí todas as noites de amor e todos os fatos rotineiros como tomar banho e dirigir até o trabalho eram “pulados”. Nestes momentos, ele interagia com outros automaticamente: parecia um zumbi. Assim, seu casamento vai se desmoronando e Michael se desespera.
Trazendo a ficção para realidade, vejo o controle mágico do filme como a nossa vida ou, para ser mais exata, como o cérebro de cada um de nós. Estamos tão preocupados com o amanhã e com o conforto material que esquecemos de desfrutar o momento presente e o que nós já conquistamos. Tomamos café da manhã pensando no almoço. Namoramos pensando no que dia em que formos casados. Vemos nosso filho nascer pensando no que falarão nossos amigos ou como ficará o vídeo do nascimento... “Ligamos o automático” para o pôr-do-sol, para o bom-dia. Voltamos a existir no trabalho, onde planejamos um dia ter tranqüilidade para dar atenção à família. Porém, nos esquecemos que quando este momento chegar tanto não saberemos mais apreciar as coisas simples da vida como provavelmente já teremos perdido o afeto daquelas pessoas deveras importantes para nós.
O que nos tornamos depende do que fazemos no dia-a-dia. Nosso cérebro se modifica com nossas experiências e ao insistirmos numa certa forma de pensar e agir condicionamo-nos à assim ser. Somos livres, mas não é raro nos deixarmos escravizar por nós mesmos, desperdiçando toda uma vida devido à distorção do conceito de felicidade.
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