
Apimentada
Sexta-feira passada, 19, completou-se 25 anos da morte daquela considerada por muitos, a maior voz do país. Elis Regina disse adeus no auge de sua carreira, aos 36 anos. Jovem e enérgica.
Não tive o privilégio de apreciá-la nos seus anos de ouro. Não a vi na televisão, junto a Jair Rodrigues apresentando “O Fino da Bossa”. Não a vi enlouquecendo a platéia nos festivais da Rede Record... Mas hoje em dia, com toda a tecnologia disponível, as gerações que não conheceram Elis, podem desfrutá-la.
Meses atrás encontrei no Youtube uma apresentação dela no Fantástico, em 1975. Fiquei embasbacada! Ela interpreta raivosamente “Como Nossos Pais” (mas seria melhor dizer que ela VIVE essa música enquanto canta!). É de arrepiar! Em outro vídeo, de 1979, no Festival de Jazz de Montreux (Suíça), ela canta Asa Branca com Hermeto Pascoal ao teclado, revelando sua meiguice ao sorrir e acariciar os longos cabelos brancos do compositor multiinstrumentista...
Elis foi polêmica: não media as palavras! Incomodou a ditadura e a mídia. Se fosse baiana, seria “arretada”. Era a Pimentinha. Revelou compositores como Miltom Nascimento, Ivan Lins e Gilberto Gil. Teve a audácia de dispensar Chico Buarque, em 1965, achando-o tímido demais – “cara de jiló” – na ocasião em que ele foi visitá-la oferecendo-a “A Banda” para que ela cantasse no Festival (Nara Leão cantou a música de Chico e dividiu o primeiro lugar com Jair Rodrigues, em 1966, no primeiro Festival da Record). Felizmente, embora não tenham se tornado grandes parceiros, Elis cantou algumas obras de Chico, brindando-nos, por exemplo, com sua incomparável interpretação de “Atrás da Porta”.
Muitos se perguntam por que alguém com tanta vitalidade, uma carreira brilhante e três filhos pequenos, morre por ingerir drogas e álcool. É arriscado julgá-la, pois uma estrela é praticamente inalcançável... Não acredito que Elis desejava pôr fim à sua vida e nem ao menos estava insatisfeita com ela. Preparava um próximo disco. Os artistas que a rodeavam dizem que ela não era muito afeita à cocaína. Experimentara havia um ano. Foi um acidente. Uma dose a mais. Um descontrole de alguém que um dia declarou: “Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé”.
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