
Metáfora
Em 1932, foi realizada uma pesquisa com pessoas portadoras de catarata congênita. Após serem submetidas à cirurgia que lhes deram a visão, elas relataram, inicialmente, que não enxergavam com nitidez. Viam estímulos fortes com muito brilho e cores. Para alguns pacientes estas novas sensações eram tão desconfortáveis que chegaram a solicitar ao médico que lhes restituíssem a cegueira.
Diante daquilo que desconhecemos, agimos, não raramente, de forma análoga a estes pacientes. Quando nos deparamos com uma idéia ou uma proposta de ação diferente e estranha às nossas concepções, tendemos a rejeitá-la de imediato. Refletir e talvez aceitar um pensamento novo, causa sofrimento, pois nos leva a questionar os valores que sustentam nosso juízo acerca da vida. É cômodo e compreensível nosso ímpeto de manter as mesmas convicções. Mas, conseqüentemente, cometemos injustiças, não vislumbrando os benefícios de um conceito inédito.
A história está repleta de casos que ilustram isso. Galileu Galilei, Joana D’Arc, Tiradentes, Nelson Mandela são exemplos de pessoas que foram perseguidas por ousarem nos trazer a luz. Felizmente, como no caso de Mandela, nem sempre o final é trágico - o que nos tapa os olhos é tão absurdo que o tempo se encarrega de desvendar. E não há como esquecer a trajetória de Jesus Cristo...Incoerentemente, muitos o servem, mas esquecem o porquê de sua crucificação. (Remeter à vida de Jesus, ainda que seja extraordinária e incomparável, é imprescindível para demonstrar o que a aversão ao inusitado pode causar).
Mesmo dispensando o conhecimento alheio é impossível não entrarmos em contato com o novo. A novidade é oferecida no cotidiano – a dificuldade não está na falta do que aprender e sim na ausência da curiosidade. No entanto, interessar-se pelo desconhecido implica coragem para enfrentar a própria insegurança e o “risco” de jamais retornar ao estado anterior. Embora pareça complexo, é isso que qualquer criança faz através das brincadeiras e na escola. A diferença é que tememos demasiadamente e pressupomos ou que já sabemos o suficiente ou que não temos mais idade para aprender...O conhecimento é uma obra aberta e interminável, e enquanto a saúde permitir, vale a pena construí-la. Mas é uma viagem sem volta: não cultive a esperança que alguém possa tornar-te “cego” novamente!
NOTA: A alusão à cegueira é apenas uma metáfora. Desprezo qualquer forma de desrespeito ao portador de deficiência visual.
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