Mafalda


terça-feira, agosto 15, 2006


Virtude esquecida

Outro dia fui ao cinema. Tratava-se de um filme voltado para o público infanto-juvenil. Imaginem...Adolescentes em peso! Foi árduo assistir, pois eles conversavam, assoviavam, jogavam pipocas... Isto não é “privilégio” das salas do cinema de Barretos. Um tempo atrás, fui no cinema do shopping de São Carlos. Peguei um ônibus para ir até lá e durante o trajeto atentei-me para uma turma de meninos e meninas que também estavam no coletivo. Falavam alto, faziam algazarra. Confesso que meu incômodo nesta situação fora influenciado por meu humor desfavorável, pois sei como é bom se divertir assim. No entanto, ao entrar na sala de projeção, encontrei o mesmo grupo. Mudei de poltrona duas vezes. Em vão. Só consegui ver de fato, quando alguns meninos desistiram e se retiraram, uma vez que a trama exigia muita concentração.
Não tenho dificuldade nenhuma em conviver com adolescentes. Pelo contrário. Admiro a sinceridade de suas atitudes, a intensidade com que vivem o amor e sua curiosidade infinita. Mas, ultimamente, muitos garotos e garotas desconhecem as condutas básicas do convívio social.
Qualquer adolescente pode apresentar comportamentos de rebeldia, evitar os pais e buscar aprovação nos amigos. É natural que ajam assim, pois estão numa fase de descoberta do próprio corpo e do sexo oposto, de questionamento dos valores paternos e de construção da identidade. O que causa estranhamento é que muitos não respeitam o limite entre eles e o outro, seja este outro adulto, criança ou adolescente de um grupo que não o seu. Procedem como se o mundo pertencesse apenas a eles, principalmente quando estão com a “turma”. Às vezes, o espaço do outro é ignorado (como no caso do cinema), porém, há situações em que a pessoa é diretamente agredida, verbal ou fisicamente.
É importante ressaltar que este aspecto da adolescência de hoje é global e não se restringe à determinada classe social. Casos de bullying (termo inglês para os atos, nas escolas, de humilhação e agressão física e psicológica constante, infringida por aluno contra um outro aluno “escolhido” para ser a vítima) são freqüentemente relatados nas instituições particulares.
Embora os pais tenham uma parcela de responsabilidade pelo desnorteamento dos filhos, acredito que isto seja um reflexo da sociedade como um todo. A mídia, geralmente, prega a realização individual e momentânea como o bálsamo da felicidade. E os membros da sociedade abençoam quem atingem tal êxito. Assim, os adolescentes buscam o prazer a todo custo, seguindo o modelo do lar, das pessoas públicas e da televisão. Infelizmente, colocar-se no lugar do outro se tornou uma virtude rara.

Nenhum comentário: