
A Festa do Peão é uma grande celebração de nossa cidade. Fora daqui, quando se fala de Barretos, pensam de imediato na nossa famosa Festa. Sou barretense e desde criancinha a freqüento. Apesar disso, apenas neste ano reparei com tristeza no que vou lhes dizer. Ressalvo, desde já, que não estou criticando especificamente ninguém. Expresso aqui meu descontentamento a partir de um olhar desprovido de fanatismo por este evento.
Na primeira noite, tive o privilégio de ficar num dos camarotes. É óbvio que isso me agradou. Extremamente confortável! Além de comida e bebida à vontade, os sanitários estavam sempre limpos, pois os funcionários permaneciam lá. Estive num dos ranchos também. Situação semelhante. Já no sábado, após jantar no rancho, fui para a arquibancada do estádio. Estava completamente lotado. Passado um tempo, fui ao sanitário. Na verdade, tentei ir: a situação estava deplorável, chegando a ser desumano pedir a alguém que o utilizasse. Então, resolvi esperar, sentei e comecei a divagar. Neste momento, eu já não via o show. Passei a enxergar um retrato cruel daquela festança.
O que pensei primeiramente era porque o “povo” não pode desfrutar de banheiros limpos. Depois, fiquei triste ao lembrar que alguém teria que higienizar aquele sanitário no dia seguinte. “Nossa, quem faz esse tipo de serviço deveria ganhar muitíssimo bem”, pensei ingenuamente...Então, a amargura tomou conta de mim e refleti: “quem tem boas condições econômicas, gasta menos para curtir a Festa e é agraciado com imenso conforto; por outro lado, as pessoas de baixa renda, pagam para assistir os shows, por comida e bebida e, às vezes, são obrigadas a se submeterem a situações sórdidas, como a de utilizar aquele sanitário”. Essas idéias só cessaram quando minha necessidade me obrigou a me retirar do estádio e seguir para o rancho. E o mundo voltou a ser “cor-de-rosa” por alguns momentos...
Não sou ingênua de achar que o “povão” não estava se divertindo. A vida cotidiana é árdua e nestas ocasiões o ideal é extravasar. Além disso, é típico de nós brasileiros aceitar aquilo que é dado. Não temos um espírito reivindicador. Para mim, seria conveniente esquecer o que senti sábado à noite. Mas o sentimento foi mais forte que a razão. Não consigo me conformar e aceitar que o mundo seja naturalmente injusto. Pois se é, de onde vieram nossas idéias de igualdade?
NOTA: Este texto foi escrito para o jornal "O Diário" de Barretos. Mas não foi publicado...
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