Mafalda


sexta-feira, agosto 03, 2007


O novo sempre vem

Conhecer é uma tarefa que parece mesmo não ter fim. Quando você acha que compreende a si mesmo, de repente, encontra-se reagindo estranhamente... Quando você pensa que seu julgamento sobre alguém é o correto, espanta-se frente a atitudes até então nunca vistas...Temos uma intensa necessidade de conservar o que somos, arraigando-nos a certas características para nos definir. Semelhantemente, esperamos que o outro não mude e atribuímo-lo uma personalidade estática. Suponho que esta aspiração para conservar tudo como sempre foi seja a responsável pelo nosso assombro diante do novo.
Acredito que na relação entre pais e filhos, espantos ocorrem em abundância. Há pequenos sustos como aquele vivido por um pai acostumado com filho que ouvia Rebeldes e de repente começa a se esgoelar no quarto com o heavy-metal do Iron Maiden (o fato do pai se assustar não significa necessariamente que ele desaprova). Outras mudanças de rumo têm um impacto maior, por exemplo, quando uma jovem, ótima aluna, anuncia para seus pais, à véspera da inscrição para o vestibular que, em vez de pleitear uma vaga no curso de Medicina, concorrerá para a formação em Artes Cênicas. Assim, independente dos pais serem mais ou menos conservadores, surpreendem-se diante das transformações repentinas daqueles que julgavam conhecer tão bem. Felizmente, conflitos como estes podem ser superados se houver disposição para aceitar o que não estava escrito.
Fora do ambiente familiar, a tolerância com o diferente é menor. Ao inserir-se em um grupo (de trabalho, estudo, esporte, etc) que já tem sua dinâmica (funcionamento) estabelecida, é preciso ser cuidadoso para não ser apontado como a causa das desavenças. Suponhamos que um novo membro de um grupo qualquer apresente propostas visando melhorar o rendimento e amenizar os conflitos já existentes: o líder do grupo, caso se julgue onipotente, pode se sentir ameaçado (o novato teve uma idéia que ele, o líder, não havia pensando). Se assim for, o líder certamente colocará todos a favor dele, estimulando o isolamento do novo membro...Mas é preciso ressaltar que não é apenas o grupo que rejeita o novo: ao conservar intactas convicções e estratégias, a pessoa que se inclui no grupo também está se recusando a compreender o diferente.
Impor é tarefa para tiranos. Conceder é atitude de sábios.

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