Mafalda


quarta-feira, agosto 08, 2007

Abracadabra!

Dois gênios do cinema faleceram na semana passada: Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni. Longe de Hollywood, ambos os cineastas inovaram (cada qual à sua maneira) a linguagem cinematográfica e tornaram-se referências para diretores do mundo todo. De Bergman, assisti a alguns filmes e, dentre eles, Saraband é o meu favorito. Já de Antonioni, infelizmente, nenhum: ao ler sobre sua obra, prometi a mim mesma ver Blow Up. Mas por acaso caiu em minhas mãos um filme que à primeira vista não passava de entretenimento: O Grande Truque. Não que seja uma arte como às dos cineastas mortos, mas tem valor, sobretudo, por ensejar uma certeira metáfora sobre a Sétima Arte.
No geral, o filme conta a história de dois mágicos profissionais que se tornam inimigos após uma tragédia. Porém, se olharmos bem de perto (como pede um dos protagonistas), perceberemos que o diretor do filme não inteciona apenas falar de mágica, mas também do próprio ato de fazer cinema: os mágicos são os cineastas e a platéia, nós, amantes da “telona”. Qual é a razão de ser do cinema? Assim como os truques nos iludem, nos levam a ver o logicamente impossível, os filmes, independente do gênero, transportam-nos para uma realidade inventada. Do mesmo modo que nos encantamos com uma mágica, mesmo sabendo que é “armação”, choramos, sofremos, nos assustamos e rimos diante de uma história fictícia.
Mas a analogia entre mágica o cinema não pára por aí. O próprio enredo de O Grande Truque desenvolve-se como uma apresentação de ilusionismo (segundo o narrador-personagem, todo grande truque consiste em três atos seqüenciais: “A Promessa”, algo aparentemente comum é exibido; “A Virada”, momento em que o comum transforma-se em extraordinário; e, por último, “O Prestígio”, as vidas ficam por um fio e o espectador vê alguma coisa impressionante). Desde Alfred Hitchcock, os bons suspenses seguem esta lógica. Além disso, tanto na mágica como nos suspenses hitchcockianos tudo que é apresentado ao espectador tem um porquê. O Grande Truque não foge à regra...
Bergman e Antonioni mostraram a natureza humana como ela é, não nos iludindo quanto a isso. Por outro lado, foram mestres inigualáveis no truque de nos fazer vivenciar os dramas de seus personagens. Mas enquanto necessitarmos de lágrimas, enigmas, aventuras, risos e surpresas, outros cineastas continuarão a satisfazer, magicamente, nossos desejos.

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