Mafalda


quarta-feira, fevereiro 28, 2007




Má-educação

Quando dirijo pela cidade, vejo motoristas e passageiros atirando lixo pelas janelas dos carros. Às vezes, é alguém que está comigo que comete tal deselegância, mesmo tendo uma sacolinha para os entulhos no interior do veiculo. Os objetos arremessados variam: papel, copo plástico, latas de alumínio e, absurdamente, garrafas de vidro. É um péssimo costume que, embora não se restrinja aos barretenses, infelizmente é muito comum aqui.
Na minha época escolar, se um aluno lançava um papel ao chão, o professor logo dizia: “Você faz isso na sua casa?”, mandando-o recolher e jogá-lo na lata de lixo. E é disso que me lembro quando alguém suja as ruas da cidade. Tratando-se de um passageiro meu, meu desejo é frear o carro e ordená-lo a pegar o resíduo. Já, estando a pessoa em outro veículo, minha vontade é chamar sua atenção por seu ato grosseiro. Em ambos os casos, minhas ações só ocorrem em pensamento, pois se eu tomasse as atitudes ansiadas provavelmente perderia amigos e arrumaria muitas desavenças no trânsito.
Um dia desses, jogando conversa fora, meu irmão atentou-me para outra prática rude. Toda vez que ele oferece um churrasco ou um jantar à lenha, seus convidados fumantes atiram as bitucas no seu jardim, embora haja inúmeros cinzeiros. Não refletem nem por um segundo que as plantas não merecem tal desprezo e muito menos pagar pelo vício de alguns. Além do que, quem arca com a sujeira pós-festa é sempre o anfitrião. Creio que isso ocorre nas casas de muitos de nós...
Em tempos em que a questão ambiental vem sendo a preocupação crucial da humanidade, está mais do que na hora de começarmos a fazer, pelo menos, o que preza a boa-educação. É fato que quanto mais sujo um local está, mais lixo depositamos lá. E não é por falta de lixeiras. Um exemplo de como só a presença delas não é suficiente ocorre durante a Festa do Peão: o Parque tranforma-se em um imenso depósito de resíduos. (Porém, um maior número de cestos de lixo nas ruas da cidade é sempre bem-vinda!). Uma cidade limpa, além de proporcionar beleza, mostra o quanto seus cidadãos importam-se com o espaço público (o mesmo vale para os convidados de nossas festas). Se cada um se conscientizar da importância de manter a higiene do local que parece não pertencer a si, conservando-o limpo, dificilmente alguém se atreverá iniciar sua deterioração.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007


Dilemas

A trágica morte do garoto João Hélio suscitou inúmeros debates acerca da personalidade dos algozes e sobre a pena mais adequada para eles. No último domingo, o caderno Mais da Folha de S. Paulo apresentou diferentes pontos de vista sobre o caso. Esta leitura, acrescida de minhas próprias concepções, desdobrou-se na reflexão aqui apresentada.
A característica humana que sustenta o conviver é a empatia. Ser empático significa conseguir colocar-se no lugar de outra pessoa, ou seja, sentir e experimentar o mundo a partir da perspectiva alheia. Dela deriva-se a compaixão: o sentimento de pesar que apresentamos frente ao sofrimento de alguém. Tal atributo é exercido com menor esforço diante daquilo que conhecemos. Mas a empatia genuína ou absoluta é a do indivíduo que consegue reconhecer qualquer um como ser humano, e, portanto, digno de compaixão.
No infanticídio que chocou o país, está evidente que os assassinos carecem de empatia. O mínimo sofrimento de uma criança gera, na maioria de nós, o ímpeto de cessá-lo. Se formos nós que provocamos a dor (física e/ou psicológica), sentimo-nos culpados depois. Já os responsáveis pela morte do garoto nada sentiram e, pelas declarações dadas, não se arrependeram. Assim, pergunto-me: qual seria a pena adequada para eles? Se eu responder que merecem uma morte terrível, estaria me igualando a eles (uma vez que isto denotaria que não me coloco no lugar deles e não os considero humanos)? Custa-me encontrar humanidade neles - algo a partir do qual suas vidas se justifiquem. Trata-se de uma questão sobre a qual não tenho uma opinião definitiva, pois não sei dizer se estes jovens são recuperáveis. Desconheço até que ponto a compaixão pode ainda ser imbuída nos seus espíritos.
O Poder Público está, atualmente, diante de um dilema: dar aos adolescentes criminosos (e agora me refiro a qualquer menor infrator) uma chance de humanizar-se mediante ao aumento do tempo de internação e à efetivação das medidas sócio-educativas contidas no ECA ou deixar que, a partir da redução da maioridade penal, sejam “educados” nas cadeias ou mesmo punidos fatalmente pelos presidiários – diga-se de passagem, uma hipocrisia do Estado brasileiro que, ciente da forma como os presos tratam autores de crimes hediondos, transfere a responsabilidade sobre a vida dos condenados a eles, ou seja, torna possível a prática da pena de morte, ainda que extra-oficialmente.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007


Despedidas

Existem épocas em que experimento um imenso vazio. É como se eu sentisse um soco no estômago direcionado à alma. Fico entontecida! Parece que não há nada que mudará esta sensação. Por alguns instantes, é eterna!
Quando eu era criança, momentos assim aconteciam com mais freqüência e com maior intensidade. Bastava encerrar-se as festas de fim de ano, uma Copa do Mundo, o Carnaval ou as férias escolares de Julho...O vazio chegava...Devorador...Sentia uma tristeza que não sabia ao certo de onde vinha. Sei que em todas as ocasiões citadas, eu estava rodeada de pessoas, principalmente da família. Eu vivia cada segundo como se fosse o último, sem pensar no amanhã. Depositava toda minha energia nas brincadeiras, nos jogos, numa ida à sorveteria. O fim de cada um destes períodos significava a volta à rotina e a espera para o reencontro.
Com o tempo, além de eu ter crescido, os parentes não reúnem mais como outrora. As festas em dezembro não são mais as mesmas. E nem todos tem férias em Julho. No entanto, dias atrás, o vazio voltou. Veemente como na infância. As férias voltaram a ser especiais: além meu namorado passar quase dois meses em minha casa, dois primos meus, Eric e Carla, permaneceram por cerca de um mês por aqui. E eu, apesar adulta, não perdi a mania de viver como se eles não fossem partir...Mesmo que eu escrevesse páginas e páginas sobre o que fizemos, talvez não achassem nada extraordinário. Não fomos à praia. Eu, meu amor e minha prima passamos muitíssimo tempo juntos. Assistimos à diversos filmes. Fuçamos bastante no Orkut e vimos vários vídeos no Youtube (descobri que usar o computador não é algo que se faz necessariamente sozinho). Tomamos sorvete demais! Passeamos nos fins de semana E, sobretudo, conversamos...
Para coroar esta temporada, fomos no casamento de um primo nosso, em Ribeirão Preto. Quase toda a família reunida. Dançamos e conversamos o quanto foi possível. No dia seguinte, ainda em Ribeirão, o vazio foi chegando de mansinho. Primeiro minha priminha e seu irmão se foram. Mais tarde, meu amor... O choque mesmo eu senti quando retornei para casa. Um quase silêncio perturbador. Não escutava mais os passos do Eric, não ganhava beijos amorosos e não me divertia com os “causos” da Carlinha. Doeu! Mas enfim aprendi que a falta nos ensina a valorizar a vida e as lembranças estão aí para nos confortar.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007




Big Brother é o Brasil?

Recebi um e-mail que reforçou a minha opinião sobre o Big Brother Brasil: aproximadamente 29 milhões de brasileiros ligam para votar e sendo o preço da ligação R$ 0,30, o total gasto é de 8.700.000. Numa só noite! O Criança Esperança não consegue tal feito....
Eu posso até entender porque o Big Brother tem tanta audiência: no geral, as pessoas gostam de saber da vida alheia e, poder presenciá-la assim, ao vivo, já é um atrativo forte; além disso, o programa passa a sensação ao público de que este tem o controle da vida dos participantes, pois a saída da “casa” é decidida através da votação dos telespectadores. Um outro ponto, não menos importante, é o fato que os “big brothers” não são pessoas famosas e, pelo menos idealmente, são indivíduos comuns como qualquer um de nós: facilmente nos identificamos.
Entendo. Mas urge refletir sobre as explicações que listei acima. Primeiro: é prazeroso saber da vida alheia, mas o que há de tão especial no dia a dia desses participantes? O que há para ver? O cotidiano deles está distante de ser o que fazemos todo dia. Segundo: os telespectadores decidem sim a saída de um membro do programa, mas estão longe de decidir o futuro de vida deles. È uma falsa sensação. É um “truque” muito semelhante ao das propagandas publicitárias. Terceiro: os “big brothers” são pessoas escolhidas a dedo pela produção e duvido que não foram selecionados com a intenção de cativar a audiência (da mesma forma que os atores são escolhidos para seus papéis nas telenovelas).
Para compreender o fenômeno Big Brother com mais clareza, centrei-me na questão da identificação. Os participantes do programa não se mostram como pessoas inteiras (ainda tenho fé que não são somente o que parecem). Querendo ou não, estão representando na tentativa de agradar os mais variados tipos de brasileiros. É extremamente difícil ser genuíno nesta situação. A alternativa é mostrar o que é aceito socialmente, falar sobre o que todos entendem. Porém, isto não é um empecilho para o funcionamento do programa e sim o que permite seu sucesso: qualquer telespectador pode se colocar no lugar do participante, ou melhor, ocupar o lugar do “big brother”. Vence aquele que transmite um vazio suficiente para que a maior parte dos telespectadores possa se ver no papel dele.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007


Paródia da vida contemporânea


Aparentemente, Click é um filme cômico despretensioso. Quando resolvi assisti-lo não imaginei a riqueza de seu conteúdo.Não vou contar detalhadamente seu enredo, mas apenas o que for necessário para que a reflexão suscitada em mim seja compreendida.

Michael é um arquiteto, casado e com dois filhos pequenos. Dedica-se sobretudo ao trabalho e sua maior ambição é tornar-se sócio da empresa para a qual trabalha. Mas sua esposa e filhos estão cansados de sua falta de tempo. Num dia de stress, Michael conhece um homem misterioso que lhe presenteia com um controle remoto que lhe permite, entre muitas outras funções, acelerar o tempo, sem que ele precise passar por acontecimentos que julga desagradáveis, como brigas com a esposa.Para ser nomeado sócio da empresa, ele acelera um ano de sua vida. Porém, Michael não havia se dado conta que, após o controle acelerar o que havia sido selecionado por ele durante este tempo, sempre se comportaria desta forma. A partir daí todas as noites de amor e todos os fatos rotineiros como tomar banho e dirigir até o trabalho eram “pulados”. Nestes momentos, ele interagia com outros automaticamente: parecia um zumbi. Assim, seu casamento vai se desmoronando e Michael se desespera.

Trazendo a ficção para realidade, vejo o controle mágico do filme como a nossa vida ou, para ser mais exata, como o cérebro de cada um de nós. Estamos tão preocupados com o amanhã e com o conforto material que esquecemos de desfrutar o momento presente e o que nós já conquistamos. Tomamos café da manhã pensando no almoço. Namoramos pensando no que dia em que formos casados. Vemos nosso filho nascer pensando no que falarão nossos amigos ou como ficará o vídeo do nascimento... “Ligamos o automático” para o pôr-do-sol, para o bom-dia. Voltamos a existir no trabalho, onde planejamos um dia ter tranqüilidade para dar atenção à família. Porém, nos esquecemos que quando este momento chegar tanto não saberemos mais apreciar as coisas simples da vida como provavelmente já teremos perdido o afeto daquelas pessoas deveras importantes para nós.

O que nos tornamos depende do que fazemos no dia-a-dia. Nosso cérebro se modifica com nossas experiências e ao insistirmos numa certa forma de pensar e agir condicionamo-nos à assim ser. Somos livres, mas não é raro nos deixarmos escravizar por nós mesmos, desperdiçando toda uma vida devido à distorção do conceito de felicidade.