
Talvez uma das maiores dificuldades do ser humano seja lidar com a dor alheia. Ver alguém sofrendo nos emociona e nos mobiliza, mas também pode nos dar a sensação de que nada podemos fazer para ajudar. No entanto, mesmo que sejamos incapazes de cessar o sofrimento do outro, acredito que amenizá-la, nem que seja por alguns instantes, é sempre possível.
Quando vemos uma pessoa querida em estado de desespero, comumente queremos vê-la reagir. Dói ver alguém que apreciamos numa má condição, e mais: o sofrimento alheio interfere no nosso humor (sim, creio que somos “egoístas” o suficiente para pensarmos no nosso bem-estar, ainda que não tenhamos plena consciência disso). Assim, geralmente, nossa primeira ação é aconselhá-la, apresentando-lhe alternativas para suas dúvidas ou relatando nossas próprias experiências.
Certamente, alguns conselhos são bem vindos, pois através deles pode surgir uma saída que a pessoa em estado de sofrimento não consegue encontrar. No entanto, esquecemo-nos que talvez aquele que está à nossa frente, desesperado e melancólico, necessita, sobretudo, falar. E muitas vezes a melhor forma de aliviar sua dor seja escutá-lo com atenção e acolhê-lo com nosso olhar.
É aparentemente fácil e simples ouvir. Porém, praticamos pouco. Talvez a pressa cotidiana, talvez os questionamentos que as sofridas palavras alheias nos levam a fazer sobre nós mesmos e/ou mesmo nosso ímpeto de resolver rapidamente a situação nos tornam maus ouvintes. Não sei afirmar com certeza o motivo. Mas sei que quando aconselhamos sem ouvir, podemos correr o risco de menosprezar a dor do outro. Podemos levá-lo a se sentir mal e culpado, ao dizer, por exemplo: “você tem uma vida confortável, não tem porque sofrer!”.
É preciso saber respeitar o sofrimento alheio, escutá-lo sem julgamento prévio. Talvez não compreendamos o motivo para tanta angústia (lembro-me de Shakespeare: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”), mas o que importa é que o outro sinta que a dor dele é válida e que, apesar dela, ele continua querido.
*Dedico este texto àqueles meus amigos que deixaram a minha dor gritar bem alto e me acolheram, cada qual a sua maneira, durante as últimas semanas: Ana Luisa, Cleiton, Guilherme (San), Marcelo(Calunga), Thiago (Ser Humano), Henrique, Ny, Elieni, Keké, Mirian, Luiz Augusto, Danielli, Drausio, Eleusa.
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