Mafalda


quinta-feira, março 27, 2008


Dia de futebol

A decepcionante atuação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006 e a lastimável campanha do Corinthians no último Brasileirão desmotivaram-me a assistir a partidas de futebol. Porém, sendo brasileira e tendo um pai que é apaixonado por futebol é difícil se distanciar totalmente deste esporte: quando vou jogar vôlei, o Campeonato Paulista é assunto corriqueiro e, na sala de minha casa, é difícil não encontrar a TV sintonizada num jogo ou num programa esportivo. Assim, mesmo sem muito esforço, mantive-me um pouco informada, mas não o suficiente...
Somente às 16h da última quarta, eu soube pelo meu pai que a Seleção faria um jogo festivo contra a Suécia dali a uma hora. Quando ele me informou, indaguei um tanto surpresa se era mesmo a seleção principal (há um tempo, um jogo assim não teria me passado despercebido e eu conheceria a escalação: tantos dos titulares como dos reservas). Liguei a TV quando a bola já estava para rolar, ou seja, não vi os nomes dos jogadores em campo. Para minha satisfação, nenhuns deles eram estranhos a mim. E confesso que fiquei feliz ao constatar que Ronaldinho Gaúcho e Kaká não estavam lá (ainda não engoli a atuação medíocre de ambos em 2006).
Achei o primeiro tempo bastante sonolento e Diego, em minha opinião, foi o melhor em campo. (Em tempo: desculpem-me os são-paulinos, mas pelo futebol apresentado quarta Richarlyson está longe de ser um lateral merecedor de um lugar na Seleção). Mas eu queria ver mesmo Alexandre Pato, o menino de 18 anos, goleador do Milan, jogar pelo Brasil. Estreou e brilhou: aquele golaço me fez sentir paixão pelo futebol novamente!
Quando eu achei que meu dia de futebol estava encerrado, minha irmã me contou que o Corinthians enfrentaria o Santos logo mais (e eu não sabia!). Então me acomodei para ver uma partida repleta de lances emocionantes (numa quantidade bem maior que a do jogo da Seleção). Seria perfeito se o árbitro não quisesse aparecer para decidir a partida (até o Pelé disse que o santista Kléber Pereira cometeu falta). De início, fiquei desanimada mais uma vez com futebol, mas bastou eu me lembrar da “arte” de Pato para perceber que ainda é bem gostoso torcer e gritar “goooooooooool”.

quinta-feira, março 20, 2008


Vazios

Era o fim. A partir daquele instante a vida dele perdeu todo sentido. Seu abatimento transpunha sua alma: tomava-lhe o corpo todo. Não era só a uma grande paixão que ele estava dizendo adeus. Era a todo um projeto de vida. Era o adeus à sua escolha que embora tenha sido a mais arriscada, foi talvez a única que ele fizera sem titubear.
Ele realmente a amara? Esta pergunta o atormentava dia após dia. Ele não sabia. Ele tentava se convencer que não passara de uma paixão. (Dizem que o cupido usa uma flecha porque ela é capaz de nos cegar). Ele se esforçava para acreditar que esteve cego e ludibriado pela paixão. Mas ele não deixava de pensar nela, ora com carinho, ora com rancor, ora com amor. Ele animava-se em esquecê-la, despojá-la de sua vida, mas seus sonhos traiam sua vontade.
Foi ele quem resolveu terminar. No entanto, ele jamais se sentiu como se o tivesse feito: achava que o fim se dera no momento em que ele deixou de se sentir amado. Ela negava que seu amor tivesse mudado. Para ele não era uma questão de palavras e sim de sensações, percepções, afetos. Foi penoso falar a ela: os dias que antecederam o fim foram atordoantes: ele mal dormia. Só decidiu quando se deu conta que ele ocupava muito pouco da vida dela, enquanto ela tomava-lhe cada segundo do seu cotidiano. Ele sabia que seu viver deixara de ser saudável e só tendia a piorar...
Nos primeiros instantes, sentiu uma espécie de alívio: não sofreria mais, não precisaria mais esperar por um carinho, não seria mais frustrado pelas as atitudes dela. Esta sensação durou pouco. Logo se instalou o vazio. O vazio de não tê-la, o vazio de não ter alguém a quem poderia chamar de “meu amor”. E era neste estado que, mesmo após dois meses ele se encontrava. Ele sabia que não seria sempre assim. Mas o tempo parecia cruelmente ter parado... Inevitavelmente, lembrava-se do início: os planos, a empolgação. Recusava-se a aceitar que ela era apenas aquela pessoa distante do final: não queria sentir-se iludido, não queria ter mágoas de sua outrora amada.
Ele jamais a compreendeu por inteiro. Ela nunca se deixou revelar. E ele acabou se tornando parecido com ela: em tempo nenhum se permitiu amar novamente.

quinta-feira, março 13, 2008

Deixe a dor falar mais alto! *

Talvez uma das maiores dificuldades do ser humano seja lidar com a dor alheia. Ver alguém sofrendo nos emociona e nos mobiliza, mas também pode nos dar a sensação de que nada podemos fazer para ajudar. No entanto, mesmo que sejamos incapazes de cessar o sofrimento do outro, acredito que amenizá-la, nem que seja por alguns instantes, é sempre possível.
Quando vemos uma pessoa querida em estado de desespero, comumente queremos vê-la reagir. Dói ver alguém que apreciamos numa má condição, e mais: o sofrimento alheio interfere no nosso humor (sim, creio que somos “egoístas” o suficiente para pensarmos no nosso bem-estar, ainda que não tenhamos plena consciência disso). Assim, geralmente, nossa primeira ação é aconselhá-la, apresentando-lhe alternativas para suas dúvidas ou relatando nossas próprias experiências.
Certamente, alguns conselhos são bem vindos, pois através deles pode surgir uma saída que a pessoa em estado de sofrimento não consegue encontrar. No entanto, esquecemo-nos que talvez aquele que está à nossa frente, desesperado e melancólico, necessita, sobretudo, falar. E muitas vezes a melhor forma de aliviar sua dor seja escutá-lo com atenção e acolhê-lo com nosso olhar.
É aparentemente fácil e simples ouvir. Porém, praticamos pouco. Talvez a pressa cotidiana, talvez os questionamentos que as sofridas palavras alheias nos levam a fazer sobre nós mesmos e/ou mesmo nosso ímpeto de resolver rapidamente a situação nos tornam maus ouvintes. Não sei afirmar com certeza o motivo. Mas sei que quando aconselhamos sem ouvir, podemos correr o risco de menosprezar a dor do outro. Podemos levá-lo a se sentir mal e culpado, ao dizer, por exemplo: “você tem uma vida confortável, não tem porque sofrer!”.
É preciso saber respeitar o sofrimento alheio, escutá-lo sem julgamento prévio. Talvez não compreendamos o motivo para tanta angústia (lembro-me de Shakespeare: “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”), mas o que importa é que o outro sinta que a dor dele é válida e que, apesar dela, ele continua querido.
*Dedico este texto àqueles meus amigos que deixaram a minha dor gritar bem alto e me acolheram, cada qual a sua maneira, durante as últimas semanas: Ana Luisa, Cleiton, Guilherme (San), Marcelo(Calunga), Thiago (Ser Humano), Henrique, Ny, Elieni, Keké, Mirian, Luiz Augusto, Danielli, Drausio, Eleusa.

quinta-feira, março 06, 2008

Doa a quem doer!

Em 1975, a Associação Médica Mundial, definiu a tortura como “o sofrimento físico ou mental provocado de forma deliberada, sistemática ou arbitrária por uma ou mais pessoas, que age sozinha ou sob as ordens de qualquer autoridade, para forçar uma outra pessoa a entregar informações, obrigar a confessar, ou para qualquer outra razão” (Declaração de Tóquio, 29ªAssembléia Médica Mundial). Embora falar de tortura nos remeta a crimes contra prisioneiros de guerra e aos anos de chumbo das ditaduras latino-americanas sua prática ainda é bastante usual.
A fim de reagir a esta violência, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), ligada à Presidência da República pretende criar comitês de luta contra a tortura em nível nacional: ativistas de direitos humanos, do governo e de organizações não governamentais empenhados em combater não só a tortura física como também a psicológica, passarão a monitorar locais de detenção.
Eu não sei até que ponto sou inocente demais, mas até há pouco tempo eu acreditava que a tortura era praticada por aqueles policiais que tem uma vida estressante, como aqueles que trabalham nas favelas atrás de traficantes de drogas (tal como retratou o filme “Tropa de Elite”). E mesmo assim já achava um absurdo o fato da mulher de um traficante ser torturada para entregar o marido. No entanto, recentemente “descobri” que não tão longe como eu supunha, detentos apanham sistematicamente para que confessem todos os crimes praticados (as pancadas não deixam lesões, pois são feitas em locais do corpo estrategicamente calculadas pelos policiais). Além do mais, a tortura psicológica é infringida àqueles que estão ainda na condição de interrogado.
Penso que já passou do momento do governo por em prática o monitoramento dos locais de detenção (teoricamente, as visitas às instituições serão realizadas por um perito do Ministério Público e por profissionais qualificados para identificar a tortura, como médicos, psicólogos, arquitetos, psicólogos e assistentes sociais.). Fiquei atônita quando me disseram que este crime é uma prática comum e institucionalizada. Mas acho inaceitável. Se há uma Lei, que seja cumprida! Se ela é justa ou não, que sejam usados os meios lícitos para modificá-la!