Mafalda


quarta-feira, setembro 12, 2007


Maturidade e brandura

Algumas situações que antes me incomodavam, deixam-me indiferente. Por um lado, fico feliz, pois isto significa que estou cada vez mais apta para superar os percalços da vida. Por outro, entristeço-me, já que posso estar menos sensível... Então, indago-me: É preciso endurecer para atingir a maturidade?
Na infância, o ser humano é extremamente suscetível, pois está aberto para o mundo. É preciso pouco para fazê-lo rir ou chorar. Fala o que pensa – chega a ferir o outro por ainda não ter aprendido a encobrir seus sentimentos...Os anos passam e vamos assimilamos valores e normas sociais: o adolescente pondera sobre o quê e com quem falar, pois isto é essencial para a sua inserção num grupo. Mas, mesmo que guarde suas impressões para si, é extremamente sensível, sofrendo por razões que os mais velhos geralmente acham banais.
A aquisição da responsabilidade e da independência em relação aos pais (não só financeira como também emocional) é basicamente o que faz alguém ser considerado adulto. No entanto, na prática, isto não basta: uma pessoa adulta deve controlar seus impulsos, agir com austeridade e ter metas bem definidas, sobretudo se ela estiver inserida numa comunidade tradicional. Pouco espaço sobra para a espontaneidade, pois ser comedido é quesito para ser aceito socialmente – sem percebermos, quanto mais velas apagamos, mais restringimos nossa franqueza, reservando-a somente àqueles que consideramos íntimos...
Também deixamos de nos comover com questões que a maioria julga irrelevante ou escolhe ignorar, já que trazê-las à tona tornar-nos-iam inconvenientes. Além do mais, para usufruir um bem-estar material, o adulto geralmente centra-se no trabalho e na família. Assim, é comum um jovem universitário engajar-se em causas político-sociais que visam a igualdade social e, ao entrar para o mercado de trabalho, abandonar seus ideais.
Não sucumbir a este modelo de adulto é pouco provável. Mas busco resguardar, da minha infância, a curiosidade e o encanto pelo novo, e, da minha adolescência, a urgência de viver e a disponibilidade para fazer novos amigos. Meus ideais estão preservados, ainda que muitas vezes, no conviver, sinto-me impelida a escondê-los...
Acredito que a seriedade e sensatez adulta realmente proporcionam menos sofrimento. Porém, parodiando Che Guevara, é preciso amadurecer, mas jamais perder a ternura!

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