Mafalda


terça-feira, junho 26, 2007



Reinvente-se sempre!

Gilberto Dimenstein, em sua coluna dominical na “Folha de S. Paulo”, comentou uma pesquisa onde se constatou que idosos, após aprenderem usar a internet, sentem mais desejo de viver. A partir deste dado, o jornalista concluiu que o engajamento em qualquer atividade desafiadora faz bem para a saúde de qualquer ser humano, seja ele criança, jovem, adulto ou idoso. Em outras palavras, aprender uma nova habilidade significa saborear a vida, pois o corpo e/ou a mente são levados à ação. Isto, sobretudo para o idoso, é extremamente valioso, ainda mais se ele pensa que só lhe resta esperar pelo fim...
A curiosidade foi o motor das maiores descobertas da história da civilização. Mesmo Albert Einstein nada teria realizado se não estivesse incutido em sua alma o anseio de inovar (e talvez seja esta a primeira condição para que um talento se desenvolva). Infelizmente, muitos de nós, quanto mais velhos ficamos, mais nos acomodamos naquilo que já sabemos. Deixamos para trás aquele interesse que tínhamos na época da infância – aquela necessidade de ter explicação para tudo. E, para piorar, muitos pais e professores além de podarem o desejo de conhecer da criança, repreendendo as indagações que ela lhes dirige, ignoram as aptidões dela.
Lembrei-me, agora, de um verso de Chico Buarque “(...) o tempo passou na janela e só Carolina não viu”. Quantas “Carolinas” conhecemos? A pessoa que desiste de desafiar a si mesma, de testar seu saber, de buscar novos limites conformou-se em ver a vida de camarote. É confortável, há menos riscos de se decepcionar. Mas, ao mesmo tempo, significa privar-se do prazer que é tentar aprender uma nova habilidade. Pois, ainda que não se consiga atingir o objetivo, o tempo dedicado será válido: caminhar por territórios desconhecidos é, por si só, assimilar experiências. Já, imagine aventurar-se numa atividade e descobrir que não só é capaz de realizá-la como também se sente muito bem fazendo?
Talvez, desbravar novos horizontes faça tão bem a nós, simplesmente, por ser uma necessidade básica do ser humano. Neste sentido, negá-la, abster-se dela representa infringir nossa natureza e, por conseguinte, propiciar o nosso adoecimento. Não é à toa que o idoso, ao aprender uma nova atividade, passa a apreciar mais a vida. Viver ou morrer, de certa forma depende de nós...

terça-feira, junho 19, 2007






Tempos memoráveis

Lugares têm vida própria, pois carregam consigo uma história – daí a importância de conservá-los ainda que seja apenas na memória... Ultimamente um lugar em especial vem habitando meus pensamentos. Tem sido inevitável não me lembrar do “Bar do Caju”...
Dias atrás conheci e conversei com quem dirigiu o “Caju” até 1987: o irmão do saudoso João. Seu rosto e sua voz pareceram-me familiar... Naquela noite eu soube que o “Bar do Caju” foi o primeiro bar do Brasil projetado por um arquiteto, que Inezita Barroso costumava freqüentá-lo e que, por um tempo, a venda de uísque lá só era inferior à de bares das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte! Não conheci os anos dourados do “Caju” mas senti uma saudade esquisita (aquela sensação nostálgica por algo nunca vivido por nós). Imagino que Barretos era bem diferente...
Quando comecei a freqüentá-lo, o “Caju” já não era um bar-restaurante, era um botequim. Nesta época, já estava nas mãos do João e de sua esposa. Eu adorava sentar no balcão e papear com ele. Quando eu e minha amiga Amanda passávamos por lá durante o dia, parávamos apenas para conversar – o João tinha fama de ranzinza, mas conosco raramente ele se portava assim. As ocasiões que ele ficava extremamente mal-humorado eram aquelas que, por ter festa grande no Grêmio (“Peão e Sambão”, por exemplo), o seu bar lotava: além do trabalho triplicado, era mais provável haver brigas. Em dias assim, as bebidas eram servidas apenas em copos de plástico e quem era freqüentador assíduo sabia que o João não estava para conversa.
Tenho saudade! E afirmo com certeza: todos meus amigos que conheceu o “Bar do Caju” também têm. Nos fins de semana, não era preciso combinar onde nos reuniríamos, pois, mesmo que fôssemos para outro lugar, o ponto de encontro da turma era lá... Conheci muitas pessoas no balcão e nas mesas que ficavam na calçada. Com algumas, travei uma amizade preciosa. Ouvi piadas e conversas “cabeças”. Às vezes entrávamos na boate do Grêmio, outras permanecíamos no “Caju” durante a noite toda...
Quando saio com meus velhos amigos, não há uma noite sequer que não lembramos do João e seu “Bar do Caju”. Ele faleceu no dia em que o futebol brasileiro conquistou o pentacampeonato. Desde então, para nós, a noite barretense não foi mais a mesma...

terça-feira, junho 12, 2007


Sincronizando corações

Eu ainda acredito na pureza das pessoas e, por isso, ainda sonho com um mundo melhor. Digo ‘ainda’ porque se dependesse dos noticiários televisivos eu já teria desistido. Para prevenir-me de uma decepção fulminante ante a vida, pouco ligo a telinha. Gosto de filmes, pois me dão esperança... A partir destas poucas linhas, o leitor mais apressado pensará que me alieno da realidade e que creio num mundo ilusório. Mas algumas obras cinematográficas são mais que meros entretenimentos e, dependendo de como são apreciadas, tornam-se fonte de inspiração para o bem-viver. Um exemplo é “Pequena Miss Sunshine”.
Não sei se todos que já assistiram à história da garotinha que sonha em ser miss emocionaram-se tanto quanto eu. A meu ver, trata-se de uma das mais belas criações do cinema. Sem relatar o enredo (pois considero isto um imenso estraga prazer), discorrerei sobre as mensagens que, para mim, o filme transmitiu. Vamos a elas. Primeira: lute pela realização de seu sonho, por mais absurdo que ele pareça ser. Caso seja a aspiração de uma criança, ainda que para você pareça risível, apóie (neste momento, lembro-me de uma frase que o avô diz para animar a neta: "O verdadeiro perdedor é aquele que tem tanto medo de perder que sequer tenta alcançar a vitória"). Segunda: toda família tem suas esquisitices e talvez você odeie a sua por isso. Mas quando você mais precisar, ela estará pronta para te acolher. Além disso, ao ter contato com outros grupos familiares, você perceberá que jamais trocaria seus pais, irmãos e tios por ninguém, simplesmente por eles serem como são.
Já a terceira mensagem (em minha opinião, a mais bela) diz respeito à como ajudar alguém a enfrentar uma desilusão: concordo que precisamos nos frustrar para amadurecer, porém, evitar que alguém, principalmente uma criança, passe por uma cena traumática, é protegê-la (mesmo sendo o sofrimento necessário à vida, não o é a mutilação de uma alma). Pois ver teu sonho desmoronar, mas ao mesmo tempo contar com a o pleno apoio daqueles que sempre disseram te amar, faz-te acreditar que, embora você não se torne o que sonhara, é amado e aceito por quem realmente importa. Sentir-se assim talvez seja a genuína busca de todos nós...
Como o que foi dito contribui para aperfeiçoar o mundo? Segundo S. Freud: "Qualquer coisa que encoraje o crescimento de laços emocionais serve contra as guerras”.

terça-feira, junho 05, 2007


Por que eles “ficam”?

Se não me engano, aqueles que têm hoje trinta e poucos anos foram os primeiros praticantes do “ficar”. Refiro-me ao tipo de relacionamento amoroso adotado, principalmente, por adolescentes e caracterizado pela ausência de envolvimento afetivo e de compromisso posterior. Em outras palavras, “ficar” significa beijar alguém por algumas horas ou apenas por poucos instantes (às vezes um alguém que tenha acabado de conhecer e, neste caso, sentindo por ele somente atração física).
Andei lendo algumas pesquisas que confirmaram o que eu supunha: apesar de ser bastante usual “ficar”, os adolescentes preferem namorar. O que me intriga muito: por que “ficam” se ao que aspiram é um compromisso amoroso?
É nítido que a puberdade tem se iniciado cada vez mais cedo; o adolescente (ou pré), seja pela televisão, pela pressão dos amigos ou pelas transformações/exigências de seu próprio corpo, é impelido a começar sua vida amorosa. Por outro lado, mesmo os pais mais jovens, encontram dificuldades para acompanhar as mudanças no processo de adolescer ocorridas em tão pouco tempo (a adolescência vivida há quinze anos é bem diferente da que se perpetua atualmente), assustando-se quando seu “bebê” de 12 anos pede para namorar...Surge um conflito: os pais acham cedo, dizem para o filho que ele ainda não está na idade e deve aproveitar a infância, profetizando: “esta época não voltará jamais...”. Também falam que quando tinham esta idade brincavam muito ainda (imagino o espanto dos pais e os compreendo, mas, querendo ou não, os tempos mudaram) e proíbem seu filho de namorar. Além disso, passam a vigiá-lo mais de perto, restringem o uso do computador, vão à escola perguntar sobre o comportamento dele etc. Mas provavelmente nada disso adiantará... Presumo que seja a dificuldade criada pelos pais um dos fatores que leva o adolescente à “ficar”: não podendo assumir um compromisso como o namoro, mas, ao mesmo tempo, não querendo (de certa forma, não podendo de fato) se privar de “estar beijando”, ele opta por “ficar”, pois, sendo momentâneo, é mais fácil esconder dos pais.
Que os pais tenham receios é perfeitamente compreensível, mas escutar o que o filho deseja, procurar entender o mundo que ele vive e as necessidades que a ele são impostas talvez seja a melhor maneira de mantê-lo por perto (em todos os sentidos).