
Refúgio
Sempre gostei de óculos escuros. Além da proteção visual e do fator estético, estar atrás de lentes esfumadas proporciona uma sensação de resguardo e anonimato. Se olhos são as janelas da alma, é ela que é encoberta ao se vestir óculos escuros.
Lembro-me quando eu morava em São Paulo. As pessoas despertavam a minha curiosidade: cada um deveria ter sua história e seu dilema. Crianças, idosos, jovens provenientes de todos os cantos do país. Eu gostava de olhar para eles e imaginar como seriam suas vidas. Assim, na saída da faculdade, enquanto eu esperava o ônibus na Av Paulista, observava os transeuntes e também aqueles que assim como eu aguardava o coletivo. Durante o trajeto para casa, continuava “estudando” os passageiros. Eu não costumava conversar: lá, geralmente, não só cada qual vive a sua vida como também prefere não compartilha-la com estranhos (naquela época, eu igualmente achava melhor que assim fosse...). Quando eu me dirigia ao Terminal Tietê para pegar o ônibus para cá, passava um bom tempo no metrô e era olhando as pessoas entrando e saindo, cochilando, fatigadas, apressadas, sisudas, que eu me distraía.
Mas comecei a me dar conta que em São Paulo poderia ser arriscado o ato de olhar. Havia a possibilidade de ser mal interpretada e sabe-se lá o que acarretaria. Então, passei a usar óculos escuros até quando o tempo estava chuvoso e mesmo no metrô (lá, isto é muito pouco para os outros te acharem estranho...). Desta forma, eu observava à vontade, sem me sentir embaraçada e o mais importante, sem representar uma ameaça ao outro... Minha preocupação era não deixá-lo perceber que seu espaço, de certa forma, foi invadido; ou melhor, não permitir a ele perceber que passou a existir para outra pessoa, deixando de ser mais um na multidão...Os olhos revelam nosso “espírito”. Brilham quando estamos apaixonados! Sorriem quando estamos felizes! Mostram-se distantes quando estamos desinteressados pelo que acontece ao nosso redor – ensimesmados... Abatidos quando estamos tristes. Ou, como na minha experiência paulistana, penetrantes quando estamos curiosos. Assim, se pretende ocultar sua alma, vista óculos escuros e tornar-se-á momentaneamente invisível. Mas por outro lado, não se esqueça de desconfiar de promessas feitas sob as lentes escuras...
Sempre gostei de óculos escuros. Além da proteção visual e do fator estético, estar atrás de lentes esfumadas proporciona uma sensação de resguardo e anonimato. Se olhos são as janelas da alma, é ela que é encoberta ao se vestir óculos escuros.
Lembro-me quando eu morava em São Paulo. As pessoas despertavam a minha curiosidade: cada um deveria ter sua história e seu dilema. Crianças, idosos, jovens provenientes de todos os cantos do país. Eu gostava de olhar para eles e imaginar como seriam suas vidas. Assim, na saída da faculdade, enquanto eu esperava o ônibus na Av Paulista, observava os transeuntes e também aqueles que assim como eu aguardava o coletivo. Durante o trajeto para casa, continuava “estudando” os passageiros. Eu não costumava conversar: lá, geralmente, não só cada qual vive a sua vida como também prefere não compartilha-la com estranhos (naquela época, eu igualmente achava melhor que assim fosse...). Quando eu me dirigia ao Terminal Tietê para pegar o ônibus para cá, passava um bom tempo no metrô e era olhando as pessoas entrando e saindo, cochilando, fatigadas, apressadas, sisudas, que eu me distraía.
Mas comecei a me dar conta que em São Paulo poderia ser arriscado o ato de olhar. Havia a possibilidade de ser mal interpretada e sabe-se lá o que acarretaria. Então, passei a usar óculos escuros até quando o tempo estava chuvoso e mesmo no metrô (lá, isto é muito pouco para os outros te acharem estranho...). Desta forma, eu observava à vontade, sem me sentir embaraçada e o mais importante, sem representar uma ameaça ao outro... Minha preocupação era não deixá-lo perceber que seu espaço, de certa forma, foi invadido; ou melhor, não permitir a ele perceber que passou a existir para outra pessoa, deixando de ser mais um na multidão...Os olhos revelam nosso “espírito”. Brilham quando estamos apaixonados! Sorriem quando estamos felizes! Mostram-se distantes quando estamos desinteressados pelo que acontece ao nosso redor – ensimesmados... Abatidos quando estamos tristes. Ou, como na minha experiência paulistana, penetrantes quando estamos curiosos. Assim, se pretende ocultar sua alma, vista óculos escuros e tornar-se-á momentaneamente invisível. Mas por outro lado, não se esqueça de desconfiar de promessas feitas sob as lentes escuras...
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