Mafalda


quarta-feira, abril 04, 2007


A ministra, a imprensa e o racismo

Na semana passada, a ministra Mathilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial, tornou-se alvo da imprensa devido à entrevista que ela concedeu à BBC (emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido). Como é de praxe, a mídia brasileira destacou algumas falas da ministra, retirando-as de seu contexto: “Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco" [...] A reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho uma reação natural[...] Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”. Foram estas as palavras que chegaram à maioria da população brasileira, sendo alteradas conforme o interesse da emissora (O Jornal do SBT, por exemplo, ao realizar um debate interativo, convidou os telespectadores a opinar a declaração da ministra, que segundo o âncora era a seguinte: “A reação de um negro de não conviver com um branco é normal” e “é normal o racismo do negro contra um branco”. Ao trocar a palavra natural por normal, o jornalista distorceu o sentido da sentença, enviesando o pensamento do público).
Lendo-se a entrevista na íntegra, constata-se a má-fé da imprensa brasileira. Quando a ministra disse que não é racismo o negro se insurgir contra o branco, ela logo completou: racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros”. E, ao apontar que é natural um negro se recusar a conviver com o branco, ela emendou: “... embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa”.
Deixando a mídia de lado e refletindo agora sobre os dizeres da ministra, considero bastante pertinentes suas considerações, uma vez que a reação do negro ante o branco é conseqüência não só da escravidão, mas também dos dias atuais (afirmar que não existe mais discriminação étnica é hipocrisia...). Qual a primeira reação de uma pessoa quando é ofendida? E mais: qual a atitude de alguém que desde pequeno é discriminado? De fato, responder “na mesma moeda” não condiz com o ideal de uma sociedade harmônica. Porém, exigir cortesia imediata de quem acabou de ser atacado é demandar um caráter sobre-humano! Querer que o negro “ofereça a outra face” é mais um sinal de racismo, pois é exigir deles uma perfeição cristã que a maioria de nós está longe de possuir. Não é racismo o negro rebelar-se contra o branco. É apenas HUMANO!

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