Mafalda


quarta-feira, março 28, 2007


Somos a soma dos nossos sonhos

Não sei quem é o autor da frase-título acima. Li num cartaz há alguns anos. Não esqueci mais. Gosto de refletir sobre seu significado. Este varia, primeiramente, a partir do que se entende pelo termo “sonhos”. Se for tomado como eventos que acontecem enquanto dormimos, cair-se-á em raciocínios sobre a psiquê humana, especialmente acerca do inconsciente. Mas minha intenção aqui é outra: pensar esta frase considerando “sonhos” como aspirações e desejos sobre si mesmo e o mundo.
Sob esta perspectiva, pode-se concluir que “somos o que queremos ser” ? Afirmar isto, desta maneira, seria simplificar demais a questão, o mesmo que dizer “querer é poder”. Todos sabem que a vida é complicada. Gênios da lâmpada que realizam nossos desejos de forma imediata só existem na fantasia. Vejo assim: se seguirmos nossas aspirações, se lutarmos por elas, estaremos de certa forma realizando-as, ainda que não plenamente. É como costumam dizer: o importante é o caminho e não o ponto final.
Já conheceram alguém sem sonhos? Uma pessoa assim não tem motivação para nada. Não se empenha no dia-a-dia. Sem objetivos, ela não consegue viver o presente. Sua vida acaba perdendo o sentido... Há de se considerar também aqueles que traçam planos mirabolantes sem considerar a viabilidade de sua realização: ficam paralisados diante das dificuldades, justamente por não pensarem nelas. È certo que sonhar não tem limites. Qualquer um tem o direito de desejar tornar-se o que bem entender. Posso ansiar ser uma astronauta, mas terei que me dedicar e considerar as perdas e os ganhos. Não adianta apenas querer e no final da vida lamentar pelo não foi. E o que é pior: culpar o mundo por isso.
É importante observar também que a frase em questão refere-se a uma somatória de sonhos. Pois todos têm vários sonhos que se desdobram nos diferentes aspectos do viver: carreira, relacionamento, filhos, religião etc. Conciliá-los nem sempre é uma tarefa fácil. Porém não há como fugir. Por toda vida, somos impelidos a escolher.
Acreditar que de fato somos a soma dos nossos sonhos significa reconhecer a responsabilidade sobre o tipo de pessoa que nos tornamos e acerca da vida que construímos ao nosso redor. Mesmo que as circunstancias venham de encontro à realização de nossos anseios, saber que fizemos o que era possível nos proporcionará a sensação de “dever” cumprido.

quarta-feira, março 21, 2007


O momento do basta!

Quando temos um problema de saúde e sabemos que a ingestão de certa substância agrava nosso estado, o que fazemos? Normalmente, ou deixamos de consumi-la ou reduzimos a sua absorção. Se formos adictos a ela, abandoná-la exigirá uma transformação de nossos hábitos acompanhada de uma adaptação do nosso organismo. Porém algumas pessoas, mesmo cientes do mal que estão fazendo à própria saúde, não abdicam das práticas nocivas...Como qualificamos tais indivíduos? Insensatos, estúpidos, suicidas?
Agora, examinem esta situação: estamos imersos num organismo gigantesco que por bilhões de anos conseguiu manter um equilíbrio ideal para que vivêssemos nele. Décadas atrás, “ele” deu os primeiros sinais que sua harmonia fora afetada. Não demos muita atenção, pois o conhecimento nos havia ensinado que este organismo era forte o suficiente para se recuperar por si só. Assim, perpetuamos nosso “progresso”, garantindo a satisfação de nossos desejos. Mas, inesperadamente(?), a saúde do imenso organismo vem se tornando cada vez mais debilitada. Inevitável: a natureza está exibindo sua “insanidade”! Sim, sempre existiram furacões e terremotos. Porém, as regiões e intensidade costumavam ser previsíveis. Antes, os cientistas consideravam ser impossível um furacão no Atlântico Sul...Lembram-se do furacão Catarina que atingiu o Sul do Brasil em março de 2004? E o que dizer das altas temperaturas, das chuvas torrenciais com suas conseqüentes enchentes?
Assisti ao documentário “Uma Verdade Inconveniente”, do ativista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, o que me impeliu a escrever estas linhas. Vejam! Não há como permanecer indiferente à questão do aquecimento global depois dos dados ali apresentados. Parece ficção científica, mas infelizmente não é. Se continuarmos com as mesmas atitudes, despejando inconseqüentemente gás carbônico na atmosfera, daqui a apenas 50 anos (!) este grande organismo o qual chamamos Terra não será apto à vida humana. Em relação às autoridades estadunidenses (que insistem em ignorar o fato de que o ser humano é o responsável pelo descontrole ambiental), Al Gore ironiza: “É difícil para um homem entender algo quando seu salário depende do seu não entendimento” (Upton Sinclair).
Como é mesmo que qualificamos aqueles que mantém os mesmos costumes embora saibam o mal que estão causando?

quinta-feira, março 15, 2007


Sonhos?

Já é praxe a constatação de que estamos numa época onde beleza, juventude e felicidade tornaram-se sonhos de consumo. Pois bem, convido-lhes a imaginar a seguinte situação: o preço das cirurgias plásticas, das aplicações de botox e dos implantes de silicones foi extremamente barateado, permitindo a qualquer pessoa recorrer a estes procedimentos. Além disso, os laboratórios farmacêuticos criaram uma pílula da alegria que impede qualquer sentimento de frustração e angústia (sem efeitos colaterais) e pode ser adquirida em toda rede de saúde pública. Imaginaram? Agora suponham que a população em massa aderiu a todos estes “benefícios”. Qual seria o resultado?
Dando continuidade à idealização, desenho o ulterior cenário: avós de faces lisas como de Vera Fisher e cinturinha vide Gisele Bündchen; avôs com rostos à la Tarcísio Meira e corpinho tamanho Rodrigo Santoro. Vejo também crianças, jovens e adultos esbanjando contentamento. Sim, no início tudo é festa: o sonho virou realidade! Mas, com os passar dos anos, as pessoas cansaram-se da alegria desmedida, pois nada afetava os ânimos exaltados: nem a morte de um ente querido era capaz de derramar lágrimas. Assistiam às notícias catastróficas e não se sensibilizavam. E quanto à beleza? A imutabilidade de seus rostos não era mais tão agradável como outrora. Perceberam que pouco de humano havia lhes restado...
Projetar o futuro de forma fantasiosa permite a reflexão sobre a vida que estamos construindo. As conseqüências geradas pela busca incessante da juventude e do corpo ideal nunca foram tão alarmantes: casos de jovens anoréxicas e bulímicas e de mortes decorrentes de cirurgias plásticas e implante de silicone são cada vez mais comuns. Somando-se a isto, vê-se aumentar o número de pessoas que sofrem de depressão e ansiedade enquanto um estado permanente de felicidade é cruelmente exigido.
Dias atrás, em entrevista à Folha Ilustrada, a renomada atriz Laura Cardoso, 79 anos, declarou que suas rugas, cada traço de seu rosto, contam uma história de sua vida, e por isto jamais faria uma plástica...Parece-me essencial considerar o envelhecer um processo natural que, apesar de suas perdas, poderá ser vivenciado ativamente dependendo da maneira como se enfrenta os infortúnios cotidianos e a inevitável passagem do tempo. Ainda temos tempo de aceitar que somos humanos.

quinta-feira, março 08, 2007


Por nós, mulheres!

Hoje é comemorado o “Dia Internacional da Mulher”. Há controvérsias sobre a história que originou a escolha da data para tal solenidade, mas a explicação de maior consenso é a seguinte: trata-se de uma homenagem a 130 operárias de uma tecelagem de Nova York, assassinadas por patrões e policiais, em 8 de março de 1857. Elas estavam em greve reivindicando a redução da jornada diária de trabalho de 14 para 12 horas e o direito à licença-maternidade. Represadas pela polícia, as trabalhadoras refugiaram-se na fábrica, cujas portas foram fechadas e o prédio incendiado!
Porém, algumas mulheres consideram o “Dia Internacional da Mulher” uma forma de perpetuação do machismo. Argumentam que é uma hipocrisia aceitarmos esta homenagem datada, já que continuamos arcando com a desigualdade durante todo ano: a data funcionaria apenas como uma recompensa pelos danos sofridos. De fato, esta alegação tem sua lógica. Mas meu ponto de vista é divergente: todo dia 8 de março se faz importante na medida que as conquistas das mulheres são destacadas e reivindicações que não foram contempladas são colocadas em pauta.
Hoje em dia, presencia-se mulheres ocupando cargos políticos de grande relevância. Por exemplo, Michelle Bachelet, presidente do Chile (primeira mulher do planeta a conseguir tal feito). E, além disso, a socialista Ségolène Royal é forte candidata à presidência da França. O que não significa que os “dias machistas” estão contados. Basta olhar ao redor. Os pais (refiro-me às figuras maternas e paternas) transmitem aos seus filhos papéis estereotipados sobre os gêneros. De forma geral, adolescentes em grupos induzem, mutuamente, comportamentos sexistas. E, para orquestrar a opressão masculina, tem-se a mídia: recentemente, matéria capa da Folha Ilustrada trazia depoimentos de atrizes veteranas opinando sobre cirurgias plásticas e derivados. Uma delas revelou que um diretor de TV, ao oferecer-lhe um papel, perguntou se ela estava bonita...
Mesmo que cada vez mais camuflada e considerada politicamente incorreta a discriminação de gêneros propaga-se. Se defenderem que o “Dia Internacional da Mulher” acentua esta desigualdade, pois a sua comemoração seria a constatação e afirmação da diferença, responderei: é preciso pender para um lado para se atingir o equilíbrio.