Mafalda


terça-feira, novembro 08, 2005


A dor de ser o que é
Quando escrevo, desperto o meu prazer de isto fazer. Ontem escrevi e hoje me deu uma vontade imensa de expor algo aqui...Mas não é sempre que tenho idéias. O mundo tem que me apresentá-las levando-me à reflexão. A questões aparecem e quando vejo já estou pensando. Poderia falar do meu relacionamento amoroso, poderia falar das minhas amizades...Mas não sei até que ponto tais assuntos são íntimos e particulares demais para estar na rede. Não vou negar que todos estes textos surgiram de questões íntimas e particulares demais. Mas às vezes é possível estendê-las, tornando-as passíveis de identificação por outros que desconhecem minha história e meu cotidiano, minhas alegrias e minhas aflições, sem que, no entanto, seja necessário tornar meus desabafos superficiais. Pois não é só aparentemente que o ser humano se assemelha.
Pensando...Hummmm, posso falar sobre o que mais me preocupa no momento. Minha amiga está em apuros e o pior é que ela nem se dá conta disso. Eu a entendo. Não sei se agiria diferente estando no LUGAR dela. [As pessoas tem o costume de dizer “Se eu fosse você, eu não faria isso ou “...eu não teria feito isso”. Mas dificilmente quando alguém diz isso esta se colocando no LUGAR do outro. Falamos isso mas geralmente pensamos assim: “EU, nesta situação, não faria isto”. Não pensamos como se fôssemos o outro, não consideramos sua história e seu presente, suas angústias e inquietações. Pensamos como nós reagiríamos aos problemas, não ocupamos o LUGAR do outro. Ora, isto geralmente se revela uma grande contradição, pois muitas vezes, nós (com a nossa história nosso momento de vida) jamais nos encontraríamos em dada situação). É muito fácil julgar a atitude alheia desta forma, pois não a compreendemos de fato.].
Conheço minha amiga há 16 anos. Crescemos juntas. Fui adolescente com ela. Acho que posso dizer que a conheço muito tempo e por isso digo que não sei se agiria diferente estando no seu LUGAR: é difícil quando não conseguimos fugir de nós mesmos; quando, de repente, o que você sempre foi não te recompensa mais e você se vê sozinha. É difícil quando todos à sua volta estão crescendo e você não possui os meios para fazer o mesmo. Afinal, eles nunca foram necessários: até então, você era querida e rodeada por vários amigos. Você só sabe ser aquilo que sempre te bastou. É triste perceber que o tempo não pára quando você sempre agiu como se o mundo fosse estático e seus amigos também. É triste perceber que os anos passam quando apenas sendo jovem você sabe viver. Dói, enfim, perceber que para seus amigos não basta mais você ser a amiga mais desencanada e baladeira, pois o que você faz se tornou escandoloso e perigoso demais: estar ao seu lado não é mais tão agradável, pois ninguém confia mais em você.
O que fazer diante de tudo isso? Se nem com a sua família você pode contar...Pois eles querem que você estude sendo que você não tem como fazer isso, não tem os conhecimentos básicos para isso. Quando você tinha 13 anos, ninguém se preocupava com a sua escola. Agora, faculdade, não, você não conseguiria...Trabalhar numa loja”...ihhhhhhhh...”, é o que você diria. Para quê trabalhar, você tem o dinheiro da pensão do seu pai e sua mãe paga suas roupas. Baladas? Sempre alguém paga para você, pois você tem aquele jeitinho que nenhum cara recusaria.

Nossa, acabei me estendo...Claro, só falei do momento que ela estava vivendo. O que restava para ela, além do buraco em que ela se enfiou? Bom, é difícil dizer, difícil julgar. Não tenho mais palavras, tudo o que eu poderia dizer daqui a diante seria banal.
Sei que sofro por vê-la assim, mas infelizmente já era tarde demais desde quando ela tinha 13 anos. Agora só nos resta remediar.

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