
Por um humor saudável
É estranho como nossa percepção do mundo varia de acordo com nosso humor. (Não sei se 'estranho' é a palavra correta, mas no mínimo isto é um fato curioso). Num momento você pode achar que tudo está contra você, no outro você acha que a vida está sorrindo para você. E isto, muitas vezes não depende de acontecimentos extraordinários, como uma promoção no emprego ou uma surpresa do parceiro (a). Difícil dizer se os fatos mudam nosso humor ou se a mudança do humor faz com que olhamos os fatos de outra forma. Não se trata de defender uma posição ou outra e sim refletir sobre a subjetividade da realidade.
Não há dúvida de que uma palavra dita pode nos fazer questionar julgamentos precipitados acerca do que os outros pensam a nosso respeito, obrigando-nos a rever nossas concepções acerca de nós mesmos e do outro. Quando estamos abalados e entristecidos, a atitude alheia, se não for extremamente positiva, tende a ser vista como hostil. A leitura dos acontecimetos torna-se obscura e negativa. Nestes momentos, ficamos mais egocêntricos: não enxergamos o outro com individualidade, mas somente em relação a nós mesmos; tudo que ele faz e fala é em função de nossa presença e de nossas atitudes.
É certo que algumas vezes o outro nos fere, mas muitas vezes ele não sabe o quanto nos magoa, pois não sabe o que estamos vivendo. As relações, hoje em dia, estão bastante fechadas e o diálogo é empreendido de uma forma bastante sutil e protetorora. É uma contradição: queremos nos proteger, não permitindo ao outro nos conhecer e assim não há como o outro saber como não nos magoar. O resultado é : ou nos isolamos ou estabelecemos relações superficiais. Ambos, não satisfazem nossa necessidade humana de existir em relação com o outro e no outro.
Voltando ao humor...
Em estados muito angustiantes, uma palavra, um esclarecimento, pode não se ser suficiente. Mas, ajudar alguém lhe indicando que sua percepção dos fatos é errônea e calcada na sua angústia, não é uma tarefa difícil e pode fazer com que a pessoa reveja a interpretação negativa pré-concebida.
Dizer o que pensa do outro não é “jogar confete”. É lhe dar a oportunidade para que valorize a si mesmo e reconheça sua importância e suas capacidades, principalmente a capacidade de ser amado. É ainda, permíti-lo ver um mundo acolhedor e seguro, mesmo que algum tempo depois este mundo pareça cruel novamente. Saber que pode contar com alguém, que pelo menos um alguém no mundo o valoriza, dá chance a ele de continuar acreditando e lutando pela felicidade.
É importante nos desapegarmos cada vez mais do sentimento de orgulho, de rancor e de vingança. Destacar o outro nunca deve ser encarado como uma diminuição de nós mesmos. Cada um tem seus espaço e seu brilho próprio.
Comecei dizendo que a mudança de humor não depende de acontecimentos extraordinários...No entanto, os relacionamentos humanos estão cada vez mais mimetizados, subtraídos. Se hoje é raro recebermos e darmos um elogio, incentivar nossos parentes e amigos, dizermos como são importantes para nós, talvez tenha me equivocado ao dizer que nada de extraordinário deva acontecer. É extraordinário por sua raridade, mas depende apenas de reaprendermos a seguir a voz do coração...
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