Mafalda


domingo, março 07, 2010


Angústia de fumante

Comecei fumar aos 16 anos. A primeira tentativa de tragar foi no banheiro da casa de uma amiga. Era Marlboro de menta. Não consegui. Após uns 6 meses tentei de novo. Insisti e tornei-me fumante. No início, não tinha marca preferida, comprava "T" (!) avulso no buteco ou fumava o Charm da avó da mesma amiga. Eu me recusava a gastar o dinheiro que meu pai dava para o lanche escolar com cigarro. Sentia culpa.
Naquela época, não era proibida publicidade televisiva na TV e a restrição no horário de vinculação estava apenas começando. Nas novelas, os personagens fumavam à vontade. Lembro-me da personagem de Fernanda, de Christiane Torloni, em "Cara & Coroa", tragando charmosamente... Eu e minha amiga tentávamos imitá-la.
Olhando para trás, penso que comecei a fumar por contravenção. Eu fazia tudo certo até aquele momento. Era aluna dedicada e tímida. Mas ao mesmo tempo não me identificava com os hábitos, gostos e valores da turma escolar. Precisava extravasar. Mas não fazia o tipo revoltada. Tudo estava bem escondido. Eu não queria ser comum. Fumar era uma forma de dizer que eu não era o que aparentava ser.
Não me lembro quando adotei o Marlboro vermelho. Lembro-me que no primeiro ano de fumante, estava no maior evento da cidade do Peão e meu pai quase me flagrou fumando. Era Marlboro vermelho.
15 anos depois, ainda fumante, sofro. Não por não conseguir deixar o vício, pois até o momento não tentei. Sofro com a Lei Anti-fumo, sofro com a discriminação. Não posso mais tomar uma cerveja e tragar. E só quem fuma sabe como é chatíssimo deixar a mesa e a conversa e se dirigir a calçada. Só quem fuma sabe que o cigarro assim fumado não satisfaz.
Só quem fuma entende o incômodo de se ouvir conselhos cotidianos sobre os males do maldito e profecias de morte. E se isto nos irrita, precisamos nos controlar, uma vez que sempre falam para o que consideram nosso próprio bem.
Sei que sou dependente( e como sou!) Não pela quantidade fumada, mas pelo lugar que o cigarro ocupa na minha vida. Pelos hábitos vinculados ao vício: como chegar do trabalho, deitar na cama e acender um Marlboro ou como escrever fazendo o mesmo.
E também, infelizmente, como sinto-me desmotivada a sentar numa mesa de bar com os amigos ou frequentar outros ambientes em que igualmente terei que me excluir para fumar.
Compreendo o direito dos não fumantes de não aspirar a fumaça venenosa. Já fui deste grupo e não gostava nada quando parentes fumavam no meu quarto de criança!
Mas se hoje a publicidade de cigarro é proibida na TV é porque é reconhecida sua influência. Hoje sabem como o fumante passivo é prejudicado e por isso fizeram uma lei radical.
Há 20 anos, embora se conhecesse os males do cigarro, a discriminação contra os fumantes era irrisória. E Ayrton Senna corria com o uniforme do Marlboro. Se alguém se incomodasse com um fumante no restaurante, que se retirasse.
Se eu pudesse voltar no tempo, não teria jamais experimentado um cigarro. Gostaria de ser como os outros, como os não fumantes. Pretendo parar de fumar, mas ainda não me sinto pronta para a batalha. Enquanto isso, fumo com o prazer e a dor que só os fumantes compreendem.

4 comentários:

Marcelo Finholdt disse...

Vamos parar de fumar então?

Vambora?

Abraços

Marcelo Finholdt disse...

Vamos parar de fumar?

Vamos parar de vez?

Um abraco!

Patileide disse...

Naaaa amor, parei de fumar quando sempre achei que isso seria impossível, agora vou me casar, adivinha? Tem um macinho de cigarro bem escondido nas minhas coisas... ai que nervo, só a droga do cigarro resolve. Ah, vou aproveitar e linkar seu blog no meu. Afinal, viemos do mesmo lugar... A ÁÁÁÁÁRVORE

Emanuel Lapiccirella disse...

Gostei muito. Bj.