
Li parcialmente uma reportagem que criticava o abuso de antidepressivos. Ultimamente, sentir-se triste tem virado sinônimo de depressão. E para evitar o sofrimento, recorre-se a um medicamento (De forma alguma estou querendo afirmar que médicos psiquiatras receitam antidepressivos indiscriminadamente. Infelizmente ainda é fácil obter tais remédios sem prescrição médica). Evita-se o pesar e almeja-se uma felicidade constante, o que é humanamente é impossível.
É certo que a tristeza não é desejável. Mas no geral, amadurecemos depois de passarmos por alguma privação. E como bem lembrou a reportagem, Van Gogh, Virgínia Woolf, Clarice Lispector, Friedrich Nietzsche entre muitos outros grandes nomes produziram seus maiores feitos em períodos de bastaste sofrimento. O que seria de nós se tais gênios não tivessem deixado aflorar a tristeza?
Acredito que exista uma pressão de todos os lados para que sejamos felizes. Os comerciais publicitários nos “ensinam” o caminho do sucesso, da alegria, do bem-estar. Nossos amigos e familiares, naturalmente, também nos querem ver sorrindo e de bem com a vida. No entanto, há certo pânico com relação à tristeza: ela vem se tornando um mal inconcebível. Ficar triste é quase um delito.
Temos medo de sofrer. Tememos logicamente porque não é agradável, mas também porque sabemos que é penoso lidar com alguém que não está bem: a tristeza pode levar à solidão. Algumas pessoas realmente conseguem evitar o sofrimento, mas o fazem ao não arriscar, ao se acomodarem num viver que não traz amarguras, mas também não traz crescimento. Outras tentam fugir da tristeza quando ela já se instalou o que, comumente, além do sofrimento, gera ansiedade.
Não é de se espantar que os casos de depressão aumentem enquanto a “ditadura da felicidade” se consolida. A obrigação impositiva de que devemos ser felizes sempre é absolutamente desumana. A tristeza é tão natural qualquer outro sentimento. Vivenciá-la com culpa maximiza a possibilidade de que ela se intensifique e realmente se transforme numa depressão...
A felicidade só existe comparada à tristeza. Estamos nos esquecendo disso.
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