Mafalda


quinta-feira, novembro 22, 2007


Além da Tropa

“Tropa de Elite”, o filme brasileiro que vem batendo recordes de bilheteria, tem suscitado polêmicas. De um lado, estão aqueles que aplaudem a obra do diretor José Padilha principalmente por ela retratar com suposta fidelidade o caos existente nas favelas cariocas e a atuação do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais). De outro, os que a julgam como enviesada: o diretor, ao escolher o policial do BOPE como narrador, legitima, implicitamente, a violência empreendida pelo Batalhão. Estou de acordo com estes últimos.
O cinema é formador de opiniões. Certamente há casos em que o filme apenas reforça uma idéia já existente. Mas, ao ser visto por crianças e adolescentes, “Tropa de Elite” funciona como modelo de solução da violência urbana: ouvi adolescentes falarem com empolgação sobre as ações do policial-narrador Capitão Nascimento. Concordam plenamente com a tortura empreendida por ele e seus parceiros. Para eles, a mulher do traficante é culpada por casar-se com bandido e o menino torturado mereceu, pois avisava os traficantes quando a polícia entrava no morro. (Em tempo: a censura nas salas de cinema é de 16 anos, mas o filme, pirateado antes mesmo de estrear, chegou a ser exibido numa escola para meninos e meninas de 12 anos; além disso, os adolescentes a que me referi têm entre 13 e 14 anos).
Realmente o tráfico de drogas e todas as conseqüências geradas por ele são um dos maiores problemas da atualidade. No entanto, a meu ver, a repressão policial, quando desacompanhada de ações pró-sociais, apenas gera uma guerra interminável. Pois, enquanto houver consumo, o tráfico permanecerá (neste sentido, as ações do BOPE de nada resolvem). Assim, a melhor forma de combater o comércio de drogas é cessar a demanda. E para isto é preciso educar, sobretudo, as crianças e os adolescentes (não estou aludindo somente à educação escolar. Remeto-me principalmente aos valores, atitudes e afeto transmitidos pelos pais) Portanto, ao esperamos que a polícia resolva completamente a questão do tráfico, estamos esquecendo de nosso papel na prevenção do abuso de drogas.
Penso que “Tropa de Elite”, em vez de retratar a realidade, mostra uma visão maniqueísta da mesma: o bem versus o mal (nada muito diferente dos filmes de ação hollywoodianos) Pelo sucesso alcançado parece, infelizmente, satisfazer o desejo da maioria dos brasileiros: “bandido bom é bandido morto”.

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