
Triste ficção cotidiana
Felipe nasceu na favela. Tinha cinco irmãos. Nunca conheceu o pai. A mãe era doméstica numa casa de “bacana”. Por isso, Felipe ganhou um Nike usado quando tinha 7 anos. Com ele subia e descia o morro para ir à escola depois do almoço. Teve dificuldades para aprender a ler e a escrever. A professora achava-o preguiçoso. Até que um dia, ela o chamou até a lousa. O menino tremia tanto que quase se molhou. Então ela perguntou rispidamente: “Que letra é esta?”. Felipe quase encostou o nariz na lousa e disse “D”. Finalmente a professora compreendeu que ele precisava de óculos e não conteve as lágrimas.
Trabalhando também aos domingos, a mãe de Felipe conseguiu comprar os óculos. No fim do primeiro ano escolar, Felipe lia tudo. A professora tinha orgulho dele! Mas havia dias que Felipe ficava bastante distraído no início da aula. Suspeitando que ele sofresse de déficit de atenção, a professora perguntou se ele não conseguia se concentrar. Encabulado, ele respondeu: “Tem dias que na minha casa não tem comida para todos. Às vezes um ou dois precisa ficar sem arroz-e-feijão. Então, eu venho sem almoçar, minha barriga dói. Mas depois da sopa do recreio, fica tudo bem!”. Mais uma vez a professora chorou...
Voltando um dia para casa, feliz por ter terminado a quarta série, Felipe foi de súbito abordado: “Hei mano, tênis de playboy, hein?” Era um rapaz jovem, 17 anos talvez. Apontou um canivete e completou “Faz uma correria prá mim que eu não levo ele!”. Felipe, tendo crescido ali, pressentiu encrenca. Mas sabia também que se não fizesse o que o rapaz estava lhe ordenando, mesmo ficando sem o tênis, ficaria marcado na favela. “O que preciso fazer?”, indagou Felipe. O rapaz explicou: “Tenho um encontro com minha mina aqui e agora, então vá até o barraco azul, o último, é só subir, não tem erro. Fala pro Nandão que é bagulho pro Batista. Toma a grana. Corre!”.Felipe teve medo, mas não tinha outra saída.
Ofegante, encontrou Nandão na porta. Felipe já foi logo dizendo o porquê de estar ali. O homem, branco e malhado, apenas acenou com a cabeça e buscou a encomenda. Entregou o pacote a Felipe, dizendo: “Some, pivete!”. Felipe descia rapidamente, quando ouviu tiros. Era o BOPE procurando Nandão. Assustado, o menino tentou se esconder. Mas os “homens de preto” estavam furiosos. Uma bala certeira atingiu o coração de Felipe: era apenas uma criança cuja desventura foi ter nascido ali.
Felipe nasceu na favela. Tinha cinco irmãos. Nunca conheceu o pai. A mãe era doméstica numa casa de “bacana”. Por isso, Felipe ganhou um Nike usado quando tinha 7 anos. Com ele subia e descia o morro para ir à escola depois do almoço. Teve dificuldades para aprender a ler e a escrever. A professora achava-o preguiçoso. Até que um dia, ela o chamou até a lousa. O menino tremia tanto que quase se molhou. Então ela perguntou rispidamente: “Que letra é esta?”. Felipe quase encostou o nariz na lousa e disse “D”. Finalmente a professora compreendeu que ele precisava de óculos e não conteve as lágrimas.
Trabalhando também aos domingos, a mãe de Felipe conseguiu comprar os óculos. No fim do primeiro ano escolar, Felipe lia tudo. A professora tinha orgulho dele! Mas havia dias que Felipe ficava bastante distraído no início da aula. Suspeitando que ele sofresse de déficit de atenção, a professora perguntou se ele não conseguia se concentrar. Encabulado, ele respondeu: “Tem dias que na minha casa não tem comida para todos. Às vezes um ou dois precisa ficar sem arroz-e-feijão. Então, eu venho sem almoçar, minha barriga dói. Mas depois da sopa do recreio, fica tudo bem!”. Mais uma vez a professora chorou...
Voltando um dia para casa, feliz por ter terminado a quarta série, Felipe foi de súbito abordado: “Hei mano, tênis de playboy, hein?” Era um rapaz jovem, 17 anos talvez. Apontou um canivete e completou “Faz uma correria prá mim que eu não levo ele!”. Felipe, tendo crescido ali, pressentiu encrenca. Mas sabia também que se não fizesse o que o rapaz estava lhe ordenando, mesmo ficando sem o tênis, ficaria marcado na favela. “O que preciso fazer?”, indagou Felipe. O rapaz explicou: “Tenho um encontro com minha mina aqui e agora, então vá até o barraco azul, o último, é só subir, não tem erro. Fala pro Nandão que é bagulho pro Batista. Toma a grana. Corre!”.Felipe teve medo, mas não tinha outra saída.
Ofegante, encontrou Nandão na porta. Felipe já foi logo dizendo o porquê de estar ali. O homem, branco e malhado, apenas acenou com a cabeça e buscou a encomenda. Entregou o pacote a Felipe, dizendo: “Some, pivete!”. Felipe descia rapidamente, quando ouviu tiros. Era o BOPE procurando Nandão. Assustado, o menino tentou se esconder. Mas os “homens de preto” estavam furiosos. Uma bala certeira atingiu o coração de Felipe: era apenas uma criança cuja desventura foi ter nascido ali.
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