
O mito do amor romântico
Há poucos dias encerrei a leitura de “Tristão e Isolda – Lenda Medieval Celta de Amor”. Não se sabe ao certo sua origem, mas a lenda inspirou diversas obras literárias da Idade Média e tornou-se uma das mais famosas óperas do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883). Já havia tido contato com esta fábula através de outro livro que a usava como metáfora – “We: A Chave da Psicologia do Amor Romântico”, de Robert A.Johnson.
Resumidamente, “Tristão e Isolda” narra a história do amor trágico dos personagens título: Tristão, o mais valente dos cavaleiros, é incumbido de buscar a mais bela das mulheres, Isolada a Loura, para se casar com o tio, Rei Marcos. Porém, após enfrentar um dragão e conquistar o direito de levá-la para o Rei, Tristão ingere por engano, acompanhado de Isolda, um vinho contendo a poção mágica do amor. A partir deste momento, Tristão e Isolda passam a amar-se desesperadamente, sendo condenados a uma vida de desventuras...
Ao conhecer a lenda, lembrei-me de “We” (mas não posso garantir ao leitor que minhas próximas colocações são fiéis a esta obra, pois a li há bastante tempo...). Na vida real, não há poção mágica. Porém, quando nos apaixonamos a química cerebral é modificada e somos tomados por sensações extraordinárias: o dia brilha mais, o coração palpita e nosso semblante sorri por inteiro. A vida parece ter sentido apenas junto do(a) amado(a)...
Apaixonar-se é natural. Quase todos nós ansiamos por este sentimento. Mas ela traz consigo a ilusão: apaixonamo-nos pelo nosso ideal de amor. Por isso é comum entrarmos em conflito com o(a) parceiro(a) quando percebemos seus “defeitos”: com o passar do tempo, o encanto desaparece, ele(a) torna-se real. Paixão e amor são distintos. Amar significa renunciar à embriaguez da paixão e apreciar o outro pelo que ele é.
A história de Tristão e Isolda é um mito, o mito do amor romântico. E como todos os mitos da humanidade, este também reflete nosso funcionamento psíquico. Tristão e Isolda são o modelo de homem e mulher perfeitos. Quando nos apaixonamos, é por nosso Tristão ou Isolda interior que ficamos enfeitiçados. Mas se vivêssemos apaixonados, nada construiríamos, estaríamos presos ao outro e nem sequer conseguiríamos dividir nosso amor com um filho. Assim, para nossa sobrevivência e perpetuação, somos inerentemente capazes de transformar a paixão/amor romântico num amor de carne e osso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário