Mafalda


quinta-feira, novembro 30, 2006


Não corte as asas, ensine-o a voar!

Como educar os filhos é um tema que suscita divergências. Há aproximadamente sessenta anos, acreditava-se que a melhor forma de educação era aquela em que o pai se portava como autoridade soberana, portanto inquestionável, cabendo a ele decidir sobre o que era melhor para seu filho até que este atingisse a idade adulta. À mãe era reservado o papel de dar afeto e cuidar dos afazeres do lar. Com a ascensão e popularização da psicologia e a revolução dos costumes a partir da década de sessenta, tal modelo educativo passou a ser questionado. Mas o resultado, de imediato, não foi o esperado...
Talvez por uma má interpretação e vulgarização dos saberes gerados pela ciência psicológica e/ou por uma falta de preparação da sociedade diante da perda dos alicerces tradicionais, os pais (e aqui me refiro à figura materna e paterna), com intuito de dar aos seus filhos a liberdade que não tiveram, atrapalharam-se no exercício de seus papéis: temendo os nocivos efeitos da repressão sobre os filhos, abdicaram integralmente de sua autoridade e a conseqüência, de um modo geral, foram crianças tiranas e manipuladoras. Atualmente, ainda há filhos que impõe sua vontade aos pais e não encontram empecilho para sua satisfação. E, os adultos que não medem meios para alcançar seu objetivo, não considerando os anseios do outro, provavelmente, são frutos desta forma de “educação”.
Não há receita para se educar um filho. No entanto, como tudo na vida, o equilíbrio é fundamental. Penso que resolver todas as situações pelo filho não é o ideal. Como também não o é deixá-lo fazer o que bem entender. Quando se trata de uma criança, os pais devem criar oportunidades para que ela desenvolva suas habilidades, estando sempre atentos para orientá-la. É imprescindível também falar “NÃO”, a fim de que o filho, além de aprender que os desejos têm limites, saiba lidar com as frustrações futuras que o mundo, inevitavelmente, apresentará. Acredito que uma criança educada com tal prudência tem mais chances de se tornar um adolescente seguro. Mesmo que os pais temam pelo filho, devido à impetuosidade característica da adolescência, é preciso confiar nos valores que foram transmitidos a ele até este momento. Podar sua energia e sua necessidade de descoberta significa não só propiciar que ele desenvolva uma rebeldia exagerada e nociva, como também fazê-lo duvidar da própria capacidade de distinguir o certo do errado.

quinta-feira, novembro 23, 2006



Anorexia midiática

Duas jovens vidas perdidas viraram notícia nas últimas semanas. Ambas eram mulheres de vinte-e-um anos e a causa mortis foi semelhante: vítimas de complicações decorrentes de anorexia nervosa. A mídia deu grande destaque para os fatos, mas pergunto-me: não será essa mesma mídia uma das maiores responsáveis pela alta incidência de jovens sofrendo de transtornos alimentares como anorexia e bulimia?
É comum relacionar casos de anorexia com o mundo da moda. Mas mesmo que esse ambiente favoreça o surgimento de tal transtorno, as modelos não são as únicas afetadas. Uma das recentes vítimas não era modelo. E, ao contrário do que destacaram os principais jornais, ela não cursava, atualmente, Moda. Era uma estudante do segundo ano de Psicologia. Além disso, pesquisando comunidades com o tema anorexia/bulimia e seus respectivos membros do site de relacionamentos Orkut, pude constatar que muitos jovens que têm anorexia (ou afirmam ter) são pessoas comuns e estão longe do glamour das passarelas.
Penso ser difícil que alguém deseje um corpo esquelético. Acredito que muitas pessoas que sofrem de anorexia, queiram, no início, ficar em forma. Suponho que quando atingem o peso ideal, o medo de engordar torna-se um fantasma e a pessoa em vez de conservar o peso, acaba perdendo cada vez mais. Mas não é a minha intenção explicar a causa da anorexia – cada caso é um caso. O que me importa aqui é o papel da mídia, pois o espelho dos jovens em geral, pelo menos no Brasil, não é o mundo da moda e sim, a televisão. As novelas são a nossa passarela: alguém já viu uma heroína da teledramaturgia gordinha? Nenhuma protagonista é anoréxica, mas todas têm um corpo escultural. A mensagem televisiva é simples e direta: tenha um corpo perfeito e será amada.
Fazer exercícios é essencial para a saúde: um corpo atlético reflete uma pessoa saudável. No entanto, muitas adolescentes se sentem inferiorizadas por não terem o corpo da sua artista preferida. Algumas, devido à sua estrutura anatômica, jamais terão, mesmo que emagreçam, mesmo que coloquem silicone e façam algumas plásticas. Assim, não adianta a mídia comover os telespectadores com reportagens sensacionalistas quando uma jovem morre de anorexia. É preciso uma reformulação na programação diária, pois, por bem ou por mal, a televisão ainda dita os padrões de comportamento da sociedade brasileira.

domingo, novembro 19, 2006


Tente mais carinho

Depois de muita conversa com amigas, amigos e comigo mesma, cheguei à conclusão que a grande queixa da mulher em relação ao parceiro, quando a fidelidade é incontestável, é a pouca atenção que ele despende a ela. Mesmo que o parceiro é deveras atencioso, às vezes, não basta – como disse uma amiga: “Quanto mais atenção a mulher tem, mais ela quer”. Concordo em partes.
Eu acredito que nós mulheres queremos ser ouvidas e acolhidas no cotidiano. E quando estamos aborrecidas, necessitamos ser compreendidas com paciência dobrada. Às vezes, a mulher esclarece seus anseios ao seu parceiro e ele a atende. Mas isso dura por um tempo, logo ele volta agir como outrora. Quando a mulher reclama, efetivamente, ele reage dizendo que ela nunca está satisfeita...
Assisti a um filme, “Separados pelo Casamento”, que retrata de forma cômica, mas verdadeira, vários aspectos do conflito entre casais. Há uma cena em que a esposa diz para o marido: “Eu queria que você quisesse levar a louça”. De fato, nós aspiramos que o companheiro sinta necessidade de nos agradar - desejamos que eles queiram de espontânea vontade. Assim, esperamos que para ele seja imprescindível nos dar atenção e ficamos extremamente irritadas quando precisamos solicitá-la sempre. Porém, nos equivocamos ao julgar que a falta de atenção significa menos amor, pois mulheres e homens são diferentes e a forma como amam é igualmente distinta.
Precisamos deixar de considerar o nosso jeito de amar como sendo o único modelo possível, percebendo as atitudes amorosas do parceiro mesmo quando não forem aquelas que esperamos. Isso não significa que devemos nos contentar com pouco, e sim tentar enxergar além de nossas carências. Vale a pena desfrutar do que ele oferece independente de suas ações serem espontâneas ou não, pois fazer algo apenas porque pedimos pode demonstrar que ele só fez porque nos ama. Quanto à falta de atenção, devemos dizer, sempre com ternura, o quanto isso é importante para nós. Será mais fácil conseguirmos o seu carinho, mesmo se tivermos que falar inúmeras vezes. Com o tempo, ou ele muda ou nos acostumamos a pedir seu acolhimento constantemente. Se nada disso nos satisfaz, está na hora de pensarmos se é realmente esse amor que queremos viver...

segunda-feira, novembro 13, 2006


O voleibol e a vida

Estive pensando como um esporte pode representar o espetáculo da vida. E talvez seja também por isso que sua prática nos faz tão bem, tanto para o corpo quanto para a alma. Escolho o voleibol para fazer minha comparação, já que é a este esporte que me dedico atualmente. Imagine que você e seu ambiente sejam um time de vôlei e a partida a sua vida.
O saque é o princípio, o impulso inicial daquilo que você deseja realizar. Se o que enfrentar for fácil, alcançará de imediato o objetivo como se fizesse um ace (ponto de saque em que a bola não toca em nenhum jogador adversário, caindo direto na quadra). Porém, a maioria das situações não se resolve prontamente. Você poderá encontrar obstáculos que o atinge como um ataque: a “força” dele e a forma como você se dispõe a recebê-lo decidirão o que deve ser feito. Se perceber que não é possível trabalhá-lo (analisá-lo, refletir sobre ele), seja por ser muito doloroso ou por você não poder arcar com as conseqüências no momento, simplesmente passe-o adiante e siga vivendo...
Já, ao notar que o “ataque-problema” pode ser pensado, é importante considerar que a maneira que você o recepciona será determinante para a sua solução. Se você estiver distraído ou indisposto, provavelmente apenas se defenderá: a consecução do próximo passo será prejudicada e exigirá mais esforços, seus e daqueles que o rodeiam, logo, ou você continuará com o incômodo ou terá um resultado insatisfatório, bem distante do ideal. No entanto, se você encarar a situação, atentando-se para as exigências do seu corpo e de sua alma bem como daquilo que de você esperam, colocará carinho antes de tudo: assim a questão será amortecida (ou abrandada), será mais fácil (ou prazeroso) o outro te ajudar e, enfim, você alcançará o que deseja com grande êxito, tal como uma bela cortada!
Conforme acontece no voleibol, na vida também nos machucamos. Às vezes, é possível continuar com nossas atividades normalmente, quando o “ferimento” não dói (ou não atrapalha) tanto. Todavia, em alguns momentos precisamos sim suspender nossas ações corriqueiras especialmente quando sentimos que estamos sem forças (ou despreparados) para lidar com certas situações, seja qual for o motivo. Nessas ocasiões, retirar-se para recuperar o equilíbrio não é covardia, mas um ato de sabedoria. Pois, “jogar” extremamente “contundindo” pode prejudicar não só um set como uma vida inteira...