Mafalda


terça-feira, julho 25, 2006


Espelhos

Todos se defrontam com um espelho cotidianamente, seja no lar, no trabalho ou mesmo numa simples poça d’água. Olhar-se no espelho, mesmo que hoje em dia seja bastante banal, é fascinante! O espelho nos dá a dimensão de como estamos, e engana-se quem acha que esse reflexo seja apenas de nossa aparência física: podemos ver também o estado de nossa alma...
Além de nos refletir, o espelho pode contribuir para que nosso ânimo seja mantido, agindo como um aliado ou como um implacável inimigo. Se estivermos em paz com nós mesmos, enxergaremos uma bela imagem, independente, por exemplo, de nossa idade e de nosso peso. No entanto, se nos sentimos amargurados, o reflexo enfatizará aquilo que está fora do ideal de beleza e, conseqüentemente, martirizamo-nos ainda mais. Neste momento, é preciso reagir e perceber que ali está projetada também a nossa tristeza. É evidente que o espelho não é uma mera ilusão – ele nos dá uma estimativa de nossa realidade física/emocional e a oportunidade para que a modifiquemos.
Ocasiões em que “brigamos com o espelho” acontecem comumente. E, às vezes, no mesmo dia, mudamos de opinião sobre o que “ele” nos mostra. Porém, quando a imagem vista é extremamente distorcida e por um longo período, torna-se muito preocupante. A pessoa com anorexia, por exemplo, por mais magra que esteja, olha-se no espelho e enxerga-se obesa. Em casos como este, não adianta simplesmente tentar convencê-la do contrário ou esperar que ela faça isso por conta própria – é necessária ajuda profissional.
No entanto, no dia-a-dia, as pessoas as quais convivemos podem nos auxiliar. Elas representam outra espécie de espelho, cujo nosso ânimo não desfigura. Certamente, aqueles que nos prezam, anseiam pelo nosso contentamento. E, justamente por se importarem conosco, não opinarão de forma a nos ridicularizar. Assim, estando aborrecido, amargurado, ou simplesmente desanimado, tome cuidado ao olhar-se no espelho. Reflita! Se não gostar do que vê, não se precipite avaliando-se drasticamente: pergunte a um ente querido como você está. Pedir este tipo de ajuda não é sinal de fraqueza ou insegurança, mas sim uma forma de ampliarmos o espelho para além do olhar enviesado por nossas emoções.

quarta-feira, julho 19, 2006



Vícios do Olhar

Quando fui realizar a pesquisa para minha monografia, numa escola de ensino fundamental (1° ciclo), presenciei uma situação que me causou imenso desconforto: fui buscar um aluno na sua sala e um outro garoto estava chorando. De imediato, a professora veio até mim reclamar dele. Disse que tal menino não sabia o que queria – queixou-se do sol em seu rosto e ela ordenou para que ele sentasse numa carteira no fundo da sala o que fez o menino chorar incessantemente. A professora me falou ainda que esta criança gostava de brigar e “não parava quieta”. Mas a criança veio até mim e disse-me que não conseguia ler – o reflexo na lousa o impedia, e por isso ele lamuriava-se...
Não foi a primeira vez que pensei sobre o que vou lhes contar, mas este acontecimento confirmou o que já é sabido: quando formamos uma opinião sobre uma pessoa, a enxergamos mediante este juízo, tornando-se improvável vê-la de outro modo (não é à toa que dizem: “a primeira impressão é a que fica”).
Isto se torna deveras preocupante ao considerarmos que tais opiniões desdobram-se em expectativas que nos influenciam, especialmente quando somos crianças. Se uma criança é qualificada como “inteligente”, tendemos a ver todos os seus atos como demonstração de suas habilidades e a incentivamos, através de elogios e atenção, a prosperar - o que geralmente confirma-se. Porém, se uma criança for rotulada como “menos capaz” (seja no âmbito social ou intelectual), tornamos-nos propensos à não enxergar seus êxitos, atentando-nos apenas para seus erros. Conseqüentemente, satisfazendo-se com a atenção recebida quando falha, a criança deixa de buscar o “sucesso” e reafirma o que esperam dela.
Nas escolas, os efeitos das expectativas, positivas ou negativas, dos professores sobre os alunos são evidenciados ao observarmos que a criança considerada modelo sempre se destaca, enquanto os que são classificados como “problemáticos” geralmente apresentam desempenho inferior durante toda a vida escolar. Não só os professores exercem influência sobre a criança: todos que convivem com ela, pais, tios e irmãos, são de crucial importância para a construção de sua personalidade desde sua mais tenra idade.
Atribuir ao outro qualificações e apoiar-se nelas para interagir com ele é uma reação natural do ser humano. Porém, é essencial que sejamos mais cuidadosos quando nos vemos diante de uma criança. Considerando-se que a infância é o período em que o ser humano tem maior capacidade para aprender e modificar-se e tendo ciência que nossas expectativas incidem sobre o destino de uma criança, faço um apelo para que todos nós esperemos sempre o melhor de nossos meninos e meninas, mesmo que eles não ajam conforme nossas orientações e nossos afetos.

quarta-feira, julho 05, 2006


Desilusão

A palavra acima poderia ser decepção, ou frustração, mas falando-se do jogo, no sábado passado, da seleção brasileira, penso ser a que mais o resume. A equipe brasileira (nego-me a dizer simplesmente “O Brasil...” - seria injusto com todos nós) chegou à Alemanha como favorita e imbatível: dado o seu elenco, sua campanha nas Copas das Confederações, seu técnico campeão mundial e toda a tradição do futebol brasileiro cinco estrelas foi fácil crer nessa supremacia.
Porém, como todos sabem, o favoritismo ficou papel. Assim, como em muitos anúncios publicitários, Ronaldinho Gaúcho e companhia não passaram de ilusão. Ilusão esta que a mídia começou a alimentar antes mesmo do início da Copa. Fomos bombardeados! Durante a Copa, tudo era motivo de notícia. Precisavam vender seu produto de ouro e nós, certos de que víamos os representantes do Brasil, acompanhávamos passo a passo.
Na primeira fase, o escrete brasileiro apresentou inúmeras deficiências. Mas, fizeram-nos confiar que estava evoluindo - os brasileiros estariam guardando seu jogo. Veio Gana, resultado enganoso. O brilho apareceria diante de uma grande rival, a França...Blecaute, pane: onde estava o “nosso” prestigiado futebol? O povo brasileiro sentiu-se mais envergonhado do que os próprios “medalhões” brasileiros em campo.
Tive a impressão que a cada lance, Zidane dizia: “Acorda, Brasil!” E, certamente, os brasileiros que estavam assistindo, despertou e esperou que entrasse Robinho, Cicinho, Gilberto (ou outros) – precisávamos mudar, precisávamos jogar... Mas, aquele que eu admirava pelo feito em 94 acordou tarde demais. Pela calma e conformismo de Parreira no banco, parecia que observava outro jogo (estando 1 a 0 para França, após colocar Adriano, ele disse a Zagallo: “colocar Robinho para quê?”); ou então, ele sabia que aquele futebol limitado era o máximo que seus comandados poderiam desempenhar. Mesmo que esta seja a explicação, por que o técnico não seguiu com o time que jogou contra o Japão? Infelizmente, os interesses individuais sobressaíram-se. Não bastava a seleção ser hexacampeã: os veteranos precisavam de recordes e de ser tricampeões mundiais.
Fomos iludidos, sobretudo, a acreditar que todos ali jogavam com amor pela seleção brasileira e que se preocupavam com o povo brasileiro (Ronaldinho Gaúcho e Adriano, mesmo com o vexame, divertiram-se no domingo). Minha esperança é que a nova geração se inspire no choro de Zé Roberto e na decepção sentida por Rogério Ceni, estes sim, dignos de serem chamados de brasileiros.
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