Mafalda


sexta-feira, agosto 28, 2015



Eu a amo!

Foi na esquina de um boteco. Uma conversa despretensiosa, mas olhares profundos. Foi rápido, mas suficiente para um novo encontro. Agora só nós. Bate-papo e intenções  mal disfarçadas. Despedida com um suave tocar de lábios,  com gostinho de quero mais. Desejo realizado.
Lençóis, carinhos, admiração! Vontade de estar perto o tempo todo. Sentir-me feliz, confiante, destemida. Cantamos em uníssono “Por Você” no show do Frejat, entre beijos e dança. Logo mudei para o apartamento dela.  Já era amor? Acredito que sim. Ficávamos juntas o maior tempo possível.  Aprendi a fazer filé de frango e me aperfeiçoei no lavar a louça. Saia do trabalho correndo para os braços dela. Abraço amante, abraço amigo. Ela falava da minha voz, que a fazia tremer! Eu falava do  amor dela, que me fazia mais forte!
Hoje moramos distante uma da outra. Mas o tempo todo estamos unidas no coração.  Sinto muita falta de sua presença, porém quando ouço  sua voz ao telefone ou quando a vejo em tempo real no Skype, cheia de carinho e admiração, tranquiliza  meu peito e me fortalece. E quando ela vem ao meu encontro, vem com o mesmo abraço de outrora, com o sorriso largo, olhos verdes brilhantes  e muitos “Eu te amo!”.   E eu a recebo com todo meu amor e felicidade de poder olhar para ela bem de perto, tocá-la e transbordá-la de beijos... Amanhã, após cinco dias de saudade, viveremos este momento e outros, permeados de cumplicidade, intimidade e afeto.
Nosso amor se revela cada vez mais caloroso e compreensivo.  “Amor da minha vida!” - declaramos.  

quarta-feira, junho 03, 2015

Desejo, Crime e Reparação

Em coluna recente na Folha de São Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris diz: "entre os menos ou os mais favorecidos, tanto faz: o desejo é uma força tão poderosa quanto, senão mais poderosa que, a necessidade." 
Trabalhando há 7 anos com adolescentes em conflito com a lei, considero verdadeira a afirmação acima.
A maioria das infrações cometidas entre os adolescentes da Fundação CASA vem do desejo de ter um tênis Nike, o game e o celular de última geração, o boné John John. Desejam o mesmo que um adolescente de classe média e/ou alta.
Na coluna posterior, Contardo diz: "(...)os bens que desejamos são indiferentes; o que importa é o reconhecimento que esperamos receber graças a eles." Fato. Os adolescentes (e também os adultos) medem seu valor por aquilo que têm, pois através do que ostentam almejam ser reconhecidos pela sociedade, ou seja, envaidecem-se através do olhar do outro (entre os adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação,  há aqueles que pedem para a mãe trazer fotos do seu tênis ou de sua moto para mostrar para os colegas).  
Na mesma coluna, Contardo afirma ""é provável que a cobiça e a vaidade cresçam com o "ter". Ou seja, é bem possível que a tentação do crime seja maior para quem tem mais do que para quem tem menos."" (vide os crimes de colarinho branco)
No entanto, encontramos tanto nas prisões como na Fundação CASA, uma grande maioria de sujeitos das classes menos favorecidas. Contardo atribui isso ao fato dos mais ricos terem melhores advogados. Considero meia verdade tal justificativa.
Um adolescente da classe A pode comprar o tênis do momento, viajar, ostentar roupas de grife etc. 
E o o adolescente pobre? Ele também quer satisfazer seu desejo, quer ser notado, admirado. Crimes praticados em nome da ostentação são normalmente considerados torpes.
No entanto, imagine se de repente o adolescente de classe mais abastada não pudesse mais consumir seus objetos de desejo. Imagine se lhe fosse tirado o reconhecimento social.Podemos argumentar que o importante é o que somos, mas, infelizmente, na atual sociedade, somos o que temos. 
Antes que alguém me condene, não estou justificando as infrações dos adolescentes e sim tentando compreendê-las. O filósofo Mário Cortella, no Saia Justa (GNT) frisou que justificar é tornar justo. Não, não acho justo um assalto, mas conhecer as contingências envolvidas, permite tratar o adolescente com  humanidade.
No referido programa, Mário Cortella  afirma ainda que somos livres para escolher. Mas nem sempre nossas escolhas resultam em ações (moral) que vão ao encontro de nossos princípios e valores (ética).
 Os adolescentes infratores geralmente sabem que estão agindo contra lei, mas nem sempre consideram-se errados. A ética deles destoam, em parte, das normas socialmente aceitas.(tendo como norte a ética de organizações criminosas como PCC e CV,  assaltam aqueles que julgam ricos, condenam o estupro e a delação - "caguetar", não cometem furtos ou roubos na comunidade,  poupam crianças e idosos entre outras. Há deslizes que geralmente são punidos pelo próprio grupo - muitas vezes de forma violenta.) Curiosamente, na gíria destes adolescentes, seguir sua ética é "correr pelo certo". 
Assim não podemos olhar para os nossos princípios e valores e simplesmente transferi-los estes adolescentes.( Lembrei-me de Betinho: "Se não vejo na criança uma criança, é porque alguém a violentou antes, 
e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado.")
Sou terminantemente contra a redução da maioridade penal. Latrocínios, homicídios? Penso que deve ser analisados caso a caso, mas de qualquer forma, considero que não deve ser encarcerado com os adultos.Pois é possível recuperar estes adolescentes. É preciso amor, acolhimento, comprometimento para sensibilizar o adolescente com relação a sua vítima. É preciso levá-lo a se dar conta da violência de seu ato. É preciso convencê-lo que o estudo pode garantir uma vida profissional que lhe possibilitará a satisfação de seu desejo; é preciso convencê-lo que o trabalho, mesmo rendendo bem menos que o tráfico de drogas, trará satisfação pessoal e social. É preciso levá-lo a vislumbrar um cotidiano em que não haja mais necessidade de correr da polícia, ainda que continue sendo revistado por causa de sua roupa e tatuagens. É preciso que ele encontre um ambiente que possa desenvolver habilidades, talento.
Os centros que executam as medidas socioeducativas tem muito a melhorar, mas vem gerando bons resultados. Há beleza naquele adolescente orgulhoso
de ter aprendido cozinhar ou fazer um rap que discorre sobre seus planos de deixar o crime ou vencer uma competição esportiva. Há beleza quando 542 internos da Fundação CASA estão no final da Olimpiada Brasileira de Matemática da Escola Pública (fato ocorrido em setembro de 2014). Há beleza quando abandonam a carcaça do crime e se revelam meninos.  . 

terça-feira, junho 02, 2015

Pinceladas

Depois de anos de ausência e muito facebook ,estou de volta. Ao mesmo tempo que a rede social me fez deixar de escrever por aqui, abriu horizontes. Hoje me interesso mais por política, por exemplo. Além disso, o face é um retrato do que as pessoas pensam, desejam... Ora me decepciono, ora me satisfaço..
Desolador é encontrar na minha timeline  manifestações racistas, homofóbicas e todo tipo de preconceito. Como disse meu irmão Emanuel, "os reaças" perderam a vergonha de se expressar. 
A polícia militar, que teoricamente teria o papel de garantir a segurança, de proteger o cidadão, anda descendo o chumbo. Manifestações democráticas são combatidas como se estivéssemos em guerra; negros são presos arbitrariamente, revelando o preconceito que os brasileiros insistem em afirmar que não existe. 
O país anda em crise: a economia vai mal. Culpam o Executivo, mesmo sabendo que há toda uma conjuntura por trás. Ainda sim, dói ler sobre cortes na Educação e Saúde. A grande massa de eleitores de Dilma pode ser a maior prejudicada. Enquanto isso, temos uma Câmara dos Deputados caracterizada pelo conservadorismo (ou seria, fascismo?). Temos anti-gays, anti-cotas, anti-reforma política democrática e defensores da redução da maioridade penal. Querem garantir o poder e o enriquecimento. Triste , afinal o legislativo representa o povo.
Mas encontro conforto entre meus amigos mais chegados. Não estou sozinha. Além disso, há figuras públicas como Gabriel Priolli, Luis Nassif, Luiz Eduardo Soares, Jean Wyllys, Randolfe Rodrigues, Marcelo Freixo, Eduardo Suplyci que através de idéias e/ou ações revelam ética ao defender os direitos humanos, a democracia e a transparência na política.

The answer my friend is blowing in the wind 

Declaro-me contra a redução da maioridade penal e vou mais além: defendo a privação de liberdade apenas para os crimes hediondos. Que o ECA seja cumprido e que os juízes se atentem às medidas mais brandas para o adolescente em conflito com a lei: advertência, liberdade assistida e semiliberdade. 
Além disso, defendo a desmilitarização da polícia, pois são treinados como se estivessem no exército. Polícia é feita para proteger, garantir a segurança e não tratar o povo como inimigo.
Que o conceito de família formada por homossexuais seja garantido na constituição! O casamento gay já é uma realidade, a adoção de crianças por casais homo idem, inclusive constar no registro de nascimento o nome de ambos os pais ou mães. 
Desejo também que as cotas nas universidades se ampliem. Defendo cotas para estudantes de escola pública, além das cotas para negros e índios. A universidade pública tem que ser acessível para todos e digo por experiência própria que o Ensino Superior público, ao garantir pesquisa e extensão, além da formação multidisciplinar, proporciona ao estudante o desenvolvimento do pensamento crítico e atuação na comunidade.
Percebo que muitos vêem com resistência a Lei que proíbe os pais de castigarem fisicamente seus filhos, inclusive as palmadas. Penso que é covardia bater numa criança e que uma palmada pode se transformar num soco. Muitos defendem que apanharam quando criança e que não se sentem prejudicados, que não lhe fizeram mal. Discordo, pois não sabem como seriam hoje se não tivessem sofrido tal forma de agressão e às vezes não relacionam o que viveram na infância com seu comportamento adulto. Mas não vou me estender nesta questão por ora, pois demandaria outra postagem.
Vislumbro que incêndios criminosos como os que vêm ocorrendo nas favelas de São Paulo sejam punidos e cessem. Espero que o programa "Braços Abertos" do prefeito Haddad persevere e que sirva de exemplo para as políticas anti-drogas no país inteiro (para quem não sabe, tal programa garante emprego para os frequentadores da Cracolândia, usuários de crack e outras drogas, o que vem gerando ressocialização e diminuição da criminalidade  - confira: http://www.capital.sp.gov.br/portal/noticia/5240)
Espero que os índios tenham garantido sua terra, sua cultura. Assim como os sem-terra. Basta de assassinatos.
Enfim, quero humanidade! Que predicados como solidariedade, altruísmo, empatia façam parte do cotidiano e deixem de ser raridade!


Não diga nunca: isto é natural
Para que nada possa ser imutável (Bertold Brecht)