Mafalda


terça-feira, maio 27, 2008


Liberdade e equipe

Discorrer sobre o tema liberdade sempre me fascinou. E agora que passo a maior parte do tempo num local onde a falta dela faz parte do cotidiano de muitos, não consigo deixar de pensar sobre a condição de ser livre.
No início do meu curso de psicologia, entrei em conflito ao constatar que segundo algumas linhas de pensamento, a liberdade é ilusória. De forma bastante simplista: para os comportamentalistas, somos determinados pelo ambiente – toda ação é condicionada; para a psicanálise, também não somos livres, pois os desejos inconscientes conduzem o nosso agir. Mas para o meu contentamento e alívio, conheci um pouco da filosofia de Sartre: a liberdade não só existe, como também é uma condição humana. Somos livres para escolher. Porém, esta liberdade nos torna responsáveis não só pelo que nos tornamos: ao escolher que tipo de indivíduo queremos ser, estamos traçando um projeto de humanidade (ou para a humanidade). Em outras palavras: estamos escolhendo que tipo de humanidade desejamos construir.
Trabalhar numa instituição, onde há pessoas com diferentes anseios, é conflitante: as escolhas e/ou postura profissional de cada um, não raro, interfere em todo contexto profissional. Pois quando um profissional escolhe para si qual o papel que ele deseja desempenhar, ele também está elegendo o lugar que deseja trabalhar, ou seja, ele está construindo a instituição/serviço por ela prestado. Assim, quando temos concepções distintas de nossa função e/ou da função da instituição como um todo, é difícil se concretizar um projeto unificado.
Quando trabalhamos em equipe, a busca pela liberdade deve ser feita em nome do bem comum. A liberdade e o altruísmo devem caminhar juntos. É preciso renunciar às escolhas pessoais, às vaidades e ao comodismo. É preciso ser livre o suficiente para não se deixar levar por anseios egoístas, como status e reconhecimento social. No trabalho em equipe, é livre aquele que mesmo diante de inúmeros obstáculos nunca perde de vista a imagem da instituição que sonha construir.

quarta-feira, maio 14, 2008


Antes de tudo, adolescentes
A liberdade é e sempre foi a liberdade dos que discordam (Rosa Luxemburgo)

A busca pela liberdade é uma das características da adolescência. O adolescente necessita diferenciar-se da figura paterna e materna para sentir-se livre, questionando o que lhe foi transmitido até então. É próprio dele a não aceitação passiva de regras impostas pelos mais velhos...
Quando um jovem comete um ato infracional grave e de proporções midiáticas, a população, levada por notícias sensacionalistas, indigna-se e pede a redução da maioridade penal. Porém, “crimes hediondos” praticados por adolescentes não são corriqueiros. Também é comum ouvirmos que passar três anos numa instituição onde há escola e outras atividades pedagógicas, além de ser um privilégio, é muito pouco tempo para um adolescente autor de um homicídio. Mas quem pensa desta forma, certamente não vê um adolescente e sim um malfeitor, o que é de certo modo inteligível: se já é difícil para um adulto compreender o menino que é seu filho ou aluno ou vizinho, imaginem o que é para este mesmo adulto entender um jovem que cometeu um ato infracional equiparável a um crime...
Embora o desejo de muitos seja julgar os adolescentes em conflitos com a lei tal como adultos criminosos, é preciso que deixemos de olhar o menino como se ele fosse o ato infracional cometido: antes de tudo ele é uma pessoa em fase de desenvolvimento e, sendo assim, sua recuperação é possível. Além disso, o adolescente, ao ser internado, já está sancionado. Pensem o que significa para um menino de 14, 15 ou 16 anos, por exemplo, estar privado de sua liberdade. Imaginem o que é ser impedido de questionar as normas e seguir com disciplina os horários de todas as atividades, inclusive dormir e alimentar-se. Quem não tem um filho adolescente, tente lembrar da própria adolescência. Façam um exercício de compaixão e coloquem-se no lugar destes garotos. Esqueçam, por um momento, que eles estão internados por transgredirem a lei. Se alcançarem tal feito, perceberão que é extremamente sofrível para qualquer adolescente não poder ser livre, seja por um mês, seja por três anos.

sexta-feira, maio 02, 2008


Recesso

Mudanças exigem um período de adaptação. Eu estava acostumada a escrever altas horas da madrugada, rodeada por muita fumaça. Foi assim desde o princípio. Não havia limites, não havia o despertador pela manhã...
Agora meu cotidiano é outro. Estou em transição. Não tenho meu canto ainda. Cigarros longe do computador. Durmo cedo. É impossível no momento estar só para escrever. Aconselham-me a usar o papel. Mas já não sei. A tela e o teclado inspiram-me. Preciso de um ritual.
Sinto falta de quando dormir não era preocupação. Escrever era um deleite, mesmo quando eu deixava para a última hora (há três semanas não envio um texto para o jornal). É como se faltasse uma parte de mim. Temo tornar-me uma operária. Trabalhar e dormir. Eu preciso de mais!
Porém, sei que agora terei muito para contar. Só preciso de um quarto, um computador e uma boa noite de sono.
Eu voltarei.