Mafalda


segunda-feira, outubro 24, 2005


Por um humor saudável

É estranho como nossa percepção do mundo varia de acordo com nosso humor. (Não sei se 'estranho' é a palavra correta, mas no mínimo isto é um fato curioso). Num momento você pode achar que tudo está contra você, no outro você acha que a vida está sorrindo para você. E isto, muitas vezes não depende de acontecimentos extraordinários, como uma promoção no emprego ou uma surpresa do parceiro (a). Difícil dizer se os fatos mudam nosso humor ou se a mudança do humor faz com que olhamos os fatos de outra forma. Não se trata de defender uma posição ou outra e sim refletir sobre a subjetividade da realidade.
Não há dúvida de que uma palavra dita pode nos fazer questionar julgamentos precipitados acerca do que os outros pensam a nosso respeito, obrigando-nos a rever nossas concepções acerca de nós mesmos e do outro. Quando estamos abalados e entristecidos, a atitude alheia, se não for extremamente positiva, tende a ser vista como hostil. A leitura dos acontecimetos torna-se obscura e negativa. Nestes momentos, ficamos mais egocêntricos: não enxergamos o outro com individualidade, mas somente em relação a nós mesmos; tudo que ele faz e fala é em função de nossa presença e de nossas atitudes.
É certo que algumas vezes o outro nos fere, mas muitas vezes ele não sabe o quanto nos magoa, pois não sabe o que estamos vivendo. As relações, hoje em dia, estão bastante fechadas e o diálogo é empreendido de uma forma bastante sutil e protetorora. É uma contradição: queremos nos proteger, não permitindo ao outro nos conhecer e assim não há como o outro saber como não nos magoar. O resultado é : ou nos isolamos ou estabelecemos relações superficiais. Ambos, não satisfazem nossa necessidade humana de existir em relação com o outro e no outro.
Voltando ao humor...
Em estados muito angustiantes, uma palavra, um esclarecimento, pode não se ser suficiente. Mas, ajudar alguém lhe indicando que sua percepção dos fatos é errônea e calcada na sua angústia, não é uma tarefa difícil e pode fazer com que a pessoa reveja a interpretação negativa pré-concebida.
Dizer o que pensa do outro não é “jogar confete”. É lhe dar a oportunidade para que valorize a si mesmo e reconheça sua importância e suas capacidades, principalmente a capacidade de ser amado. É ainda, permíti-lo ver um mundo acolhedor e seguro, mesmo que algum tempo depois este mundo pareça cruel novamente. Saber que pode contar com alguém, que pelo menos um alguém no mundo o valoriza, dá chance a ele de continuar acreditando e lutando pela felicidade.
É importante nos desapegarmos cada vez mais do sentimento de orgulho, de rancor e de vingança. Destacar o outro nunca deve ser encarado como uma diminuição de nós mesmos. Cada um tem seus espaço e seu brilho próprio.

Comecei dizendo que a mudança de humor não depende de acontecimentos extraordinários...No entanto, os relacionamentos humanos estão cada vez mais mimetizados, subtraídos. Se hoje é raro recebermos e darmos um elogio, incentivar nossos parentes e amigos, dizermos como são importantes para nós, talvez tenha me equivocado ao dizer que nada de extraordinário deva acontecer. É extraordinário por sua raridade, mas depende apenas de reaprendermos a seguir a voz do coração...

segunda-feira, outubro 10, 2005


Palavras extremamente levadas a sério

Toda criança ouve os adultos dizendo para aproveitar a infãncia, pois depois tudo será mais difícil, com menos graça, muitos deveres e pouco tempo. Crescem já angustiadas com aquilo que as esperam, temendo a passagem do tempo e às vezes até deixando de aproveitar o momento que estão vivendo...
Os mais velhos aconselham-nas pensando que estão ajudando sem perceber que podem estar criando seres humanos com medo da maturidade. O corpo cresce, mas o “espírito” pode continuar preso à infância como forma de não perder a felicidade, o “tempo bom da vida”. Aparentemente todo adolescente quer logo se tornar adulto. Muito realmente desejam a liberdade adulta porém não são poucos os que gostariam voltar no tempo depois dos vinte anos. Atualmente, a adolescência é o modelo da felicidade! Incentivar a criança e o adolescente aproveitarem a vida não é o mesmo que lhe imputar o temor do futuro.

Semelhante conselho ouvimos quando iniciamos um namoro. Amigos dizem para aproveitarmos os primeiros meses, pois são os melhores. Depois, tudo muda...Isto apavora!!! Como viver aquele momento quando sabemos que ele irá se transformar em algo de que pouco se fala bem? Pouco se celebra e muitos reclamam? Como viver com medo de se tornar um saudosista da paixão? Não se pode negar que o começo de um relacionamento é mágico, maravilhoso! Deixa-nos embriagado e sem rumo, consome-nos inteiramente. Não é exagero dizer que vemos as estrelas... Mas que tudo isso passe é natural: não conseguiríamos viver neste frenesi eternamente, não sobreviveríamos. Depois da paixão, se o relacionamento continuar, vem o aconchego, o compromisso, o carinho, a tranqüilidade (?) de amar e ser amado. Somente depois que o encanto embriagado se desfaz, podemos conhecer o outro, descobrir se “podemos” amá-lo ou se tudo não passou de um sonho, uma ilusão de nossas necessidades emocionais.
A paixão tem que ser vivida por completo, sem o temor de que ela se acabe. Esta angústia pode nos impedir de dar um passo além, enxergar o outro, tirar a máscara da ilusão e por que não, viver um grande amor?
A infância e a adolescência também devem ser vividas plenamente, como momentos singulares da vida de cada um. Porém, a perspectiva de um futuro cheio de novas aventuras deve sempre ser encorajado. Viver aquele momento sabendo que o próximo tem suas vantagens, faz com que sejamos adultos sem amarguras, conservando-se aquilo que de melhor tínhamos anteriormente, alegria e esperança. Não é mais gostoso enfrentar a responsabilidade e a rotina cotidiana olhando o mundo como algo constantemente a ser descoberto e contemplado?