Mafalda


quarta-feira, agosto 10, 2005



Amor

O Amor, no início, é um deslumbramento. Sentimo-nos como se estivéssemos renascendo e nada anterior a isto parece ter sentido. Ao mesmo tempo, sente-se aquele "medinho" de que esta sensação passe da mesma maneira que apareceu: subitamente. Parte desta sensação realmente passa. Mas o "medinho" vai com ela. E o que fica, quando aquele sentimento não é mera ilusão, é pleno, seguro e contínuo. É óbvio que tem seus altos e baixos, momentos de raiva e desespero, mas quando a calmaria chega sentimos que o amor ainda está ali, às vezes, mais forte, mais compreensivo, mais amante... Ultimamente, as letras de música que se propõem a cantar o Amor têm me feito refletir. Muitas delas falam de um desejo de um amor que ainda não se realizou. Outras relatam um amor perdido, desilusões e resignação. Saudade, às vezes. Porém, poucas relatam o amor que está sendo vivido intensamente, presente e feliz. Assim, pode-se dizer que as músicas pouco falam de amor. Falam de paixão. Daquilo que nos faz fazer loucuras! Cantam projetos, esperanças e sonhos que temos em relação a alguém. Cantam a ausência de quem já não está mais ali.
As letras de música, a minha vida e outras histórias de amor levam-me a pensar que é mais fácil falarmos daquilo que não está presente. Discorrer sobre o amor, quando se vive o amor, é uma tarefa penosa. Amando, tudo o que nos falta torna-se supérfluo, não incita a inspiração do “poeta-compositor”. Pois, enquanto estamos amando, não sabemos mais o que é carência ou solidão: o Amor é tão simples como "um samba de uma nota só".



Divagações de uma alma momentaneamente livre
Viver já é complicado, imagina conviver!!! Ás vezes, não nos suportamos. Queremos quebrar o espelho...mas aí lembramos que ainda continuaremos intactos, com nossas rugas, nossos medos, nossas lembranças, nossas exigências, nossas frustrações, sonhos, afetos e desafetos. Viver é um desafio que nos fora imposto sem que tivéssemos escolha. (Sorte daquele que ao viver tem muito para fazer e muitos recursos para isso...). Fazer. Realizar. Ser. Escolher. É difícil falar em liberdade, pois ela pode ser apenas ilusória. Ser Livre talvez seja apenas o fato de reconhecer que nessa vida ninguém é livre...Idéias, idéias, idéias...Será que há sempre uma idéia anterior? Será que a originalidade está condenada à reprodução?
Digressões...Estou me estendo e fugindo do meu propósito inicial: a arte de conviver. Poxa, será que isso é tão difícil? Tudo está entrelaçado: Eu e o Outro; Eu no Outro; o Outro em Mim. Se eu me colocasse no lugar do Outro cada vez que pensasse em disparar uma crítica, os desentendimentos seriam bem menos freqüentes. Mas, se eu pensar que eu não faria o que Outro faz para me atingir (intencionalmente ou não), este "mandamento" aparentemente simples se complica e se torna difícil de ser praticado. È óbvio que se todos pensassem no Outro antes de qualquer ação, principalmente as ofensivas, a humanidade não seria a mesma! Mas, quando a lei é esta apenas para alguns, vira covardia!
Evidentemente, o ser humano gosta de um conflito. De alguma forma isso o move. Somente um ser humano perfeito (não seria uma contradição?), em paz consigo mesmo, rejeitaria qualquer forma de disputa...Pois é, somos reflexos do meio...somos aprisionados por ele. Será que Tookie (Stanley Williams, cuja vida foi retratada no filme "Redenção" e motivador desta minha regressão, aparentemente desconexa) teria se redimido fora da prisão? Ele precisou de muitos anos de isolamento. Inicialmente, a violência foi sua forma de sobrevivência. Na solitária, necessitou da redenção para suportar viver. Nas ruas, provavelmente, ele continuaria preso ao seu "destino" de gângster. (Obviamente, nem todos que estão numa situação semelhante, realiza feitos louváveis como Tookie. Não somos marionetes nas mãos das circunstâncias, ainda acredito que podemos escolher o que seremos a partir daquilo que nos é dado e para mim este foi o grande "insight" de Tookie)
Precisamos de tempo para refletir, para fazer algo importante, relevante. Somos fruto da sociedade que criamos. Nos perdemos em meio ao ritmo frenético inventado por nós. E agora ele nos controla. Estamos cada vez mais presos e tentamos insistentemente negociar nossa liberdade, compra-las de nós mesmos, do MONSTRO chamado sucesso ou status ou dinheiro. Somos escravos de uma arbitrariedade que um dia pensamos que nos proporcionaria o paraíso. Estamos cegos! Vendemos aquilo que não tem preço, imensurável. Queríamos conquistas e apenas conseguimos nos cercar. Em busca da liberdade, nos tornamos medíocres, fracos e delirantes. A liberdade está aonde a esquecemos. Longe da rotina, longe do trabalho, longe da ganância, longe do sucesso.
Ás vezes, sinto-me livre como, às vezes, sinto-me feliz. Aliás, felicidade só existe quando estamos (ou pelo menos nos consideramos) livres. Estranhamente, quando me sinto livre, lembro-me de minha prisão: tenho que trabalhar, ter dinheiro, se alguém nesta vida (e o pior é que só tenho esta). Sinto-me alguém no momento em que não sou ninguém para o "padrão de uma mulher de 26 anos graduada em psicologia": quando escrevo, quando penso, quando rio, quando namoro, quando vejo filmes, quando converso, quando brinco com crianças...Minha angústia não vem do fato de eu estar formada há mais de um ano e não fazer algo útil – que dê dinheiro - com meu diploma. Sinto-me sufocada por que o mundo me cobra realizar algo rentável, o que já está carimbado no meu ser, fazendo-me sentir uma culpa e uma impotência enorme! Não me queixaria desta vida...mas, estou dizendo bobagens. Tenho que viver! Tenho que ter dinheiro! Tenho que produzir! Tenho que comprar minha liberdade! Tenho que me aprisionar e sentar na Sala de Jantar! TIM TIM!!!