"A livre criação muitas vezes não está onde se supõe: adquire força ao se infiltrar nos interstícios das proibições, das exigências, dos imperataivos exteriores, para neutralizá-los" (Jorge Coli)
sexta-feira, março 19, 2010
Ele tinha todo o tempo do mundo
Estou abalada. "Vida louca, vida breve...". Era como se fosse alguém que eu conhecia há muito tempo. Um luto repentino. Ele era jovem. Ele só tinha 18 anos. Sei pouco sobre sua vida. Mas lembro-me de seu sorriso acanhado. E sei que era querido pelos amigos. Ele era divertido e, como um de seus amigos, envolto em lágrimas, definiu "era um moleque da hora". Era o "Colômbia". Sua imagem não me sai do pensamento: ele sentado no chão, no atendimento em grupo; ele na aula de street dance.
Imagino seus últimos momentos: ele sofreu longe da mãe. Penso e isso dói! Mas havia um homem bom ao seu lado, que o acolheu, que segurou sua mão como se fosse seu filho. É um consolo saber que havia um rosto conhecido para confortá-lo.
Durante todo o dia, era como se o trânsito não fizesse barulho. Era como se as pessoas falassem e não emitissem som. Havia um silêncio enorme dentro de mim. `
Sinto por sua vida precocemente interrompida. Sinto por aquela mãe que batalhava para estar com o filho. Ela não pôde dizer adeus...
Acabo por aqui, meu sentimento não se deixa mais ser dito.
Descanse em paz, Elton!
domingo, março 07, 2010
Angústia de fumante
Naquela época, não era proibida publicidade televisiva na TV e a restrição no horário de vinculação estava apenas começando. Nas novelas, os personagens fumavam à vontade. Lembro-me da personagem de Fernanda, de Christiane Torloni, em "Cara & Coroa", tragando charmosamente... Eu e minha amiga tentávamos imitá-la.
Olhando para trás, penso que comecei a fumar por contravenção. Eu fazia tudo certo até aquele momento. Era aluna dedicada e tímida. Mas ao mesmo tempo não me identificava com os hábitos, gostos e valores da turma escolar. Precisava extravasar. Mas não fazia o tipo revoltada. Tudo estava bem escondido. Eu não queria ser comum. Fumar era uma forma de dizer que eu não era o que aparentava ser.
Não me lembro quando adotei o Marlboro vermelho. Lembro-me que no primeiro ano de fumante, estava no maior evento da cidade do Peão e meu pai quase me flagrou fumando. Era Marlboro vermelho.
15 anos depois, ainda fumante, sofro. Não por não conseguir deixar o vício, pois até o momento não tentei. Sofro com a Lei Anti-fumo, sofro com a discriminação. Não posso mais tomar uma cerveja e tragar. E só quem fuma sabe como é chatíssimo deixar a mesa e a conversa e se dirigir a calçada. Só quem fuma sabe que o cigarro assim fumado não satisfaz.
Só quem fuma entende o incômodo de se ouvir conselhos cotidianos sobre os males do maldito e profecias de morte. E se isto nos irrita, precisamos nos controlar, uma vez que sempre falam para o que consideram nosso próprio bem.
Sei que sou dependente( e como sou!) Não pela quantidade fumada, mas pelo lugar que o cigarro ocupa na minha vida. Pelos hábitos vinculados ao vício: como chegar do trabalho, deitar na cama e acender um Marlboro ou como escrever fazendo o mesmo.
E também, infelizmente, como sinto-me desmotivada a sentar numa mesa de bar com os amigos ou frequentar outros ambientes em que igualmente terei que me excluir para fumar.
Compreendo o direito dos não fumantes de não aspirar a fumaça venenosa. Já fui deste grupo e não gostava nada quando parentes fumavam no meu quarto de criança!
Mas se hoje a publicidade de cigarro é proibida na TV é porque é reconhecida sua influência. Hoje sabem como o fumante passivo é prejudicado e por isso fizeram uma lei radical.
Há 20 anos, embora se conhecesse os males do cigarro, a discriminação contra os fumantes era irrisória. E Ayrton Senna corria com o uniforme do Marlboro. Se alguém se incomodasse com um fumante no restaurante, que se retirasse.
Se eu pudesse voltar no tempo, não teria jamais experimentado um cigarro. Gostaria de ser como os outros, como os não fumantes. Pretendo parar de fumar, mas ainda não me sinto pronta para a batalha. Enquanto isso, fumo com o prazer e a dor que só os fumantes compreendem.
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