
Parece que estamos diante do filme de terror "A Volta dos Mortos-Vivos": nas reportagens de TV ou nas ruas, os "nóias" (gíria das ruas para usuário de crack) são sujos, magros, sem dentes e sem caráter...
O que ainda leva alguém a experimentar o crack? Que o crack é prazeroso é fato Mas mesmo quem não tem acesso à informação, aquele que já está nas ruas, conhece a devastação progressiva da droga. Como não pensar nas consequências ao dar o primeiro trago?
Vejo o desespero, seja o desespero pela falta de comida, dinheiro, perpectivas de emprego ou o desespero existencial, como motivador do uso do crack Penso também que alguns acreditam ter o controle de sua vontade e experimentam para saber qual é o barato: o problema é que poucos usam apenas uma vez e o crack vicia rapidamente. É como um tiro no escuro e quem acredita não ter muito a perder, resolve arriscar.
Poderia dizer também que por trás da busca pelo crack há um desejo de morte. No entanto seria simplista. Muitos que usam a droga o fazem por não suportar o cotidiano, ou seja, não é que desejam não viver, apenas querem outra vida e conseguem por alguns breves minutos. Se inconscientemente anseiam a morte, não sei dizer. Mas acredito que nós todos queremos satisfações imediatas, só que por diversos zaões somos capazes de algumas vezes adiá-las (digo "algumas vezes" porque muitos de nós já fizemos loucuras por não tolerarmos esperar).
A verdade é que me causa tristeza ver um jovem entregue ao crack. Como prevenir? Embora haja usuários de classe média-alta, a maioria é das classes menos favorecidas: pessoas que já tinham pouco e agora não tem nem dignidade, não tem alma, são como zumbis. A resposta é aquela de sempre:educação, saúde, diversão e arte! Pois só assim teremos pessoas com autoestima suficiente e razões para acreditar que a vida vai melhorar.
E como tratar os dependentes? Muitas vezes a internação não tem sucesso, muitos reincidem no uso após meses reclusos. Penso que é preciso qualificar o tratamento ambulatorial de usuários.Li recentemente sobre um tratamento experimental onde usuários de crack fumam maconha para abrandar a fissura, aliado com psicoterapia, e obtiveram êxito no abandono do vício de crack e, progressivamente, também da maconha. No entanto, a universidade onde tal experimento foi realizado tem encontrado resistência governamental porque a maconha é ilegal. Sempre fui contra a legalização da maconha, no entanto, não podemos nos dar ao luxo de radicalismos diante da epidemia do crack. Apenas quem não tem discernimento sobre as diferenças entre as drogas e seus danos, não concordaria em substituir o vício do crack pelo da maconha. É um caminho.