Mafalda


terça-feira, setembro 16, 2008

Filosofando a partir de Boff
Recentemente, tive em minhas mãos um texto de Leonardo Boff, contendo o seguinte trecho “cada um (...) compreende e interpreta a partir do mundo que habita”. Desde então venho pensando constantemente nesta idéia e seus desdobramentos.
Se toda vez que fôssemos julgar a atitude alheia, atentássemos para o fato de que nossa observação carrega toda nossa vivência pessoal, certamente seríamos, no mínimo, ponderados. No entanto, geralmente consideramos nossas crenças, verdade absoluta, obstruindo assim a possibilidade de uma relação empática com o outro.
Abro aqui um parêntese para me arriscar no campo da fenomenologia, aprofundando a idéia inicial: não conhecemos o mundo em si, ou seja, o que sabemos sobre o mundo é o resultado de nossa experiência subjetiva. Em outras palavras, não temos acesso à realidade objetiva: percebemos o que foi apreendido por nossa consciência. Desta forma, poder-se-ia argumentar ser impossível compreender o outro, no entanto a intersubjetividade acontece, existem experiências universais, pois se assim não fosse qualquer relacionamento humano seria inconcebível.
Quando tomamos ciência de que nossa apreciação dos acontecimentos é realizada através de nosso histórico biopsicossocial, damos o primeiro passo para ter acesso à subjetividade alheia. Pois, se conhecemos o que nos leva a pensar e agir de determinada maneira, podemos distinguir e considerar a realidade do outro.
Acrescenta-se ainda que só transformamos nossa própria realidade se nos permitirmos novas experiências. Entretanto, de nada vale acumular conteúdos se estes não provocam mudanças naqueles já existentes.
Quanto mais deixamos a história do outro infiltrar na nossa, mais ampliamos nossa subjetividade. E, consequentemente, efetivamos a intersubjetividade: o mundo que cada um de nós habita torna-se maior e mais áreas de intersecção são desenhadas.