Mafalda


quarta-feira, fevereiro 22, 2006




O invisível

Crianças vêem com o coração e captam o essencial. Isso não é uma idéia minha, é de Saint-Exupéry com o seu Pequeno Príncipe. Relendo depois de alguns anos esta obra, fiquei maravilhada: encontrei-me ali no diálogo entre o aviador e o menino de cabelos de ouro. Achei a resposta à indagação que às vezes me faço do porquê eu gostar tanto de estar com crianças, de brincar com elas.
Passei a maioria das horas deste fim de semana com minhas sobrinhas gêmeas de quatro anos e meio e me emociono só de olhar para as fotos delas. Sinto uma saudade imensa!!! Elas me cativaram assim como o aviador foi cativado pelo Pequeno Príncipe. A imagem delas está para mim como as estrelas estão para o aviador: são risos.
Crianças vêem aquilo que os adultos não conseguem, admiram aquilo que eles acham banal. Às vezes, eu me sinto só, pois me encanta justamente o que ninguém vê. Mas minhas sobrinhas riem e me fazem feliz também. Como é gostoso me divertir com elas brincando de batata quente: gargalhada toda vez que alguém é “queimado”. E se ganham o jogo comemoram não simplesmente por terem vencido mas principalmente por que terão a oportunidade de comandar a brincadeira: “batata quente, quente, quente...queimo!” Falam com a emoção de quem rege uma orquestra!
Elas se espantam com detalhes: “Tia Ná, olha o tamanho do caroço da Lu!”, disse a Laura se referindo à clavícula da irmã que se sobressaía quando ela mexia os bracinhos...Dei risada e mostrei-lhe a minha. E isso já virou uma brincadeira, pois a Laura quis exibir o “caroço” dela também! A inocência nos permite contemplar a simplicidade. Como é bom ver com os olhos infantis!
Quando sou cativada por uma criança (para isso acontecer basta que eu passe algum tempo com ela), a beleza do invisível aparece: o que me faz sentir diferente, às vezes até fora da normalidade adulta, permite que eu me sinta plena. Posso rir e fazer feliz aquela “pessoinha” sem muitas explicações: um saco plástico fazendo barulho já a deixa entusiasmada!
Sinto-me responsável: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” – disse a raposa ao Pequeno Príncipe. Essa responsabilidade me agrada, pois me faz sentir inteira: adulta sem abandonar os olhos infantis. Posso continuar vendo com o coração...